Cidades japonesas servem de modelo quando a questão é drenar grandes quantidades de água das chuvas para evitar transtornos. A solução está embaixo do solo, onde são construídos reservatórios e canais subterrâneos. Por aqui, em terras tupiniquins, a solidariedade faz a vez enquanto medidas eficientes de prevenção ainda não são implementadas.
As fortes chuvas que andam abalando diversas cidades brasileiras nos últimos anos despertam a atenção da sociedade e das autoridades que procuram por uma solução eficiente que dê conta de escoar toda a água caída do céu. Em São Paulo, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), só no dia 27 de fevereiro, o nível da chuva atingiu 97,5 mm, sendo que a média prevista para o mês todo é de 217mm. Enquanto as propostas para contornar a situação por aqui ainda são paliativas, cidades japonesas servem de inspiração para os modelos atuais brasileiros, ao conseguirem sanar questões similares.
Tóquio e Saitama se valeram da tecnologia para amenizar os problemas com a chuva. A capital japonesa passa em média por três tufões anuais – são chuvas fortíssimas que duram até um dia inteiro. Mas os estragos desses tufões diminuíram desde 2005, quando foi construído no subsolo da cidade um eficaz sistema de drenagem – desde que foi inaugurado, o sistema já evitou 25 alagamentos. São reservatórios enormes, o maior deles tem 4,5 km de comprimento e armazena até 540.000 m3 de água.
Os rios são o tempo todo observados por meio de monitores e quando ultrapassam determinado nível de água, têm seu excedente dirigido para os reservatórios. Da mesma forma, assim que o volume dos rios diminui, essa água passa a ser devolvida aos poucos. Para a eficiência de todo esse sistema, os bueiros da cidade precisam estar desobstruídos, permitindo a passagem da água, o que incentivou o bom funcionamento da coleta de lixo no local e educou os moradores quanto ao descarte de resíduos.
Em 2007, foi concluída em Kasukabe, na província de Saitama, a maior estrutura para armazenamento de águas pluviais do mundo, em que a água é captada e armazenada por canais e gigantescos tanques subterrâneos. O projeto, chamado G-Cans Project, conta com uma estação que fica a uma profundidade de 50 m, comporta 670 mm3 de água e é composta por cinco tanques que variam de 15 m a 31 m de diâmetro, com profundidade de 63 m a 71 m. O projeto consegue evitar 80% de prejuízos causados pela chuva.
Tecnologia brasileira
Menos ostensivo que os projetos japoneses, mas ainda assim extremamente bem-vindo, está o “asfalto antienchente”, criação do pesquisador do Departamento de Hidráulica da USP, José Rodolpho Martins. Junto com sua equipe, desenvolveu a Camada Porosa de Asfalto (CPA), um pavimento com pequenos vãos capazes de absorver a água da chuva e armazená-la, entre uma camada e outra de pavimento, sem comprometer a qualidade do asfalto.
No momento da pavimentação, um sistema de drenagem é instalado, capaz de absorver toda a água da chuva e armazená-la em uma espécie de galeria. O sistema já foi aplicado em um dos estacionamentos da Universidade e tem mostrado bons resultados. “Essa é uma solução que vai dar sustentabilidade e garantir eficácia e vida útil mais longa para as obras e investimentos que se fazem em obras de drenagem”, afirma Martins.
Vale dizer que o asfalto permeável já é comum fora do Brasil, enquanto aqui ainda é usado somente para cobrir o asfalto convencional em obras como o rodoanel, o anel viário de São Paulo, evitando assim a formação de lâminas de água na pista e a aquaplanagem. O que tem de novo na utilização do CPA é que ele vem sendo testado e aplicado como único material para pavimentação.
De mãos dadas
Enquanto ainda nos deparamos com falta de planejamento e de medidas preventivas eficientes, a solidariedade é tida como o grande trunfo a favor dos mais prejudicados. Um exemplo é a iniciativa da publicitária Cristiana Soares, que, após assistir na televisão notícias sobre os danos causados pelas tempestades, fundou o Projeto Enchentes. Trata-se de um site colaborativo e voluntário, em que cada um ajuda como pode. O espaço virtual atua como canal de prestação de serviço de informação e de conexão entre pessoas no enfrentamento de enchentes em todo o Brasil.
“Comecei a questionar sobre as enchentes no Twitter”, conta ela. “Em pouco tempo pessoas começaram a se oferecer para ajudar na construção do site e tínhamos uma rede que estava fazendo acontecer”, revela a publicitária.
Outro caso é o da Faculdade Anhanguera que lançou o Trote Responsável sob o slogan de “Você começa seu projeto de vida e ajuda outras pessoas a recomeçarem.” O objetivo é ajudar vítimas de enchentes e despertar nos alunos a solidariedade. “Com essa iniciativa, estabelecemos uma interface com a sociedade para o exercício da cidadania, alertando-a para a responsabilidade social e possibilitando que as pessoas desabrigadas retomem suas vidas com melhores condições”, diz a professora Maria Elisa Erhardt Carbonari, vice-presidente de programas institucionais da instituição de ensino.
O programa é uma competição que acontece nas 54 unidades da faculdade e os alunos precisam arrecadar doações de todo o tipo. A campanha vai até 25 de março e tem a intenção de ajudar mais de 46 mil vítimas de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
*Publicado originalmente no portal As Boas Novas.