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Ajustes geram violentos protestos na Grécia

Doha, Catar, 21/10/2011 (IPS/Al Jazeera) – Milhares de manifestantes, furiosos com as medidas de austeridade do governo da Grécia, se concentraram diante do parlamento no segundo dia de greve geral e de protestos em massa. O mal-estar explodiu com a aprovação ontem de uma lei de austeridade que reduzirá os salários e aumentará os impostos. Os manifestantes começaram a se reunir no começo da manhã na Praça Syntagma, em Atenas, perto da sede do Congresso, e um sindicato apoiado pelo Partido Comunista anunciou que o prédio seria cercado para impedir a entrada dos representantes.

No dia 19, os 154 deputados do governante Partido Socialista votaram a favor das medidas de austeridade, as quais foram revistas ontem, quando terminaram a aprovação de alguns artigos específicos. A iniciativa era considerada fundamental pelas autoridades para receber outro resgate e evitar a suspensão de pagamentos. No mesmo dia, os manifestantes jogaram pedras e bombas incendiárias contra a polícia diante do parlamento, enquanto dezenas de milhares de pessoas se concentravam no primeiro dos dois dias de greve geral.

Uma multidão descontente se aventurou por uma escada da própria sede parlamentar e incendiou o abrigo ocupado por um guarda do cerimonial do túmulo do soldado desconhecido. A polícia respondeu com gás lacrimogêneo, em uma tentativa de acalmar a enorme revolta que crescia na Praça Syntagma, ponto de concentração dos manifestantes. Mais de sete mil policiais foram mobilizados na cidade prevendo excessos, além de centenas de oficiais antidistúrbios colocados perto do parlamento.

Os dois dias de paralisação foram descritos como a “mãe de todas as greves”, pois afetou todos os aspectos da vida pública, informou Andrew Simmons, jornalista da rede de televisão em árabe Al Jazeera. “Os manifestantes queriam que fosse seu dia e propagavam a mensagem de basta de cortes selvagens”, afirmou. “Porém, a mobilização foi afetada por uma minoria violenta de não mais de 200 pessoas que queriam enfrentar a polícia”, acrescentou.

Houve vários feridos, principalmente com queimaduras menores e cortes na cabeça, bem como enfrentamentos longe da concentração maciça, que reuniu mais de cem mil pessoas, segundo a polícia. “O clima era de grande mal-estar. Também havia uma enorme frustração dos que queriam se expressar acima do gás lacrimogêneo”, disse Simmons.

O governo se mostrou reticente em continuar o diálogo com os sindicatos para discutir alternativas para promover o crescimento. “Por outro lado, chama à unidade alegando que não há outra solução a não ser fazer o que deve ser feito para obter o segundo pacote de resgate”, acrescentou o jornalista. Os doadores internacionais exigem cortes no setor público e nas aposentadorias e demissões em massa em troca de dinheiro para evitar a suspensão de pagamentos.

A última greve deixou repartições públicas, empresas privadas e serviços públicos sem funcionar, além do comércio, enquanto os vôos e o transporte público foram cancelados ou ficaram comprometidos. “A quem tentam enganar? Não vão nos salvar. Com estas medidas, os pobres serão mais pobres e os ricos serão mais ricos. Por isso digo, não, obrigado, não quero seu resgate”, afirmou o funcionário público Akis Papadoulos, de 50 anos.

Também houve enfrentamentos que prejudicaram a mobilização na Ilha de Creta, onde mais de 20 mil pessoas se reuniram para protestar contra o projeto de lei, bem como nas cidades de Thessaloniki, Volos, Lamia e Patras, informou a polícia. O protesto do dia 19 coincidiu com o esforço de líderes da União Europeia de se chegar a tempo com a aprovação de um novo pacote de resgate para a cúpula do dia 23, quando esperam aprovar medidas de proteção ao sistema financeiro do bloco, diante da possibilidade de a Grécia cair na suspensão de pagamentos.

“Estamos em uma luta angustiante, mas necessária, para evitar o pior e o mais duro da crise”, disse o ministro das Finanças, Evangelos Vanizelos, ao parlamento. “De hoje até o dia 23, estaremos lutando a mãe de todas as batalhas”, ressaltou. Com a profunda recessão que afeta o país pelo terceiro ano consecutivo, e afogada pela dívida pública que chega a 162% do produto interno bruto, que pouquíssimos acreditam ser possível pagar, a Grécia afundou em uma profunda crise econômica.

Os sindicatos pediram aos deputados, sem êxito, para não aprovarem a lei. “Se lhes resta algo de humanidade, orgulho, decência e de alma de gregos devem rejeitar o projeto”, protestou Nikos Koutsoukis, representante do sindicato de trabalhadores privados (GSEE) e líder dos protestos, junto com sua contraparte do setor público, Adedy. “Os funcionários civis perderão 15% de seu salário, 30 mil serão suspensos com um pagamento parcial, dez mil a mais do que os previstos inicialmente”, afirmou Simmons. “Receberão 60% de seu salário por um ano, esperando-se que nesse prazo consigam um novo trabalho, e serão encerrados todos os contratos temporários com o Estado”, acrescentou o jornalista.
* Publicado sob acordo com a Al Jazeera.