Beirute, Líbano, 11/6/2013 – Eram nove horas da manhã quando explodiu uma bomba diante da casa de Hella al-Abtah, no acampamento de refugiados palestinos de Yarmuk, na capital da Síria. Gravemente ferida na cabeça, a menina, de nove anos, foi levada com urgência por seu pai ao Hospital Palestina. Os médicos conseguiram estabilizar Hella, mas não por muito tempo. A falta de suprimentos e os frequentes apagões os impediram de completar os procedimentos de rotina. Finalmente, ela morreu, somando mais uma vítima em razão dos deficientes serviços de saúde no sitiado Yarmuk, onde vivem 125 mil pessoas.
Antes do início da revolta síria, em março de 2011, Yarmuk era o maior acampamento de refugiados palestinos nesse país e o mais movimentado de Damasco, com um dos mercados mais populosos da cidade. Depois se converteu em um campo de batalha em que todos os dias explodem bombas. Até 2012, os acampamentos palestinos permaneceram fora do conflito na Síria, mas agora muitos estão totalmente envolvidos nos combates.
Depois que os combatentes rebeldes se instalaram de forma permanente em Yarmuk, o exército sírio sitiou o acampamento e não deixa entrar medicamentos e nenhum suprimento. O castigo coletivo imposto à população do acampamento, bem como o ataque direto contra pessoas ou organização humanitárias, prejudicou gravemente a disponibilidade de serviços médicos. O único lugar em que os residentes de Yarmuk ainda podem receber cuidados médicos é no Hospital Palestina da Meia-Lua Vermelha.
Os outros dois grandes hospitais foram bombardeados e destruídos por aviões de combate e artilharia, e grande parte de seu pessoal abandonou o acampamento nos últimos quatro meses. A Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA), a principal organização que oferece serviços como educação e saúde, retirou quase a totalidade de seu pessoal desse lugar, devido à deterioração da segurança. Isso deixou a população local com poucos serviços essenciais de saúde.
Médicos, enfermeiras e residentes atendem pacientes no Hospital Palestina apesar dos riscos, mas o bloqueio ao acampamento impossibilita seu trabalho por problemas que vão desde cortes de energia até a falta de sangue e de suprimentos básicos. “Às vezes é impossível atender os pacientes por carecermos dos serviços mais elementares”, afirmou Abdullah Hariri, médico do hospital. Além disso, os centros de saúde que ficam em zonas controladas pelos rebeldes, como o Hospital Palestina, são alvo de ataques com bombas.
“Por causa dos apagões no acampamento, temos que usar geradores elétricos. Mas estes precisam de combustível, e o regime bloqueia sua entrada”, contou Hussam al-Hariri, também médico do Hospital Palestina. “Temos que comprar combustível a preços exorbitantes, mesmo dizendo que não temos posição política”, destacou. Além disso, as forças de segurança ameaçaram e intimidaram pessoal médico em inúmeras ocasiões para que abandonem a missão humanitária.
Os combatentes da oposição tampouco são inocentes, pois abusaram, ameaçaram e extorquiram os profissionais do acampamento, roubaram recursos e combustível do hospital, e até abriram fogo contra o prédio. “Um vez vieram para que entregássemos uma enfermeira, afirmando que ela era colaboradora”, contou um médico do hospital que pediu para ser identificado pelo seu apelido, Abu Hakam. “É uma acusação repugnante quando ela, como nós, escolheu ficar e servir a comunidade”, enfatizou.
Quando o pessoal do hospital protestou e proibiu a entrada dos rebeldes, estes ameaçaram as pessoas com armas, abriram caminho e sequestraram a enfermeira. Embora a tenham libertado após extensos interrogatórios, esse tipo de incidente aumenta a vulnerabilidade dos profissionais que continuam trabalhando em Yarmuk.
Yarmuk se converteu em abrigo de refugiados civis e de combatentes da oposição procedentes dos subúrbios e do campo ao sul de Damasco. O que resta do maltratado serviço médico deve atender a esse grupo de pessoas, além dos palestinos que se negaram a partir. Mesmo reduzida a um funcionamento básico, a infraestrutura médica do acampamento continua sendo fundamental para os residentes e os refugiados, porque não têm muito mais a escolher. Envolverde/IPS