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Ajuda continua sendo necessária na África ocidental

Ouagadougou, Burkina Faso, 10/10/2012 – Apesar da abundância de chuvas que prometem boas colheitas para a próxima safra, os agricultores de pequena escala e as organizações não governamentais pedem que continuem recebendo apoio com vistas a erradicar a insegurança alimentar na região africana do Sahel. O Comitê Interestatal Permanente para o controle da seca no Sahel prevê que, em 2012-2013, serão colhidas entre 57 e 64 milhões de toneladas de grãos na África ocidental. Isto representaria aumento entre 5% e 17% em relação à safra anterior.

“Alguns estudos indicam que cerca de 30% da produção de cereais são perdidos durante e depois da colheita devido às inadequadas técnicas usadas para coleta, transporte e armazenamento; por isso somos apenas cautelosamente otimistas” (de que haverá alimentos para todos), disse Roland Béranger Béréhoudougou, diretor regional de resposta aos desastres e assistência humanitária na organização não governamental Plano Internacional. No entanto, a Rede de Organizações de Agricultores e Produtores Agrícolas da África Ocidental (Roppa) e a organização Oxfam afirmam que a região ainda enfrenta sua terceira maior crise alimentar em menos de uma década.

Segundo essas entidades, para evitar que a próxima seca se converta em uma emergência humanitária, doadores e governos devem apoiar os investimentos nas capacidades produtivas dos pequenos produtores, e aumentar as reservas de alimentos. Isto possibilitará uma resposta imediata a futuras crises e ajudará as comunidades a lidarem com a volatilidade. A Oxfam observou que, mesmo em um ano de boas colheitas, 20% da população sofre desnutrição e fome, enquanto 230 mil crianças em todo o Sahel morrem por causas vinculadas a estes problemas.

Além disso, a instabilidade em Mali, onde um governo de transição lida com a captura do norte do país por parte de grupos islâmicos, ameaça provocar uma aguda queda de inclusive um terço da produção de arroz nessa parte de seu território, enquanto metade de todos os animais poderá ser perdida em algumas regiões, informou a Oxfam. “A cada dois anos estamos em crise”, disse Issiaka Ouandaogo, diretor de assuntos humanitários no escritório da Oxfam em Burkina Faso.

“Assim, mesmo quando temos um ano bom, 20% da população do Sahel ainda sofre insegurança alimentar. Precisamos ajudar os pequenos produtores a impulsionar sua resiliência. Isto significa que o acesso a sementes e outros insumos agrícolas deve ser o eixo”, acrescentou Ouandaogo. Sucessivas colheitas falidas deixaram algumas famílias rurais fortemente endividadas, por isso parte de uma boa colheita agora será destinada a pagar os empréstimos, normalmente feitos com juros muito altos, disse Béréhoudougou à IPS.

Em algumas aldeias da região ocidental nigeriana de Tillaberi os pequenos produtores que devem dinheiro aos mercadores locais venderam antecipadamente sua produção de milho pelo equivalente a US$ 14 a saca, e às vezes por menos. O preço real no período imediatamente posterior à colheita fica entre US$ 20 e US$ 30, segundo. “O preço do milho pode aumentar inclusive para US$ 72 durante o período ruim”, bem antes da colheita do ano seguinte, disse Béréhoudougou. “É preciso pôr fim ao ciclo infernal de endividamento das famílias rurais com uma variedade de ações, como transferências de dinheiro, programas de dinheiro por trabalho, microfinanças e bancos de cereais”, acrescentou.

Bassiaka Dao, presidente da Confederação Camponesa de Burkina Faso, disse que em seu país “há apoio aos agricultores, mas que não atende as necessidades dos produtores no terreno. Os agricultores têm que ser capacitados no manejo de sementes melhoradas e de fertilizantes subsidiados”, afirmou. Segundo Dao, 80% dos pequenos produtores não desfrutam deste tipo de apoio governamental. Anualmente é anunciada a distribuição de fertilizantes e sementes, que não se concretiza ou os agricultores recebem muito pouco, apenas um ou dois sacos de fertilizante para toda a temporada, contou à IPS.

No ocidente de Burkina Faso, a Oxfam entregou US$ 20 mil a um fundo para pequenos empréstimos que permite aos agricultores comprar estes insumos vitais. Suas necessidades são modestas, explicou Dao: talvez, entre US$ 40 e US$ 60 para um produtor que trabalha um hectare. Segundo Dao, desde que foi criado em 2010, o fundo da Oxfam ajudou 120 agricultores nessa parte do país. O pagamento dos empréstimos foi excelente: este ano, 184 produtores obterão os seus graças ao fundo, que aumentou para US$ 46 mil.

“Atualmente, seus beneficiários produzem duas mil toneladas de grãos em conjunto. Alguns compraram animais e saíram da pobreza”, observou Dao, que pede um sistema de créditos que se adapte à renda dos pequenos produtores. “Nenhum dos bancos formais ou instituições de microfinanças se ajustam às nossas necessidades em matéria de créditos”, ressaltou.  Envolverde/IPS