Arquivo

Adaptação, a melhor opção contra a mudança climática

Trabalhadores constroem um muro de contenção na costa sul de Dominica. Foto: Desmond Brown/IPS

Roseau, Dominica, 12/6/2012 – Conhecida como Ilha da Natureza do Caribe, a escarpada e densa selva de Dominica costuma ter uma névoa que revela o quanto podem ser baixas as temperaturas neste país. Porém, nos últimos tempos esta ilha localizada entre os departamentos franceses de Martinica e Guadalupe, nas Antilhas Menores, experimenta um calor sufocante de 31 graus, e até mais elevado em sua capital. As autoridades atribuem o fato à mudança climática e ao aquecimento global.

“Esse é, provavelmente, um dos efeitos mais óbvios da mudança climática que experimentamos diariamente”, disse à IPS o ministro do Meio Ambiente, Kenneth Darroux. “Ficaram para trás os dias em que pensávamos que a mudança climática era um produto da imaginação de uns poucos cientistas loucos. Começamos a sentir os efeitos agora, e a ciência demonstra que estava certa”, afirmou. A ilha registrou uma acentuada mudança nas temperaturas estacionais e no ciclo de chuvas. Darroux informou que a mudança climática já custa a Dominica milhões de dólares por ano em cultivos perdidos e em respostas aos desastres.

Os danos na América Latina e no Caribe chegarão a US$ 100 bilhões anuais até 2050, por causa da menor produção agrícola, do constante derretimento das geleiras, por inundações, secas e outros eventos vinculados à temperatura global mais alta, segundo um estudo que será apresentado na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que será realizada entre 20 e 22 deste mês, no Rio de Janeiro.

O aspecto positivo é que o custo dos investimentos para adaptar-se a esses eventos é muito menor, da ordem de um em dez por danos físicos, diz a pesquisa preparada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF). Entretanto, também indica que são necessárias grandes reduções nas emissões de gases-estufa para evitar algumas das consequências possivelmente catastróficas da mudança climática no longo prazo.

Os governos deverão investir outros U$ 110 bilhões por ano nas próximas quatro décadas para diminuir as emissões de dióxido de carbono, um dos mais importantes gases de efeito estufa, até níveis consistentes com os objetivos de estabilização do clima global, acrescenta o documento. Darroux declarou que Dominica pretende receber alguns dos milhões de dólares disponíveis para ajudar os países a lidarem com a mudança climática e seus efeitos.

Quando as autoridades se deram conta do impacto devastador que a mudança climática pode ter sobre o meio ambiente e do grande volume de fundos que haverá para mitigar a destruição, avançaram lentamente para a criação de um Ministério do Meio Ambiente, após as eleições gerais de 2009, contou Darroux. Em dezembro passado, o ministro anunciou que Dominica estava em processo de formular uma estratégia de desenvolvimento resistente ao clima com poucas emissões de dióxido de carbono que, depois explicou, adotou um enfoque com dupla face.

“Enquanto trabalhamos para combater os impactos da mudança climática, também buscamos incorporar projetos que cubram todo o espectro do desenvolvimento nacional. Também serve para atrair investimentos. Ouvimos sobre milhares de milhões de dólares esquivos, por isso essa estratégia é uma forma de aproveitar os fundos”, indicou Darroux.

A estratégia incorpora múltiplos documentos de políticas nacionais, identifica áreas prioritárias com mais probabilidades de serem afetadas pelo aquecimento global, como agricultura, pesca, ecoturismo e energia verde, detalhou o ministro. “Nosso território nos torna muito vulneráveis”, acrescentou, lembrando que a infraestrutura do país está localizada na linha costeira. Além disso, é muito propenso à ocorrência de deslizamentos de terra.

América Latina e Caribe respondem por 11% das emissões contaminantes que causam o aquecimento global. Mas a região é particularmente vulnerável às consequências desse fenômeno devido à sua dependência dos recursos naturais e pela presença de áreas sensíveis como a bacia do Amazonas, o bioma coralino do Caribe, os mangues costeiros e os frágeis ecossistemas montanhosos, diz o estudo. As consequências serão sentidas na agricultura, na exposição a doenças tropicais e na mudança do padrão de chuvas, entre outros. Estima-se que a perda de exportação agrícola ficará entre US$ 30 bilhões e US$ 52 bilhões em 2050.

O estudo afirma que o custo da adaptação é uma simples fração do custo das consequências físicas reais, que, segundo uma estimativa conservadora, é de 0,2% do produto interno bruto para a região. Os esforços de adaptação também oferecerão significativos benefícios em matéria de desenvolvimento, desde melhor água e segurança alimentar, passando por melhor qualidade do ar, até menor congestionamento de veículos, reduzindo, assim, os custos.

A Unidade Coordenadora Ambiental faz o possível para sensibilizar a população sobre a mudança climática, disse à IPS seu diretor, Lloyd Pascal. Não se chegou a cada canto de Dominica, mas com base nos três eventos climáticos severos registrados no ano passado, “estamos seguros de que cada vez mais há mais pessoas conscientes das consequências da mudança climática do que em 1995, quando começamos”, destacou Pascal. Envolverde/IPS