Manzini, Suazilândia, 1/7/2011 – A região da África austral não aproveita ao máximo a água que possui, e os habitantes continuam com um acesso muito limitado devido à falta de infraestrutura. Mike Muller, da Associação Global da Água, disse a especialistas que levar os recursos à população é o maior desafio dos países da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC).
“É verdade que os países da África austral têm problemas de água”, disse Muller. “E ficará pior com o aumento da população e o impacto da mudança climática”, alertou. Esta situação agravou a pobreza na região, acrescentou o especialista em sua participação no Diálogo sobre Água, da SADC, realizado esta semana em Manzini, Suazilândia.
Muller disse que, apesar da ideia predominante de que os países com grandes desertos como Botsuana e Namíbia são os que sofrem maior escassez, a realidade é que África do Sul e Malawi são os que têm menor acesso a água por habitante. O problema está no nível de investimento no setor de infraestrutura hídrica e como aproximá-la da população, algo que todos os países do SADC estão em falta.
Embora Moçambique lidere o caminho em disponibilidade de água, com 11.320 metros cúbicos por pessoa ao ano, esse país utiliza apenas 0,3% de seus recursos, e a África do Sul fornece 1.100 metros cúbicos por habitante anualmente, e utiliza somente 31% de seus recursos. No entanto, é o país africano que mais utiliza sua água.
Muller explicou que a região não sabe explorar seus recursos hídricos para produzir alimento suficiente por meio da agricultura e da hidroenergia. “A agricultura industrial poderia transformar a região”, assegurou. Para ele, o Projeto de Desenvolvimento do Baixo Usutu é um claro exemplo da integração e utilização da água.
Nesse plano cooperam os governos de Moçambique, África do Sul e Suazilândia para utilização do Rio Usutu com fins agrícolas. Por meio deste projeto, o governo suazi construiu uma represa no Usutu, que nasce na África do Sul, para beneficiar suas comunidades rurais pobres em torno da localidade de Siphofaneni. E a Suazilândia permite que a água flua livremente para Moçambique, onde o Rio morre, desembocando no Maputo.
Segundo Muller, a água deveria ser usada não apenas para se ter lucro, mas também para melhorar o sustento dos habitantes, e, assim, destacou que a participação das comunidades é crucial. “As comunidades foram convidadas a participar ativamente desde as fases de planejamento do projeto”, destacou Gugulethu Hlophe, chefe-executivo interino na Empresa de Água e Agricultura de Suazilândia. A princesa Tsandzile, ministra de Recursos Naturais e Energia do país, afirmou que este projeto e outro semelhante, o Desenvolvimento da Baía do Komati, estão transformando o sustento dos moradores da área.
Embora construir represas seja caro, os governos devem se esforçar, afirmou o subdiretor de Assuntos Hídricos de Botsuana, Bogadi Mathangwane. “O maior problema de levar água às pessoas é que há algumas aldeias que estão muito distantes da infraestrutura, e fazer a água chegar a elas é muito caro”, explicou.
O diálogo é fundamental para enfrentar os problemas da água em um momento em que os 15 países do SADC buscam formas de financiar medidas contra a mudança climática. “Apesar de haver financiamento disponível para a mudança climática, ter acesso a ele é muito difícil porque o setor da água está fragmentado entre diferentes departamentos em nosso país”, disse Mathangwane. Envolverde/IPS