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Adly Mansour é o presidente interino do Egito

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Doah, Catar, 5/7/2013 – O magistrado Adly Mansour assumiu como presidente interino do Egito, horas depois que Mohammad Morsi foi derrubado por um golpe militar, após enormes protestos contra seu governo. Mansour prestou juramento ontem, enquanto seu antecessor, eleito democraticamente, está retido em uma unidade militar não especificada, junto com colaboradores próximos. Diante do Tribunal Constitucional, Mansour disse: “Juro por Deus defender o sistema republicano e respeitar a Constituição e a lei (…) e salvaguardar o povo e proteger a nação”.

“Os revolucionários do Egito estão em toda parte e saudamos a todos, aos que demonstram ao mundo que são suficientemente fortes, à valente juventude do Egito e aos que foram os líderes desta revolução”, acrescentou Mansour. Em declarações a jornalista após assumir o cargo, Mansour afirmou que a Irmandade Muçulmana, que apoiava Morsi, é parte do povo e será bem-vinda para ajudar a “construir a nação”. E acrescentou que “ninguém será excluído, e se eles responderem ao convite serão bem-vindos”.

Por outro lado, Mansour foi nomeado presidente do Supremo Tribunal Constitucional, posto que deveria ter assumido em 30 de junho, quando começaram os protestos pelo primeiro ano de Morsi na Presidência. As autoridades judiciais egípcias iniciaram uma investigação sobre acusações de que Morsi e outros 15 islâmicos teriam insultado o Poder Judicial, disse o juiz investigador Tharwat Hammad, proibindo todos eles de viajarem ao exterior.

O máximo líder da Irmandade Muçulmana, Mohammad Badie, e quem o segue na hierarquia, Khairat el-Shater, estiveram entre os investigados, disseram fontes judiciais e militares à agência de notícias Reuters. El-Shater foi a primeira opção do grupo como candidato a disputar as eleições presidenciais do ano passado. Mas foi desqualificado por causa de condenações antigas.

Foi informado que centenas de funcionários da Irmandade Muçulmana também foram presos, e que muitos líderes são mantidos na prisão de Torah, no Cairo, a mesma em que está Hosni Mubarak, que presidiu o país por três décadas, até ser derrubado na revolução de 2011. Um líder da Irmandade Muçulmana informou ontem que o grupo não pegará em armas em resposta ao golpe. “Este é um golpe militar. Ficaremos e o privaremos de legitimidade até que seja corrigido”, disse Mohammad El-Beltagy aos jornalistas em uma manifestação, favorável a Morsi, de pessoas que se sentaram do lado de fora de uma mesquita na capital do Egito.

Em uma transmissão pela televisão, na qual apareceu ladeado por líderes militares, autoridades religiosas e figuras políticas, o chefe das Forças Armadas, general Abdel Fattah al-Sisi, declarou efetivada a remoção de Morsi. Al-Sisi convocou eleições presidenciais e parlamentares, um painel para avaliar a Constituição e um comitê de reconciliação nacional que inclua os movimentos jovens, e disse que vários grupos políticos concordam com a proposta apresentada.

Islâmicos partidários de Morsi, que se reuniram em um subúrbio do Cairo, reagiram com indignação ao anúncio feito pelo exército. Alguns arrancaram paralelepípedos das ruas para formar pilhas. Guardas de segurança da Irmandade Muçulmana com capacetes e paus combinaram um acampamento, perto de uma mesquita. Homens e mulheres choraram e cantaram. Denunciando o chefe militar, alguns gritaram “Al-Sisi não tem validade, o Islã está chegando. Não partiremos”.

Pelo menos 14 pessoas foram assassinadas quando opositores e partidários de Morsi se enfrentaram depois que o exército anunciou sua remoção, afirmaram funcionários governamentais. Oito morreram na cidade de Marsa Matrouh, incluindo dois membros das forças de segurança. Houve três mortos e pelo menos 50 feridos em Alexandria, informou a agência estatal de notícias Mena. Os mortos foram uma mulher apunhalada no estômago e dois homens atingidos por estilhaços. Também morreram três pessoas e 14 ficaram feridas na cidade de Minya, incluindo dois policiais, afirmou a agência.

Em declarações feitas pouco depois do anúncio de Al-Sisi, na noite do dia 3, o líder opositor liberal Mohammad ElBaradei disse que “foi relançada a revolução de 2011” e que o mapa do caminho atende as reclamações dos manifestantes. Os principais clérigos muçulmanos e cristãos do Egito também apoiaram as diretrizes patrocinadas pelo exército. O papa Tawadros, líder da Igreja Copta, disse que o plano oferece uma visão política e que garantirá a segurança para todos os egípcios, cerca de 10% dos quais são cristãos. O partido Nour, segundo maior grupo islâmico do país, afirmou em comunicado que concorda com o mapa do caminho do exército para evitar um conflito maior.

Morsi viveu sob enorme pressão nos dias anteriores ao seu primeiro aniversário como presidente, no dia 30 de junho. Seus opositores o acusaram de falhar com a revolução de 2011 ao concentrar o poder em mãos islâmicas. O assediado Morsi, de 62 anos, propôs um “governo de consenso” como saída para a crise. Mas isto não foi suficiente para o exército, e Mansour, um juiz pouco conhecido, foi colocado como líder interino do país. Envolverde/IPS