A nova economia veio para ficar, as relações de SER do ser humano vão conduzir esse processo e a sustentabilidade vai ser a referência para o desenvolvimento. Nenhum outro evento foi tão impactante, em todos esses sentidos, como a Rio+20. O presente e o futuro socioeconômico, principalmente do Brasil, estavam ali de corpo e alma. Quem tiver qualquer relação com o mercado de trabalho ou educação precisa, urgentemente, beber dessa fonte. Mas se a Rio+20 foi tudo isso por que a maioria das pessoas não está sabendo disso?
Rio de Janeiro, manhã do dia 23 de junho (sábado), um grande amigo me pergunta se vi a manchete do jornal O Globo, principal jornal do Rio. Naquele instante pensei no desafio que a editoria teria para escolher dentre as centenas de encontros maravilhosos do dia anterior ou um fechamento, com “chave de ouro” do maior e melhor evento sobre a humanidade dos últimos tempos e principalmente sobre o foco dos recursos humanos diante do desenvolvimento sustentável. Quando segurei a capa do jornal, entretanto, não consegui acreditar no que via: “Paraguai cassa presidente e pode ser expulso do Mercosul.” Aquilo não podia ser verdade! Fiquei com muita vergonha! Uma vergonha alheia, que dói! Como isso foi acontecer? Os responsáveis serão expulsos do jornal? Do Rio? Do Brasil? Ainda atônito, recebo o jornal do dia anterior, sexta 22, principal dia da Rio+20 e a manchete … “Impeachment relâmpago pode cassar presidente do Paraguai”. Que mídia é essa? No dia seguinte voltei para casa e comecei a encontrar com pessoas que se surpreendiam quando lhes relatava alguns dos momentos extraordinários da Rio+20. Os comentários eram de que achavam que não tinha sido tão bom. Houve até alguns que chegaram a acreditar que foi um fracasso. Matrix? O episódio do jornal é bem simbólico para ilustrar o que está acontecendo. Não se deixe enganar: a Rio+20, como um todo, foi um tremendo sucesso.
O que lamentavelmente não funcionou, mas já amplamente esperado, foi a direção da ONU e do governo brasileiro. O importante é que isso não representou mais do que 1% do que foi a Rio+20. A ONU vem sendo protagonista de inúmeros fracassos e negligências aos direitos humanos que fundou essa instituição. Vexames como os casos recorrentes de abusos das tropas de ocupação nos países “necessitados” ilustram a atual ineficácia da ONU. O governo brasileiro vem, sistematicamente, tomando decisões contrárias à sustentabilidade. Da vergonha que passamos com o Código Florestal (essa mancha ficará para sempre na História) à redução das Áreas Protegidas e do entorno dessas Unidades de Conservação deixam claras suas intenções. Por isso não deveria haver expectativas de que se produziria algo de útil. O resultado foi um retrocesso que nos leva para os anos anteriores a 1987 onde se firmou os objetivos no relatório de Brundtland (nosso futuro comum). O ato simbólico desse disparate foi a nossa presidente adiar a data do evento de 5 para 20 de junho. Foi em 5 de junho de 1972 que se fez a primeira conferência da ONU (Estocolmo) e partir daí essa data se transformou no dia mundial do meio ambiente e data das próximas conferências. A Eco 92 foi nessa data, a Rio+10 (Johanesburgo) também e a Rio+20 deveria ter sido. A razão da mudança, aparentemente, foi por causa do aniversário da coroação da Rainha Elizabeth… pode? Fica ou não fica clara a importância que o nosso governo deu a esse evento. Mesmo tentando desmobilizá-lo de todas as maneiras não conseguiu. A principal razão foi que os líderes: empresariais, economistas, da sociedade civil, do terceiro setor, educadores, cidadãos, artistas, das ONGs, ativistas e personalidades do mundo inteiro aderiram ao chamado da Nova Economia e fizeram centenas de encontros, palestras, workshops que resultaram no maior e melhor evento sobre Sociedade, Economia, Política, Negócios, Educação e Sustentabilidade do mundo. Esse foi o maior evento da ONU. O Rio de Janeiro ficou lotado de cidadãos do mundo todo e, pela primeira vez, não foi por causa do carnaval nem do futebol. Como é possível acreditar que… “não foi nada”?
Fábrica de conteúdo
Pessoalmente, nunca aprendi tanto em tão pouco tempo e terei ainda muitos meses pela frente para ver, ouvir, ler, conversar e absorver uma pequena parte do que foi a Rio+20. Para cada “preciosidade” que eu participava, havia pelo menos mais duas ou três que estava “perdendo”. Para participar de tudo que vivenciei naqueles dias, teria de viajar pelo mundo todo, por pelo menos uns dois anos. Só na Cúpula dos Povos, um dos principais espaços da Rio+20 havia centenas de palestras, encontros e workshops acontecendo simultaneamente. O Forte de Copacabana (Humanidade 2012) abrigou mais algumas dezenas de eventos e personalidades internacionais. Só o encontro dos prefeitos das Megacidades (C40) já gerou resultados imediatos (foi demais). O Parque dos Atletas reuniu outra centena de protagonistas mundiais com stands, palestras, mesas de trabalhos, workshops e encontros gerativos. A Arena da Barra participou com outras centenas de palestras, conversas, workshops e discussões. Foi uma verdadeira fabrica de conteúdo e inovações. Foi lá que acompanhei as discussões do Instituto Ethos, desdobramento da conferência na semana anterior. Imperdível para todos os empresários! O Instituto Ipê, entre muitas contribuições, apresentou o novo REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) do Earth Institut (Columbia University)… foi sensacional! No Hotel Windsor Barra teve o mais incrível encontro de empresários “Corporate Sustainability Forum” que deixou claro que sustentabilidade não é só para os grandes, mas para toda cadeia produtiva. Ou seja, afeta todo e qualquer negócio. Surpreendeu pelo número de participantes. O Rio Centro teve mais de 50.000 inscritos! Aconteceram centenas de sessões, diálogos, palestras, mesas de trabalho e workshops. Estava todo Mundo lá! Aquele vexame gerado pelo encontro dos chefes de estado e as reuniões preparatórias tiveram pouca importância frente a todo resto que ocorreu no Rio de Janeiro. Além de tudo isso teve também centenas de eventos paralelos, como o do Rotary Club, realizados pela cidade toda.
Vi e ouvi pessoas absolutamente maravilhosas como Ignacy Sachs, Ricardo Young, Mario Mantovani, Aron Belinky, Oded Grajew, Don Melnick , Vandana Shiva, Marina Silva (https://vimeo.com/44634884), Neca Setubal, Valter Behr, Virgilio Viana, Leonardo Boff, Ricardo Carvalho, Jeffrey Sachs, Alexandra Reschke, Guilherme Leal, Eduardo Rombauer, Edgar Gouveia Junior e muitos, muitos outros!
Portanto, apesar da mídia, acredite que a Nova Economia veio para ficar, as relações de SER do ser humano vão conduzir esse processo e a sustentabilidade vai ser a referência para o desenvolvimento. Entender claramente esses três princípios é uma questão de sobrevivência para quem tem um papel no mercado de trabalho.
* Alan Dubner é conectado com mídias sociais, educação para sustentabilidade e pensamento sistêmico.