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África do Sul no radar da Índia

Johannesburgo, África do Sul, 13/4/2011 – Muito se sabe da influência da China na África, mas, o que aconteceu com sua rival emergente, a Índia? Sendo a quarta economia do mundo, com uma classe média com mais de 400 milhões de pessoas (mais do que toda a população dos Estados Unidos), a Índia é um ator cada vez mais importante no cenário mundial, como a China. E a África está em sua mira.

Embora as companhias indianas tenham uma significativa presença em todo o Leste africano devido a uma histórica onda migratória, Nova Délhi hoje identifica a África do Sul como a principal porta para o continente em termos de grandes investimentos. Analistas acreditam que a cooperação entre os dois países aumentará, já que ambos integram o Fórum de Diálogo Índia, Brasil, África do Sul (Ibas) e o Bric (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China).

Em visita à cidade indiana de Mumbai, no começo de abril, a vice-ministra de Comércio e Indústria da África do Sul, Elizabeth Thabethe, disse que o comércio bilateral chegaria a US$ 15 bilhões no final do atual ano fiscal, US$ 5 bilhões a mais do que o estimado inicialmente. Tata, Reliance e Mahindra & Mahindra estão entre as 96 empresas indianas que investem na África do Sul. Também há várias instituições bancárias, como Banco da Índia, Icici Bank e Banco de Baroda.

Por outro lado, a sul-africana SABMiller é a segunda maior cervejaria da Índia, com 38% do mercado. O First Rand Group foi o primeiro banco africano a obter licença e empresas de seguros sul-africanas como Old Mutual e Sanlam também fazem progressos. A África do Sul, que demonstrou sua capacidade de engenharia na organização do Mundial da Fifa, no ano passado, espera assegurar lucrativos contratos de construção, graças a um plano de cinco anos do governo para gastar US$ 800 bilhões em infraestrutura.

A firma Airports Company South Africa (ACSA) já ganhou a licitação para restaurar o Aeroporto Internacional Chattrapathi Shivaji, em Mumbai, e há expectativas de novos contratos. O diretor da empresa sul-africana de estratégia e mercado Frontier Advisory, Abdullah Verachia, disse que a cooperação entre Nova Délhi e Pretória é forte. “A Índia vê a África do Sul como uma porta de investimento para o resto da África. Possui infraestrutura sólida, estruturas de governo estáveis, arquitetura financeira e sistemas bancários fortes, além de uma Bolsa de Valores mundialmente conhecida”, afirmou.

As relações entre Índia e África do Sul, segundo Abdullah, se baseavam em um legado compartilhado de colonialismo e luta, embora fortemente influenciadas pelo líder pacifista indiano Mahatma Gandhi, que passou vários anos de sua vida em território sul-africano, e os subsequentes vínculos entre o Congresso Nacional Africano e o Partido do Congresso da Índia. “A África do Sul tem um lugar especial nos corações e nas mentes dos indianos”, ressaltou.

“Fortalecendo as relações tradicionais construídas durante o período colonial, a Índia está em posição ideal para aproveitar esses laços políticos duradouros e, assim, situar-se comercialmente no continente”, disse Abdullah. “As multinacionais emergentes da Índia são bem recebidas nas economias africanas e não precisam competir com a carga política de ser um antigo poder colonial”, acrescentou.

No ano passado, a comunidade indiana na África do Sul comemorou o 150º aniversário da chegada dos primeiros trabalhadores indianos durante a África colonial. Hoje, são cerca de 1,3 milhão de indianos vivendo em território sul-africano, muitos da quarta ou quinta geração, e Abdullah acredita que esta grande diáspora é outro motor para os investimentos indianos no país. “Culturalmente, os laços são fortes. Os filmes de Bollywood (a meca do cinema indiano) são vistos em Cidade do Cabo e Durban”, contou.

Embora o mercado sul-africano tenha sido favorecido principalmente por grandes multinacionais, como a montadora de veículos Tata, também existe uma onda de pequenos investidores. A maioria dos investimentos indianos na África do Sul é do setor privado, ao contrário da influência da China, que em sua maior parte é impulsionada pelo Estado e, em alguns casos, como em Angola, vinculada a linhas de crédito do governo.

O enfoque do setor privado, segundo Abdullah, aliviou as críticas de neocolonialismo frequentemente aplicadas à China, sedenta de recursos, mesmo quando as necessidades energéticas também eram o maior impulso da Índia em sua expansão para a África. A diretora do Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais, Elizabeth Sidiropoulos, afirmou que o desejo de Nova Délhi de “não perder terreno” para a China foi um condutor primordial para suas prioridades de investimento.

Em um documento divulgado no mês passado pelo centro de estudos Chatham House, Elizabeth pergunta se África do Sul e Índia poderiam ser “sócias de desenvolvimento na África”, e concluiu que, embora compartilhem aspirações econômicas semelhantes, têm diferenças em política e ocupam diversas posturas no campo internacional.

O recente envolvimento entre os dois países foi produto de “mudanças no poder global”, e ambos compartilham um “desejo de serem vistos desempenhando um papel positivo no desenvolvimento e assumindo responsabilidades globais”, afirmou Elizabeth. A África do Sul procura um “equilíbrio entre assumir a solidariedade africana e se diferenciar como potência regional e mercado emergente”, acrescentou. Envolverde/IPS