Agência Internacional de Energia vai defender na próxima Conferência do Clima a redução da ajuda estatal às indústrias do petróleo e carvão, que estaria colocando o planeta no rumo de um aquecimento de 3,5°C até o fim do século.
Utilizando dados do relatório Panorama Energético Mundial 2011, que será lançado no próximo dia 9, e aproveitando a proximidade da Conferência do Clima da ONU (COP17), agendada para o dia 18 na África do Sul, a Agência Internacional de Energia está se esforçando para deixar clara a necessidade de acabar com os subsídios para os combustíveis fósseis.
“Atualmente US$ 409 bilhões estão sendo gastos para baratear os custos da produção e distribuição dos combustíveis fósseis. Isto prejudica os investimentos em fontes alternativas de energia e incentiva a continuidade da queima de petróleo e carvão”, explicou Faith Birol, economista chefe da AIE em entrevista para o portal Euroactiv.
Segundo informações da Agência, os subsídios globais devem atingir US$ 660 bilhões em 2020 a menos que reformas sejam aprovadas para eliminar efetivamente essa forma de ajuda estatal.
A AIE estima que a ajuda para as fontes fósseis aumentou quase US$ 100 bilhões desde 2009, quando foi registrado o gasto de US$ 312 bilhões. Os produtores de petróleo receberam a maior parte desses recursos, com US$ 193 bilhões em 2010, enquanto US$ 91 bilhões foram para o gás natural. O Irã e a Arábia Saudita são os maiores beneficiados.
De acordo com Birol, cortar o apoio estatal aos combustíveis fósseis seria a forma mais direta e objetiva de direcionar o mundo para uma economia mais sustentável e também para frear o aquecimento global.
“No Panorama Energético Mundial 2011 deixaremos claro que se continuarmos com essa política de subsídios o mundo caminhará para um aquecimento de pelo menos 3,5°C até o fim do século”, afirmou o economista.
O Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC) acredita que se a temperatura subir tanto assim, o planeta passará por mudanças irreversíveis, incluindo a extinção de até 70% das espécies.
Cortar é difícil
Muitas vezes quando se pensa em subsídios imagina-se a ajuda para grandes indústrias, mas boa parte do apoio estatal para os combustíveis fósseis é direcionada para o bolso do cidadão comum.
É o caso, por exemplo, dos taxistas franceses, que recebem um desconto anual nos impostos para compensar os gastos com gasolina. Os britânicos também contam com a ajuda do governo para aliviar a conta com o aquecimento a gás das suas residências no inverno. Na Arábia Saudita, os investimentos do governo para reduzir o custo da eletricidade equivalem a US$ 1587 anuais para cada cidadão.
Assim, qualquer tentativa de cortar subsídios aos combustíveis fósseis acaba sendo bastante impopular e depende muito do cenário político de cada país. Em dezembro do ano passado, a Bolívia tentou reduzir os subsídios para a gasolina e acabou enfrentando protestos violentos e teve que voltar atrás.
O que a AIE destaca é que as pessoas e empresas beneficiadas não se dão conta do impacto negativo dessa ajuda. De desastres ambientais a problemas de saúde pública, os cofres públicos acabam gastando bilhões para remediar as consequências dos subsídios.
Por isso, a Agência acredita que a Conferência do Clima deste ano é o momento ideal para dar início a uma maior conscientização da sociedade e também para começar um corte sistemático nos subsídios aos combustíveis fósseis.
“Se quisermos manter o aumento da temperatura em no máximo 2°C os cortes precisam ser feitos o mais rápido possível. É fundamental coordenar uma ação internacional já a partir da COP17”, resumiu Birol.
* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.