Cauto Cristo, Cuba, 5/2/2015 – Quando chove, até os caminhões ficam presos na lama nos péssimos caminhos deste município rural do leste de Cuba. Sua população necessita mais e melhores vias para melhorar sua vida e contribuir para o ansiado despertar do agro cubano. “Quando arrumarmos os caminhos, as condições e possibilidades de vida aumentarão nas zonas baixas, onde se materializa nossa maior produção agropecuária”, disse à IPS o vice-presidente do governo municipal de Cauto Cristo, Alberto López.
Situado em uma grande planície, que inunda com facilidade na estação das chuvas, entre maio e outubro, a maioria de seus 21 mil habitantes se espalha por fazendas, granjas estatais e cooperativas agropecuárias. Possui um pequeno centro urbano e dois conselhos populares.
O mau estado dos caminhos de Cauto Cristo é parte de um problema geral do país, que atenta contra o envelhecido parque automotor de Cuba, a segurança viária e a comunicação de seu território insular, especialmente entre as periferias e os centros, onde se concentram serviços como hospitais e comércios.
Nas zonas rurais, a deterioração viária se soma a outros fatores, com descapitalização e pouca força de trabalho, para frear o decolar agropecuário, uma das prioridades da reforma econômica impulsionada pelo governo de Raúl Castro.
A crise econômica em que Cuba está submersa há mais de 20 anos deteve ambiciosos planos de ampliação e reparação da rede nacional existente, que atualmente engloba 68.395 quilômetros de vias asfaltadas e sem asfaltar. Desse total, 17.814 quilômetros correspondem a vias rurais pavimentadas (incluídos 655 quilômetros de autopistas), 16.193 quilômetros de vias urbanas (pavimentadas ou não) e 34.387 quilômetros de caminhos.
Graças a um investimento de US$ 40 milhões, empresas estatais adquiriram em 2008 máquinas para pavimentar, surgiram quatro novas fábricas de mistura asfáltica e foi capacitada mão de obra especializada dentro de um programa maior de recuperação viária, que deve terminar em 2015. O projeto começou priorizando as estradas de interesse nacional e provincial. Aproximadamente 70% da rede viária é municipal e sua manutenção e ampliação é responsabilidade dos governos locais.
“O governo local tem hoje mais abertura e flexibilidade para resolver seus principais problemas, que em nosso caso são as vias e o transporte”, explicou López sobre as primeiras medidas descentralizadoras da atual reforma, que ampliam um pouco a reduzida autonomia econômica e o poder de decisão dos municípios.
“Esperamos que este ano se coloque em prática que as empresas nacionais aportem uma porcentagem de dinheiro ao orçamento do município onde estão radicadas. Isso daria mais possibilidade para fazer o caro investimento em vias, que exige transportar material de canteiros situados a mais de 60 quilômetros”, pontuou Lópéz.
Grande produtor de carne, leite e vários cultivos, Cauto Cristo, 730 quilômetros a leste de Havana, consome cerca de 10% dos alimentos que gera e o restante é distribuído em outras partes da província de Granma, onde está localizado. “A agricultura é nossa atividade fundamental porque não temos nenhum desenvolvimento industrial”, disse López.
Reinaldo Naranjo, presidente no município da não governamental Associação Nacional de Agricultores Pequenos (Anap), afirmou que “às vezes enviamos um caminhão para recolher a produção e depois temos que enviar dois tratores para que desatolem o caminhão. Se duplica e até triplica o gasto de combustível”. Das 151 empresas estatais que em 2014 tiveram perdas em Cuba, num total de 439 milhões de pesos (US$ 18 milhões), 71 são geridas pelo Ministério da Agricultura.
Naranjo contou que justamente na época chuvosa e quando os caminhos ficam intransitáveis é a temporada em que se armazena mais leite no município, um produto que o agro não consegue aumentar e escasseia na dieta das famílias cubanas. Entre 2007 e 2013, a produção de leite de vaca cresceu 21%, mas ainda assim representou apenas 52% do produzido em 1989, quando a demanda era atendida. De todo modo, Cauto Cristo cumpriu no ano passado os volumes planejados de leite, carne e tubérculos da dieta básica cubana.
Como em todo o país, é necessário aumentar a produção de alimentos para abastecer a demanda interna e reduzir o insustentável peso das importações do setor, que este ano, se prevê, absorverão US$ 2,25 bilhões. Só um exemplo, a indústria símbolo de Granma e a maior de seu tipo no país, a Estatal de Produtos Lácteos Bayamo, funciona com um terço de sua capacidade de produção por falta de matéria-prima.
“Nosso pico produtivo é processar 80 milhões de litros de leite por ano, e estamos armazenando dez milhões”, disse à IPS o diretor da empresa, Rauel Medina. A companhia elabora vários tipos de leite, queijos, sorvetes, iogurte e produtos dietéticos, entre outros, com 1.810 trabalhadores, dos quais 20% são mulheres.
No município de Jesús Menéndez, na vizinha província de Las Tunas, o mau estado dos caminhos também afeta o rendimento agropecuário. “Quando chovia e não se podia chegar às fazendas e cooperativas em lugares mais complicados, perdia-se o leite”, contou Nilian Rodríguez, a vice-presidente do governo local. “A solução temporária que estamos aplicando é colocar refrigeradores nas unidades produtivas para o leite ser guardado por até dois dias”, disse à IPS.
Entre outros desafios, mais estradas e transporte melhorariam a qualidade de vida de comunidades rurais, onde está o potencial para lavrar 1.046.100 hectares de terras que permanecem ociosas, dos 6.342.400 hectares cultiváveis. No final de novembro a ANAP de Cauto Crisot contava com 1.976 integrantes, mais que o dobro dos 898 sócios registrados em 2008, disse Naranjo à IPS. Foi nesse ano que as autoridades começaram a entregar terras ociosas em usufruto às pessoas interessadas em trabalhá-las.
Esses e outros problemas levaram o agricultor Daniel Soto, de 48 anos, a permutar em duas ocasiões a terra que herdou de seu pai, 18 quilômetros mais distante, para ficar próximo de seu lar no município. “Fico aqui porque estou perto de casa”, disse na fazenda de Villa María, de 4,7 hectares cultivados principalmente com hortaliças.
“A situação tensa que vivemos há alguns anos com o transporte me dificultava ir trabalhar. Também meus filhos são doentes e não podem viver longe do centro urbano”, disse Soto. “Agora dou melhor atenção à terra e tenho mais benefícios econômicos”, acrescentou esse camponês que gosta de inovar na agricultura. Com suas mãos fabricou um arado menor do que o padrão, que é puxado por apenas um boi para obter maior rendimento no cultivo de suas hortaliças. Envolverde/IPS