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Adaptar-se para sobreviver

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O jovem agricultor Nelson Haulamba.
Windhoek, Namíbia, 17/8/2011 – Os eventos climáticos extremos previstos para a Namíbia podem ter um efeito devastador em 70% da população do país, que vive em áreas rurais e depende da agricultura. Este país da África austral não tem outra opção que não seja adaptar-se à mudança climática, pois sofrerá duríssimas secas e, por outro lado, chuvas excepcionalmente intensas, afirmam especialistas.

As chuvas já começaram: este ano, os níveis da Bacia de Cuvelai, no norte, foram oito centímetros maiores do que nas inundações de 2009. Trata-se de um novo recorde para uma área onde vive quase a metade dos 2,1 milhões de namíbios.

Pelo menos 21 estudantes se afogaram desde que começaram as inundações, no início de fevereiro. As estradas também foram duramente afetadas, bem como os edifícios e a infraestrutura em geral, enquanto milhares de pessoas tiveram que abandonar suas casas. Em um país onde os principais setores da economia nacional (agricultura, pesca e ecoturismo) dependem dos recursos naturais, a mudança climática representa um grande esforço de adaptação.

Se não for possível adaptar-se, a pobreza, a falta de renda e de oportunidades de emprego aumentará a vulnerabilidade das famílias, alertou Ephraim Nekongo, presidente do Fórum Regional Juvenil Oshana. A Namíbia já tem um nível de desemprego em torno dos 50%.

“As consequências ambientais da mudança climática, as já observadas e as previstas, como elevação do nível do mar, mudanças nas precipitações derivadas das inundações e das secas, furacões e tempestades mais intensos, ondas de calor e degradação da qualidade do ar, afetarão a saúde humana direta e indiretamente”, disse Nekongo. Ele participou da Conferência Juvenil sobre Adaptação à Mudança Climática da Namíbia, realizada nos dias 29 e 30 de julho.

A economia nacional depende diretamente do meio ambiente para mais de 30% de seu produto interno bruto, segundo assessores do Projeto de Adaptação da África (PAA), iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, apoiada pelo governo japonês, que ajuda 20 países africanos na tomada de ações diante do aquecimento global. A pesquisa inicial indicava que o impacto da mudança climática nos recursos naturais poderia reduzir o PIB em 6%, cerca de US$ 30 milhões, nos próximos 20 anos.

Já que a Namíbia é um país vulnerável que contribui pouco com os gases-estufa, causadores do aquecimento global, sua prioridade dever ser a adaptação, disse o ministro do Meio Ambiente e Turismo, Netumbo Nandi-Ndaitwa. Segundo Johnson Ndokosho, do PAA na Namíbia, a África é responsável por apenas 3% dos gases causadores do efeito estufa na atmosfera. A América do Norte e a Europa ocidental juntas respondem por 75%, e sua população é quase a mesma que todo o continente africano.

“O governo da Namíbia está comprometido com o desenvolvimento de uma base de evidência para tomar ações a longo prazo destinadas à adaptação à mudança climática, e encomendou estudos de prognósticos para aprender mais sobre os efeitos”, disse Nandi-Ndaitwa. Além disso, afirmou que os jovens namíbios já estão assumindo uma liderança para construir a economia do país e se concentrar não apenas nos desafios, mas também nas oportunidades apresentadas pela mudança climática.

Uma das iniciativas nesse sentido é o Projeto Urbano Indígena com Aves Domésticas, financiado pelo PAA. Nelson Haulamba, jovem agricultor que participa do projeto, disse que o objetivo é adaptar-se à mudança climática, gerar renda e oferecer uma plataforma aos interessados na agricultura. Os envolvidos no projeto criam o frango da raça Boschveld, um cruzamento entre três raças africanas: Venda, Matabele e Ovambo.

O frango Boschveld poderia sobreviver com “o que a natureza oferecer” e também resistiria às diversas condições climáticas da África, além de poder produzir grande quantidade de ovos, disse Haulamba. “Para que a Namíbia consiga a segurança ambiental em termos de aves domésticas, deveríamos usar raças de alta qualidade que possam adaptar-se às diferentes condições climáticas”, afirmou.

Especialista preveem que o país sofrerá uma absoluta escassez de água dentro de nove anos, quando o fornecimento cairá abaixo dos 500 metros cúbicos por pessoa. “A redução das chuvas e maior evaporação pode levar a uma diminuição da água na superfície e na recarga da água subterrânea. Já como está, a Namíbia sofrerá absoluta escassez em 2020. É uma situação para a qual a população necessitará mais água do que o país poderá fornecer”, disse Ndokosho.

Além disso, o mar inundará algumas partes do país nos próximos cem anos. Segundo Ndokosho, os níveis do mar ao longo da costa do país poderiam aumentar entre 30 centímetros e um metro no próximo século. A elevação inundará partes importantes da baía de Walvis e outras localidades costeiras.

Especialistas dizem que a capacidade dos países africanos para resistir à mudança climática será um fator importante em seus esforços para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Estas metas, fixadas pelos líderes mundiais com prazo até 2015, propõem entre outras coisas, reduzir a fome e a pobreza, bem como a propagação de doenças contagiosas, conseguir a sustentabilidade ambiental, e aumentar os níveis de educação. Envolverde/IPS