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A terra brasileira agora dá gás para se respirar melhor

Rio de Janeiro, Brasil, 20/7/2012 – As reservas de gás natural descobertas no Brasil abrem uma nova fronteira energética, mais sustentável do que outras fontes tradicionais, como o petróleo ou o carvão, afirmam especialistas e ambientalistas. As jazidas são tantas e com tamanho potencial de produção que, segundo a diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Magda Chambriard, em lugares com as bacias de Parecis, no Mato Grosso, e de São Francisco, em Minas Gerais, o gás “chega a fazer borbulhas”, em um fenômeno chamado “exsudações”.

“Em determinados pontos, como na Pequena Buritizeiro, em Minas Gerais, a água que brota da terra pode ser acessa com um fósforo”, disse Chambriard em entrevista publicada no jornal O Globo, para mostrar o que alguns consideram uma “revolução energética” no Brasil. O entusiasmo da diretora da ANP se baseia em estudos geológicos realizados por essa agência reguladora, os quais estimam que as jazidas de gás natural em bacias terrestres sedimentares se estendem praticamente de norte a sul do país.

Segundo o Ministério de Minas e Energia, essas reservas podem passar da atual oferta de 65 milhões de metros cúbicos diários para 300 milhões até 2025/2027, mas garantindo a autossuficiência do país dentro de cinco anos. Atualmente, o Brasil importa da Bolívia entre 24 e 31 milhões de metros cúbicos por dia.

Os ambientalistas chamam a atenção para um fato não destacado quando se fala do barateamento de custos e de benefícios para o país, o de que a maior parte do gás que é consomido hoje em dia provém de jazidas marítimas associadas aos poços de petróleo. Os ativistas lembram que, por outro lado, o gás natural encontrado em terra firme é menos contaminante do que o outro e, naturalmente, menos do que carvão, petróleo e seus derivados.

Nesse sentido, em grandes volumes, o gás natural das bacias terrestres seria uma alternativa de transição válida para outras fontes limpas e renováveis, como a eólica e a solar. José Goldemberg, físico do Instituto de Eletrotécnica e Energia, da Universidade de São Paulo (USP), não tem dúvidas quanto a isso. “As emissões de dióxido de carbono (CO2) do gás terrestre caem até pela metade quando comparadas com as produzidas pelo petróleo ou pelo gás associado”, afirmou.

“Além disso, não apresenta impurezas por enxofres e partículas, assim, reduzem muito a contaminação local e global”, explicou Goldemberg, que foi secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo e é considerado um dos maiores especialistas em energia e sustentabilidade do país.

Também Roberto Kishinami, conselheiro ambiental de entidades como o Instituto Democracia e Sustentabilidade e a organização Action Aid, disse à IPS que é muito menos contaminante este gás on shore, como é identificado para diferenciá-lo do associado ao petróleo, ou off shore, extraído de poços no fundo do Oceano Atlântico. A emissão de CO2 diminui quase pela metade por unidade gerada de energia quando se substitui o carvão por este gás on shore, destacou.

Igualmente positivo é, por exemplo, que o diesel emite 800 quilos de CO2 para cada megawatt/hora gerado de energia, e o petróleo bruto lança 900 quilos, enquanto o gás natural emite 600 quilos. Kishinami considera que, a partir da comprovação e produção das novas reservas, o caminho seja substituir as usinas termoelétricas, ou desestimular as projetadas, operadas pelos combustíveis derivados do petróleo.

Entretanto, Kishinami entende que a política do governo de Dilma Rousseff não vai nessa direção e que não há garantias de que, por explorar o gás natural, se promova a substituição de projetos de termoelétricas movidas a carvão. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, por exemplo, beneficia com o mesmo índice de financiamento quem instala tanto uma usina a gás natural como uma a carvão, acrescentou.

Por outro lado, os especialistas e ambientalistas enfatizam que, além dos benefícios ambientais, o gás natural será mais econômico e prático em sua utilização porque as jazidas estão mais próximas dos grandes centros urbanos de consumo do que os demais combustíveis de origem fóssil.

No interior do país, poderiam ser substituídas as fontes de biomassa ambientalmente danosas, como a lenha, que contribui para o desmatamento, e o carvão, disse Marco Tavares, da consultora Gas Energy. Contudo, Tavares disse à IPS, como Kishinami, que isso não basta, e afirmou que um planejamento adequado em termos econômicos e ambientais deve contemplar também infraestrutura e incorporação do gás natural como fonte de consumo da indústria.

No momento, o desafio é confirmar as jazidas de gás e começar a produzi-lo. Das áreas potenciais de existência deste combustível, 96% ainda não foram exploradas e a licitação de novas áreas está pendente. Os resultados, segundo o governo, são, de qualquer forma, animadores. Empresas como a brasileira OGX confirmaram reservas em Minas Gerais, Mato Grosso e Maranhão.

Segundo o Balanço Energético Nacional, do Ministério de Minas e Energia, a participação de fontes renováveis na matriz elétrica nacional cresceu de 86,3% para 88,8% entre 2010 e 2011, devido às condições hidrológicas favoráveis e ao aumento da fonte eólica. No resto do mundo essa porcentagem é, em média, de apenas 19,5%. O documento acrescenta que cada brasileiro produz e consome, em média, “quatro vezes menos do que um europeu, nove vezes menos do que um norte-americano e menos da metade de um chinês”.

Analisando a matriz energética brasileira de 2011 setor por setor encontra-se que 81,7% do total gerado corresponde a fontes hidráulicas, 6,5% a biomassa (lenha e bagaço de cana, entre outras), 4,7% a gás natural, 2,7% a nuclear, 2,5% a derivados do petróleo, 1,4% a carvão e outros, e 0,5% a eólica. Por fim, o estudo mostra que, entre 2010 e 2011, foi registrada uma queda de 7,9% na geração termoelétrica, correspondendo 36,9% a biomassa, 25,7% a carvão, 15,4% a nuclear, 14,2% a derivados de petróleo, e 7,8% a carvão em geral. Envolverde/IPS