Distrito de Neno, Malawi, 1/7/2011 – A 70 quilômetros de Blantyre, a capital comercial de Malawi, uma rentável cooperativa dá emprego aos moradores e preserva a floresta. Como outras áreas florestais localizadas a uma distância razoável de áreas urbanas, a floresta de Zalewa, no Distrito de Neno, sofre as consequências da ação de pessoas que buscam lenha.
Um estudo divulgado em maio pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento estima que a lenha fornece 95% da energia nas moradias rurais e 55% nas urbanas, e que esta elevada demanda está causando um grande desmatamento no país. Zalewas não é a exceção. A área se estende em uma zona seca, com chuvas escassas, por isso frequentemente a terra é difícil de cultivar. Isto obriga muitas pessoas a ganhar a vida vendendo carvão e lenha.
“Até por volta do ano 2000, as pessoas daqui não sabiam que podiam se beneficiar desta floresta de um modo mais rentável e ao mesmo tempo mantê-la”, disse Tedson Kameta, ex-produtor de carvão. Uma das árvores apreciadas para a produção de carvão é o tamarindo, típica da floresta de Zalewa, afirmou. O tamarindo produz um carvão duro que queima por mais tempo. Atualmente Kameta integra o coletivo Village Hands (Mãos da Aldeia), que deixou de cortar e queimar árvores para colher frutos silvestres destinados ao crescente mercado interno de Blantyre e outras localidades.
Por muito tempo a população local deixou de molho baobás e tamarindos para elaborar uma bebida. David Zuzanani, gerente de Operações da Village Hands, disse que até que, em 1996, chegasse à aldeia um projeto, seus moradores não tinham ideia de que podiam transformar essa bebida no centro de um empreendimento comercial. Naquele ano, a organização não governamental Sociedade para a Natureza e o Meio Ambiente de Malawi (Wesm), com apoio da GTZ (agência alemã de cooperação técnica), criou um projeto de conservação florestal na área.
O projeto criou viveiros de árvores autóctones e atividades geradoras de renda, entre elas criação de abelhas e galinhas da Guiné, e fabricação de móveis de cana, como alternativas à elaboração do carvão. O projeto também melhorou e comercializou a produção de suco, que tem o impacto mais duradouro, segundo os moradores. “Tão logo as pessoas se deram conta de que podiam ganhar dinheiro com o suco e as frutas, começaram a criar consciência em suas áreas para proteger a floresta”, disse Zuzanani, que também trabalhou para o projeto Wesm.
Agora a cooperativa engarrafa até dez mil litros de suco por mês, utilizando a capacitação da Wesm e da GTZ para produzir bebidas de qualidade aprovada pelo Escritório de Padrões do Malawi. O suco é vendido pelo equivalente a US$ 1,60 em grandes supermercados, como o Shoprite, e em postos de combustível, o que permite faturar cerca de US$ 2 mil por mês. A cooperativa emprega em tempo integral 11 trabalhadores locais em sua fábrica de um ambiente. Outros encontram nela trabalho casual, separando e descascando frutas.
A produção é totalmente manual. É preciso deixar a fruta de moto em três grandes contêineres, antes da pasteurização e da obtenção da polpa. Uma técnica inovadora é extrair os nutrientes adicionais das sementes de baobá para dar a um de seus sucos um sabor diferente e uma cor amarronzada.
A cooperativa compra toda fruta que utiliza dos aldeões. Em 2008, Kameta ganhou US$ 100 a partir da venda do fruto dos baobás de suas terras. Comprou três cabras e alimento para suas vacas leiteiras. No ano passado, colheu o equivalente a 40 sacas e ganhou US$ 200. Pretende comprar um carro puxado por bois e começar a criar galinha da Guiné.
A Village Hands é dirigida por 14 pessoas, incluindo um chefe de cada aldeia. Sua junta de assessores é formada por empresários, ambientalistas e especialistas em garantias de qualidade. Sua missão declarada é “usar as florestas indígenas da área de maneira sustentável e com desenvolvimento de empresas locais para criar uma fonte de renda alternativa à produção de carvão para as comunidades”.
Em anos de bons lucros, dividem os ganhos financiando um projeto que cada aldeia escolhe. “Algumas escolheram centros para órfãos. Financiamos vários pequenos projetos desse tipo. Mas buscamos fazer crescer o negócio para poder financiar projetos maiores, como escolas”, disse Zuzanani.
Apesar dos avanços, a produção de carvão ainda é o principal inimigo da empresa. “Protegemos áreas florestais próximas das áreas povoadas. Ninguém pode tocá-las. As aldeias as protegem”, disse Zuzanani. Boa parte da destruição acontece mais longe, afirmou. “Essas pessoas têm dinheiro e podem corromper qualquer um. Os chefes trabalham duramente para evitar isso, mas também precisamos da ajuda do Departamento Florestal”, acrescentou.
Um funcionário florestal instalado no principal controle rodoviário do Rio Shire, por onde passa o carvão rumo a Blantyre, confirmou a corrupção. Em declarações feitas com a condição de não revelar sua identidade, disse que é difícil para seu departamento controlar o comércio. “O governo diz que os comerciantes de carvão deveriam ser presos. Isto não é prático. Não há lei para isso. Além do mais, no comércio existem indivíduos com poder econômico e contatos políticos que podem te demitir se você criar problemas”, acrescentou.
Porém, os aldeões pensam que a empresa é o instrumento mais importante para a redução da pobreza na área. “A fábrica é a melhor ferramenta para melhorar as condições de vida de muitas pessoas aqui, pode-se crescer. Assim, esperamos que o governo veja o que estamos fazendo e expulse esses comerciantes”, disse Belita Ngomano, dona de uma pequena loja de alimentos perto da fábrica. Ela e seu marido abriram o negócio em 2009 com capital obtido, em parte, com a venda de frutos de tamarindo à fábrica. Envolverde/IPS