O olho da tormenta está focado em Atenas e na perspectiva de que a Itália seja a próxima grande vítima da crise. Entre os dias 9 e 12, a Alemanha, a economia mais pujante da Europa, começou a marcar a linha do horizonte, ou seja, a saída de Atenas do euro. A quebra da Grécia e seu afastamento do euro faz parte dos cenários possíveis com os quais trabalha a presidência francesa.
A Grécia está com os bolsos vazios, as bolsas europeias desmoronam como castelos de areia, a Alemanha empurra a Grécia a sair do euro, a Itália se aproxima do precipício, os organismos multilaterais evocam uma “desaceleração generalizada” da economia mundial, a banca francesa e europeia, arrastada pelo abismo de Atenas, registrou perdas enormes nos últimos meses, enquanto os responsáveis políticos se mostram incapazes de tomar ações ou emitir sinais concretos. O que parecia um cenário de ficção científica está se tornando realidade a cada dia: a possibilidade de que a Grécia se declare em falência e saia do euro já é um horizonte tangível.
O Secretário de Finanças grego, Filipos Sajinidis, revelou no dia 12 que o dinheiro de que a Grécia dispõe para pagar os salários públicos e as aposentadorias só vai até o mês de outubro. Isso torna uma questão de vida ou morte para Atenas receber a sexta parcela do empréstimo internacional de 110 bilhões de euros aprovado em maio do ano passado.
A Grécia espera um desembolso de 8 bilhões de euros correspondente a este empréstimo que está condicionado aos resultados de um informe elaborado por especialistas do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, que também devem aprovar um segundo pacote de ajuda de 160 bilhões de euros. Os especialistas aprovarão esses empréstimos desde que Atenas apresente um plano econômico “rigoroso” similar aos planos do FMI e do Banco Mundial, que já decapitaram tantos povos do planeta.
Mas nem assim a crise se alivia. A banca europeia está em uma situação castastrófica em função do tsunami grego. Os bancos franceses são os mais afetados pela crise que leva o liberalismo europeu a uma agonia sem fim. BNP Paribas, Société Générale e Crédit Agricole perderam em apenas algumas horas 12% de seu valor. Em termos globais, os bancos do Velho Continente que têm ações na bolsa chegaram a níveis ainda mais baixos do que aqueles de setembro de 2008, quando ocorreu a quebra do Lehman Brothers.
O euro seguiu o mesmo caminho ladeira abaixo. A moeda única europeia registrou seu piso mais baixo dos últimos dez anos frente ao yen. Os poderes públicos começam a integrar as piores opções em suas respostas. O ministro francês de Economia, François Baroin, assegurou que, aconteça o que aconteça com a Grécia, “os bancos franceses têm os meios de enfrentar a situação”. No entanto, vários observadores não descartam a perspectiva de que, diante da hecatombe, os bancos se vejam obrigados a pedir o apoio do Estado para reforçar seus próprios fundos. Jean Claude Trichet, porta-voz do grupo dos principais bancos centrais, esclareceu que havia disposição “para fornecer aos bancos a liquidez exigida, em quantidades ilimitadas”.
Esta sinfonia de incêndios que invadem o castelo liberal não alterou a postura das autoridades mundiais do G7 que se reuniram neste fim de semana na localidade francesa de Marsella. Os países mais industrializados do planeta colocaram um ovo vazio. O G7 se comprometeu a apresentar uma resposta “coordenada” ao retrocesso das economias, mas seus membros foram incapazes de propor medidas concretas e imediatas.
Os mercados responderam a essa cúpula de comunicados pomposos, mas vazios de conteúdo. Sumino Kamei, membro do banco Tóquio-Mitsubishi disse à imprensa que muitos se perguntavam hoje se “os membros do G7 eram capazes de fazer alguma coisa”. Parece que não. Impávidas, sem uma linha clara e comum, as sete potências (Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Canadá e Japão) não fizeram mais do que demonstrar sua absoluta impotência diante do pêndulo dos mercados, dos desarranjos bancários, das dívidas públicas, dos déficits e do crescimento.
O olho da tormenta está focado em Atenas e na perspectiva de que a Itália seja a próxima grande vítima da crise. Entre os dias 9 e 12, a Alemanha, a economia mais pujante da Europa, começou a marcar a linha do horizonte, ou seja, a saída de Atenas do euro. Altas autoridades alemãs e aliados da coalizão da chanceler alemã Angela Merkel falaram abertamente sobre essa possibilidade. Philipp Rösler, ministro da Economia alemão, declarou que “para estabilizar o euro no curto prazo não deve haver tabus na hora de refletir”. Tabus quer dizer: tirar a Grécia do euro. A quebra da Grécia e seu afastamento do euro faz parte dos cenários possíveis com os quais trabalha a presidência francesa.
Ao mesmo tempo em que Paris denuncia “a irracionalidade” dos mercados, os responsáveis econômicos se preparam para o pior. Ninguém parece saber a que profundidade de irracionalidade e de crise se chegará nas próximas semanas. No dia 12 de setembro, a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com sede em Paris, publicou um comunicado no qual destaca que os “indicadores avançados” assinalam uma “desaceleração generalizada” das principais economias mundiais.
Tradução: Katarina Peixoto.
* De Paris.
** Publicado originalmente no site Agência Carta Maior.