A presidenta Dilma Rousseff, ao afirmar que a grandeza de uma nação é medida pelo que ela faz por suas crianças e adolescentes e não pelo tamanho do Produto Interno Bruto, nos suscita e amplia uma discussão sobre o significado do PIB.
No Brasil, as contas nacionais, são trabalhadas e mensuradas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que desde a década de 2000 segue o formato proposto pela ONU (Organização das Nações Unidas) do System of National Accounts (SNA) a fim de tornar mais homogêneo a mensuração, de ao menos parte, da riqueza do país em comparação com outros países.
As contas nacionais são formadas basicamente pelas contas de produção, apropriação, do setor externo, de capital e do governo é a partir daí, com os devidos débitos e créditos nas contas mencionadas se realiza a mensuração do PIB, podendo, portanto, observar as evoluções ou involuções, por exemplo, da renda agregada, do quanto se exportou, do quanto se importou, investimentos privados e públicos, o nível de consumo do governo, a sua arrecadação etc.
É importante lembrar, as contas nacionais, que por sua vez constituirão o PIB, ao menos diretamente, ainda não conseguiram mensurar a felicidade de uma nação e a interferência ou não, das políticas sociais governamentais. No entanto, com a evolução da renda, desde que bem distribuída, pode-se observar a melhora de muitos indicadores sociais e de consumo em uma determinada sociedade.
Neste sentido, a presidenta Dilma tem razão. O PIB é uma medida puramente economicista, para não afirmar matemática. Alguns podem imaginar que Dilma quer mudar o foco da discussão do PIB, haja vista as mais variadas análises sobre o crescimento econômico de 2012; as mais pessimistas apostam em um crescimento de até 1,0%, enquanto as mais otimistas imaginam um incremento de 3%.
Do ponto de vista da política, em certa medida, talvez, esse seja um dos objetivos do governo, por uma razão muito simples, parte da mídia brasileira, continua realizando terrorismo econômico afirmando aos quatro cantos que o Brasil está, também, em uma crise.
Evidentemente, os dados que se apresentam nos últimos meses podem não ser animadores, mas é importante ressaltar, o governo brasileiro, ao contrário que faz as nações ditas desenvolvidas, onde acontece o epicentro da crise, está utilizando de políticas de incentivo, tanto do ponto de vista fiscal quanto monetário para elevar o crescimento econômico brasileiro. Com isso, passa longe qualquer nível similar de desemprego norte-americano e europeu, portanto, a nossa renda e o consumo minimamente se mantém, o que comparado ao nível da catástrofe econômica mundo afora é uma excelente e importante vitória.
Aliás, diga-se de passagem, os arautos do terrorismo econômico são os mesmos que cobravam e ainda cobram uma política fiscal austera, controle da inflação a qualquer custo, principalmente com elevação dos juros. Portanto, o fruto do crescimento econômico de 2012 é reflexo das ditas cujas medidas macroprudenciais adotadas no início do governo Dilma e fim do governo Lula e não que as atuais medidas não estejam tendo ou não terão algum efeito.
O capitalismo e a economia brasileira não é diferente, vive e sobrevive de expectativas, ou seja, do futuro, o governo brasileiro pontual e gradativamente vai desempenhando seu papel de estimulador, indutor, aos capitalistas; cabe desenvolver novas formas de ampliar a sua renda, um ponto positivo para isso é, de certa maneira, a manutenção dos empregos. Este é um forte sinal que a economia brasileira crescerá neste e nos próximos anos, o quanto, dependerá dos níveis de investimentos privados e públicos.
Por fim, historicamente, o que sempre alavancou o crescimento econômico brasileiro foi o Estado, mas este, excetuando-se os últimos dez anos, nunca foi bem distribuído. Para melhorar o nível, não só de renda, mas também de bem estar da população brasileira, é preciso mais Estado para todos com políticas sociais e públicas eficazes e eficientes no seu orçamento e execução.
* Paulo Daniel é economista, mestre em economia política pela PUC-SP, professor de economia e editor do Blog Além de Economia.
** Publicado originalmente no site Carta Capital.