Ações além do diálogo

A pauta do dia em qualquer ambiente corporativo é a sustentabilidade. Mais do que uma ação isolada, ela já passa a permear toda a estratégia de muitas empresas e suas aplicações mostraram que vieram para ficar e definir caminhos, qualquer que seja o mercado de atuação.

Atualizado em 03/12/2012 às 10:12, por Ana Maria.

Ricardo Ribeiro. Foto: Divulgação.

A pauta do dia em qualquer ambiente corporativo é a sustentabilidade. Mais do que uma ação isolada, ela já passa a permear toda a estratégia de muitas empresas e suas aplicações mostraram que vieram para ficar e definir caminhos, qualquer que seja o mercado de atuação. Quem não tiver um trabalho consistente nessa área invariavelmente vai perder competitividade frente ao mercado e ter sua imagem enfraquecida perante a sociedade.

Manter-se mercadologicamente competitivo, aliás, não é apenas uma das metas das ações sustentavelmente bem-sucedidas, mas também uma de suas premissas. Afinal, para que a sustentabilidade seja aplicada em toda sua plenitude, é preciso que esta renda frutos para todas as esferas das quais participa: empresa, fornecedores, parceiros, mídia, comunidades impactadas e a sociedade em geral. Organizar as necessidades, reivindicações e, principalmente, os anseios de cada um desses grupos é o maior desafio.

As empresas já despertaram para a relevância de manter procedimentos para que todos os seus públicos sejam ouvidos. Estabelecer este diálogo no nível técnico é o desafio. Receber solicitações não é o único objetivo desta comunicação. Absorver e processar as informações vindas da comunidade de forma a buscar uma solução realmente sustentável, conveniente e proveitosa para todas as partes envolvidas é o que vai garantir o sucesso da empreitada no futuro.

O planejamento de ações benéficas vai muito além de escutar as demandas isoladas e passa pela busca de denominadores comuns. É preciso, sim, ouvir para, então, definir os rumos do trabalho e programar as ações mais assertivas. É para isso que as empresas mantêm profissionais especificamente focados no desenvolvimento desse trabalho.

Usando um exemplo ‘de casa’, a Anglo American possui um conjunto de ferramentas, disponível para quem quiser aplicá-lo, denominado SEAT (Caixa de Ferramentas para Avaliação de Impactos Socioeconômicos, na sigla em inglês).

Para resumir, o instrumento objetiva incentivar o engajamento de todas as partes interessadas para realizar a gestão de impactos sociais associados à operação e contribuir de forma efetiva para as comunidades em que a Anglo American opera. As ferramentas possibilitam à empresa identificar seus impactos socioeconômicos e entender melhor as preocupações e problemas das comunidades ligadas às operações, para então desenvolver passos concretos para a gestão das questões identificadas. Elas também fornecem caminhos para a solução de problemas frequentes nas comunidades, propõem indicadores e buscam garantir retorno objetivo e eficaz das constatações e planos.

Uma das bases para a aplicação da SEAT é a realização de consultas às partes interessadas. As consultas auxiliam as operações da Anglo American a entender melhor as preocupações, problemas e prioridades das comunidades, bem como as suas percepções sobre a empresa e expectativas, contribuindo para um melhor planejamento das ações da empresa nessa seara.

Depois dessa consulta realizada, e da avaliação de todas as mensagens recebidas, é que são definidos os caminhos que o trabalho trilhará, com a posterior prestação de contas às comunidades por meio de novos fóruns, nos quais a evolução dos projetos é avaliada – e novas demandas são coletadas.

Nas nossas unidades de Niquelândia e Barro Alto, ambas em Goiás, onde estão as operações da Unidade de Negócio Níquel da Anglo American no Brasil, é notável a melhora da avaliação do relacionamento da companhia com todos os públicos envolvidos. Temos obtido nas consultas do SEAT cada vez mais aceitação, alcançando na terceira rodada, em 2011, 90% de satisfação. E mantemos regulares pesquisas sobre nossa comunicação com os stakeholders em nossos fóruns comunitários.

As comunidades impactadas pelas operações de níquel já passaram por três ciclos de aplicação da SEAT. O processo de investigação gerou os PECs (Planos de Engajamento com a Comunidade) de 2006/2009, 2009/2011 e 2012/2014.

Em Barro Alto, onde está nossa maior operação de níquel, apoiamos o trabalho da ONG Agenda Pública, desde 2008. Criada por um grupo de profissionais e acadêmicos de Gestão Pública, Ciências Políticas e Ciências Sociais, a organização visa melhorar a gestão pública e incentivar a participação social. O foco é estabelecer parcerias para o desenvolvimento e implementação de políticas públicas e pela melhoria das competências e desempenho dos governos locais. A Anglo American investe anualmente cerca de R$ 300 mil na infraestrutura da Agenda Pública em Barro Alto, com manutenção de consultor e apoio locais, produção de materiais e execução de treinamentos no município e em rede de municípios por meio eletrônico, bem como na logística necessária para promoção de eventos e engajamento na comunidade. Profissionais da área de sustentabilidade da companhia, corporativos e locais, acompanham e colaboram no andamento dos trabalhos.

Na segunda rodada do SEAT em Barro Alto, também foram detectadas demandas de incentivo aos fornecedores locais, geração de oportunidades profissionais locais e aprimoramento da relação entre empresa e comunidade.

Com o intuito de viabilizar programas de desenvolvimento sustentável focados nessas temáticas, a Anglo American estabeleceu uma parceria com a Care Brasil, cujo escritório em Barro Alto foi inaugurado em outubro de 2008. Desde então, ONG e empresa têm proporcionado o desenvolvimento econômico de pequenos comerciantes (junto ao incentivo a fornecedores locais), práticas de manejo e de gestão da bovinocultura de leite para agricultores familiares (projeto Via Láctea, em parceria com o Embrapa), assistência a produção e comercialização de produtos do cerrado e treinamentos a alunos e professores da rede pública de ensino.

Com relação à planta industrial Codemin, em Niquelândia, onde a empresa já possui trinta anos de funcionamento e um ótimo relacionamento com a comunidade da cidade, as primeiras avaliações da SEAT, em 2005, diagnosticaram uma série de necessidades na área de educação. Dos 28 tópicos listados no PEC, sete demandas eram relacionadas a educação e treinamentos. Por isso a Anglo American escolheu como parceiro o Núcleo Integrado SESI / SENAI, para um trabalho em conjunto com o governo municipal e a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG). O SESI / SENAI ofereceu cursos gratuitos de inclusão digital, educação de jovens e adultos, modalidades de ensino à distância e cursos de qualificação profissional, tanto para moradores da comunidade quanto para os funcionários da companhia.

Esses são alguns exemplos pontuais, mas que mostram como a avaliação em profundidade e o consequente engajamento dos parceiros corretos fazem a real diferença para a sustentabilidade, agregando valor para todos: comunidades, parceiros e empresa.

* Ricardo Ribeiro é diretor da área de S&SD (Segurança e Desenvolvimento Sustentável) da Unidade de Negócio Níquel da Anglo American.


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