Nairóbi, Quênia, 29/1/2013 – Poucas mulheres têm esperanças de ocupar um posto no governo do Quênia. A discriminação, as ameaças e as intimidações converteram a política em um campo minado para elas. Apesar de ter adotado uma nova Constituição com maior sensibilidade de gênero em 2010, cujo Artigo 81 determina que não mais de dois terços dos membros dos órgãos eletivos públicos sejam do mesmo gênero, os partidos dominados por homens continuam deixando pouco espaço para as mulheres.
Antes, elas podiam se candidatar a cargos em três instâncias no governo: Presidência, parlamento e conselhos locais. A nova Constituição permite que se apresentem para muito mais cargos nas eleições deste ano, no dia 4 de março. Porém, “o ambiente não é favorável”, disse à IPS a líder política Hamisa Zaja, da província Costera. “As mulheres continuam sendo atacadas por seus oponentes masculinos”, acrescentou.
Quando Vesca Kangongo se candidatou a governadora de Uasin Gishu, condado da província de Vale do Rift, seus rivais prometeram que o cargo seria ocupado “por qualquer um, menos uma mulher”. Zaja explicou que, além da atitude negativa da sociedade para a liderança de mulheres, os recursos necessários para lançar uma campanha competitiva excluem muitas da disputa.
“Me retirei da corrida para governadora do condado de Mombasa por parte do Movimento Democrático Wiper porque não tinha a força econômica necessária”, afirmou Zaja. Para se candidatar por esse partido, ela tinha que pagar o equivalente a US$ 1.700, uma grande quantia em um país onde, segundo o governo, o salário mensal médio é de US$ 250. “Isto além do dinheiro necessário para manter uma campanha efetiva, conseguir veículos, pagar combustível, publicidade, etc.”, disse Jacky Mwaura, agente de campanhas.
Quando a candidata presidencial Martha Kaura, da Coalizão Nacional do Arco-íris, anunciou que seu patrimônio era de US$ 64 mil, muitos se surpreenderam por ela ter sustentado sua campanha, considerando que seus adversários manejavam mais de US$ 90 milhões. “O dinheiro para as campanhas no Quênia vem principalmente da riqueza pessoal”, disse à IPS o analista político Peter Otondo. “Embora importantes figuras políticas organizem jantares para arrecadar fundos, isto é feito, em geral, para enganar os eleitores e mostrar-lhes que são transparentes e responsáveis”, acrescentou.
No entanto, mesmo aquelas mulheres que podem pagar as caras cotas partidárias devem enfrentar um monte de obstáculos. “As mulheres candidatas enfrentam muitos desafios em todo o país, só para perder a candidatura final”, disse à IPS uma funcionária do condado de Mombasa, que não quis se identificar. “A maioria das pessoas aqui conhece Alice Maitha, mulher do ex-parlamentar Kharisa Maitha, que ganhou uma candidatura para o Senado pelo Partido da Aliança Nacional”, contou.
A funcionária disse que Maitha inicialmente era simpatizante do Movimento Democrático Wiper, e inclusive pagou a cota de US$ 1.700 para ser candidata ao Senado. “Mas, no último minuto, o partido lhe informou que não contava com o nível financeiro adequado e que o Senado não é para mulheres”, disse à IPS. Mas Maitha não desanimou. Rapidamente uniu-se ao Partido Aliança Nacional, onde pagou outros US$ 2 mil para se candidatar, e assim conseguiu entrar na lista do partido. Contudo, suas dificuldades não terminaram. Segundo a funcionária que falou com a IPS, Maitha desde então está sob intensa pressão para “vender” sua cadeira a um legislador homem.
O propagado uso da violência, que se tornou prática comum na política queniana, é outro sério fator de dissuasão para a participação feminina. Há poucos dias, uma funcionária eleitoral morreu devido aos ferimentos que recebeu durante enfrentamentos entre grupos rivais nas últimas eleições internas dos partidos. “As mulheres se afastam da violência”, disse à IPS John Ndeta, coordenador de mídia do projeto Iniciativa para a Paz no Quênia.
Segundo Ndeta, embora a Constituição diga que pelo menos um terço da Assembleia Nacional, isto é 117 de 290 membros, sejam mulheres, estas devem percorrer “um caminho espinhoso” para chegar lá. Além disso, por razões culturais, “os homens podem fazer campanha à noite. Não se espera que uma mulher faça isso. A aspirante vai dormir pensando que seu posto no partido é seguro, mas no dia seguinte acorda diante de uma nova realidade”, observou Zaja.
As mulheres que desafiam essas tradições enfrentam ameaças de violência física e sexual. A falta de instrução também continua marginalizando as mulheres que aspiram um cargo político. Uma das líderes políticas mais populares do país, Margaret Wanjiru, teve sua candidatura excluída de seu partido por não ter diploma universitário. Wanjiru, subsecretária de Habitação, sempre fala publicamente das dificuldades que passou como mãe de três filhos. “Antes de ser desqualificada, ela era a única mulher candidata na corrida para governador, e tinha um grande número de seguidores”, afirmou Otondo. Envolverde/IPS