Equipamento desenvolvido pela EESC mede o grau de proteção dos óculos escuros de maneira rápida e fácil.
O verão se foi e o clima nublado já revela que a estação mais gelada do ano está por vir. Mas, mesmo no inverno, os perigos da radiação solar continuam afetando nossa pele e olhos. Um protetor solar traz em sua embalagem o grau de proteção contra os raios ultravioletas e assim, o consumidor sabe com exatidão o quão vulnerável sua pele está. Mas e os óculos escuros? Como saber se eles protegem? Para esclarecer essa dúvida, a Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) desenvolveu um equipamento que mede o grau de proteção dos óculos de sol.
Segundo a Receita Federal, de 2005 a 2010, foram apreendidos cerca de 35 milhões de óculos escuros falsificados em todo o país. Nesse último ano, o produto foi o quarto item mais apreendido. Do total de itens retidos, 0,26% foram leiloados. Ou seja, apenas 90 mil tinham proteção adequada contra raios ultravioletas. Se não fossem apreendidos, seriam comercializados 34.910.000 produtos ineficazes e danosos à saúde dos olhos.
“É mais perigoso usar óculos sem proteção do que óculos algum.” Esta é a constatação da professora Liliane Ventura, do Departamento de Engenharia Elétrica da EESC, que por meio do Laboratório de Instrumentação Oftálmica desenvolveu o chamado Display de Autoatendimento para Verificação de Proteção Ultravioleta em Óculos de Sol. O nome é grande, mas a ideia, muito simples: o usuário coloca seu produto num determinado local da máquina e esta, depois de uma breve análise, mostra em sua tela qual é a cor das lentes e se sua proteção está adequada.
Liliane conta que a ideia surgiu após suas experiências no Inmetro. Em 1996, ela realizou uma série de experimentos no Instituto para determinar as normas brasileiras de proteção. As medidas eram realizadas por equipamentos muito caros e que só poderiam ser manuseados por especialistas. “Foi daí que eu tive a ideia de fazer um equipamento para uso público”, ela revela.
A proteção, diz a professora, varia de acordo com a cor da lente, numa escala de zero a quatro. Lentes de categoria zero são muito claras. Já as lentes de categoria quatro são mais escuras. Quanto mais escuro, mais proteção elas devem fornecer. Isto acontece porque em ambientes claros a pupila dos olhos, naturalmente, se contrai e deixa passar pouca luz, preservando-se. “É a nossa proteção natural”, explica a professora. Já em ambientes escuros, a pupila se dilata e mais luz entra em nossa retina. Se a proteção não for maior, os olhos ficam vulneráveis à radiação ultravioleta e o mecanismo natural dos olhos é anulado.
Os raios ultravioletas não são percebidos pelos sentidos humanos, mas oferecem riscos à saúde da pele e dos olhos. Esta radiação é dividida em três categorias, de acordo com sua frequência e apresentam nocividades distintas. As divisões são: UVA, UVB e UVC, sendo que a radiação UVA é a menos danosa e a UVC, a mais. Essa última faixa, entretanto, não chega à superfície da Terra e por isso não apresenta riscos. Por isso, as lentes escuras oferecem proteção contra raios UVA e UVB apenas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que a exposição constante a esses raios pode causar uma série de doenças aos olhos como fotoqueratite, fotoconjuntivite, pterígio e, em situações extremas, catarata. Em todo o mundo, entre 12 milhões e 15 milhões de pessoas ficam cegas anualmente por causa dessa última doença. A OMS estima que 20% desses casos são causados ou agravados pela exposição ao Sol.
O display de Autoatendimento para Verificação de Proteção Ultravioleta em Óculos de Sol é o primeiro projeto do tipo desenvolvido no Brasil. O equipamento encontra-se disponível para uso público no Departamento de Engenharia Elétrica, em São Carlos. “O software é muito simpático e fácil de compreender. Quando alguém passa perto, ele chama para que o utilizem. Há um projeto para levá-lo para o Rio de Janeiro e para a Paraíba. Também queremos levar exemplares para todos os campi da Universidade de São Paulo (USP) no próximo ano”, relata a professora.
* Publicado originalmente no site da revista Espaço Aberto.