Rafah, Egito, 9/6/2011 – Ontem foi reaberta a passagem de Rafah, entre Gaza e Egito, após permanecer fechada por quatro dias, apesar de as autoridades do Cairo terem garantido que funcionaria de forma permanente a partir do final de maio. Muitas das pessoas que ansiavam circular livremente entre este país e o território palestino se surpreenderam no dia 4, ao verem que estava fechada. Aparentemente, o fechamento se deveu a discordâncias entre o Egito e o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica), que controla o território palestino.
Inúmeros ônibus e ambulâncias com pacientes formaram fila esperando a reabertura. Em frente ao muro foi colocado um andaime, ao que parece para pintá-lo. É uma “desculpa ridícula para não abrir a passagem”, queixou-se um estudante. A passagem de Rafah é a única forma de entrar e sair de Gaza fora do controle de Israel.
O Egito anunciou a reabertura permanente no dia 28 de maio, após ter permanecido fechada desde junho de 2006, quando Israel impôs o bloqueio posterior à vitória do Hamas nas eleições legislativas. Manter fechada a passagem nesta cidade fronteiriça foi parte da política de Israel e do Egito para deixar o Hamas de mãos amarradas. A medida prejudicou gravemente a economia, pois restringiu a entrada e a saída de mercadorias de e para os territórios ocupados.
A decisão do Cairo de reabrir Rafah foi tomada mais de três meses depois que o presidente Hosni Mubarak renunciou, após 18 meses de protestos maciços contra o regime que encabeçou durante 30 anos. Foi uma iniciativa “muito valente”, segundo Ayyub Abu Shaar, responsável palestino pelo terminal fronteiriço. Além disso, poderá voltar a oferecer trabalho de tempo integral ao seu pessoal.
Uma multidão se concentrou no dia 4 na passagem, gritando “abram, abram, abram”, quebraram o cadeado e passaram para o outro lado. “Não posso ver meu filho de 11 anos morrer diante dos meus olhos”, gritou Mohammad Ali Saleh aos soldados egípcios presentes. A televisão do Egito informou mais tarde que a passagem funcionava, mas só para pedestres, pois os trabalhos realizados “impediam a passagem” de veículos.
Entretanto, funcionários palestinos declararam que a passagem continuava fechada. A polícia afastou das grades as pessoas que esperavam para ir para o outro lado. Naziha al-Sebaji, de 63 anos, espera receber tratamento médico no Egito para um problema em uma das pernas. Deveria poder passar sem restrições, segundo o anúncio feito pelo Egito. “Imploro que abram”, disse a funcionários egípcios. “Irmãos do Egito nos humilharam tanto tampo, não será hora de nos devolverem a dignidade?”, acrescentou Naziha. As pessoas com autorização de residência vencida podem ter problemas para regressar.
Nahed Ashour, de 42 anos, há tempos espera se reencontrar com sua esposa e dois filhos na capital da Jordânia. Espera que o Conselho Supremo das Forças Armadas e seu presidente, marechal Hussein Tantawi, reabram a passagem para sair antes que vença seu visto. As autoridades de Rafah preveem a chegada de milhares de palestinos neste verão para visitar suas famílias. “É nossa terra, nosso lar, onde estão nosso coração e nossas raízes”, disse Ashour.“Nossos familiares idosos também estão ali, queremos voltar”, acrescentou.
“Se é um problema para o mundo irmos ao Egito, ajudem-nos a encontrar uma solução”, reclamou Naziha. “Não me deixem presa sem esperança nem meios para sobreviver”, acrescentou. Muitas pessoas começaram a cancelar suas reservas de voos e consultas médicas. Até ontem, os funcionários não podiam informar quando a passagem séria reaberta. “Foi uma alegria”, disse Naziha, se referindo ao anúncio do Egito de eliminar as restrições para cruzar por Rafah. Envolverde/IPS