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Agora Netanyahu necessita de sua Cúpula de Ferro

Netanyahu precisa de sua própria Cúpula de Ferro para se proteger da oposição. Foto: Pierre Klochendler/IPS

Jerusalém, Israel, 27/11/2012 – Pôr fim à primeira operação militar israelense desde que a Primavera Árabe mudou o Oriente Médio dependeu tanto do músculo diplomático sobre Israel e o Hamás como do alcance dos golpes que trocaram. Para o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o cessar-fogo deve durar pelo menos até sua reeleição. Apesar de ter calculado muito bem seus tiros quando iniciou a operação Pilar de Defesa, no dia 14, Netanyahu sabe perfeitamente que o Hamás (Movimento de Resistência Islâmica) também calcula os seus com relação ao cessar-fogo acordado no dia 22.

Um acordo sem papéis, que deixa espaço para as manobras israelenses, foi a via preferida para evitar uma, talvez, perigosa incursão terrestre em Gaza, no mínimo, pois o primeiro-ministro aprendeu as lições do ataque Chumbo Derretido (2008-2009) contra o Hamás, que terminou com o Estado judeu acusado de crimes de guerra e com um acordo de 43 páginas jamais respeitado. O novo pacto é informal e se estrutura em duas fases.

Primeiro, “calma versus calma”: um cessar imediato dos ataques com mísseis contra civis e tropas israelenses na fronteira com Gaza e dos lançados desde o Sinai por guerrilhas palestinas. O Hamás deve impor este acordo a todas as facções. Por sua vez, Israel deve deter o bombardeio contra Gaza e os assassinatos de militantes palestinos, mas não as ações preventivas a potenciais ataques contra israelenses iniciados desde a também ocupada Cisjordânia.

Enquanto a fase um cuida da aplicação do cessar-fogo e testa sua efetividade, a fase dois inclui conversações para um acordo de longo prazo, com participação de garantidores do Egito e dos Estados Unidos. Mas a perspectiva de uma trégua se vê inclusive mais comprometida pelos interesses contrapostos e as demandas de todas as partes envolvidas no controle do cessar-fogo.

Israel insistirá em obter garantias de que o Egito bloqueie o contrabando de armas desde o Sinai para Gaza através de túneis subterrâneos. Cairo tem problemas para controlar a segurança desse território, em parte porque o governo islâmico de Mohammad Morsi não quer ser visto como braço policial de Israel.

Embora não possa influir na disposição egípcia de afrouxar o bloqueio de Gaza abrindo a passagem fronteiriça de Rafah para os moradores de Gaza e seus produtos, Israel vai rechaçar a pretensão do Hamás para levantar o sítio naval pois, argumenta, é ele que freia a entrada de armas na Faixa. Mas, terá que afrouxar o já impossível de conduzir cerco terrestre.

A operação militar israelense terminou e, em termos gerais, muito pouco mudou. Netanyahu adotou a receita do protagonista da novela El Gatopardo, do italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa: “Se queremos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude”. Na realidade, para mudar uma ou duas coisas de modo a deixar a situação inalterada, o primeiro-ministro aplicou, prudentemente mas com determinação durante seu mandato de quatro anos, uma estratégia de ceticismo niilista em relação aos palestinos.

Funcionários próximos a Netanyahu explicam sua descrença e suas vacilações a respeito das negociações de paz com o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, invocando o fortalecimento do Hamás, como resultado de o Oriente Médio estar se tornando mais islâmico, e o cisma entre a ANP na Cisjordânia e seu arquirrival em Gaza.

Indiretamente, deixar que o Hamás cresça na Cisjordânia habilita a direita israelense por trás de Netanyahu a se opor a toda mudança no regime de ocupação desse território palestino. O Hamás, entretanto, adquiriu mais popularidade do que Abbas, como mostraram as manifestações de apoio na Cisjordânia.

O movimento islâmico pode se orgulhar de seu papel de vanguarda na resistência palestina à ocupação israelense. Afinal, conseguiu lançar projéteis M35 de longo alcance até Tel Aviv e Jerusalém. O Hamás também mostrou seus êxitos políticos. Durante os oito dias de ações bélicas foi cortejado por Egito, Tunísia, Catar e Turquia. Um primeiro-ministro e vários ministros viajaram até Gaza, desafiando o cerco militar.

A operação de Netanyahu equivale a sepultar a estratégia de Abbas perante a ausência de diálogos de paz significativos: solicitar que a Assembleia Geral das Nações Unidas apoie a Palestina como Estado não membro no dia 29. A exploração do medo entre os israelenses diante de um Hamás mais poderoso, somada a um maior apoio ao movimento islâmico na Cisjordânia, constitui uma carta eleitoral forte para o primeiro-ministro israelense.

Entretanto, se os projéteis regressarem enquanto estiver em vigor o cessar-fogo, Netanyahu correrá o risco de perder a reeleição, em janeiro, especialmente porque o milhão de israelenses que moram no sul, cansados de viver de forma permanente sob fogo de artilharia, esperam uma solução que imponha a calma, de uma vez por todas. Se o primeiro-ministro não incluiu a campanha eleitoral como fator para iniciar o ataque, a perspectiva de sua reeleição foi, com certeza, um elemento importante para acabar com ele.

O sistema defensivo Cúpula de Ferro provou ser efetivo para interceptar os projéteis lançados desde Gaza. Agora, Netanyahu precisa de outra Cúpula de Ferro, que o blinde de ataques da oposição por ter mantido tudo como está, permitindo que a situação piorasse em Gaza e na Cisjordânia. Envolverde/IPS