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Alerta por causa de críticas às vacinas na Argentina

Buenos Aires, Argentina, 10/5/2013 – A Argentina é um dos países com maiores níveis de cobertura de vacinação da América Latina. Porém, especialistas alertam para a crescente onda de críticos que fazem campanha contra a imunização. “As vacinas salvaram tantas vidas quanto a água potável. Arriscar-se a não aplicá-las é como brincar de roleta russa”, disse à IPS a médica Carlota Russ, secretária do Comitê de Infectologia da Sociedade Argentina de Pediatria.

Esta especialista afirmou que em países industrializados a cobertura e a cultura da vacinação diminuem, gerando o risco de reemergência de doenças já controladas, como o sarampo. “Na Argentina, felizmente, a corrente antivacinas não é forte”, disse. Porém, quando há um caso de resistência às vacinas que chega à justiça, a história adquire grande impacto nos meios de comunicação e produz uma onda de incerteza que alcança os consultórios médicos, lamentou Russ.

Adultos instruídos e informados com filhos pequenos se veem seduzidos por teorias naturistas, que dizem para serem pais responsáveis e não vacinarem as crianças para evitar supostos efeitos adversos causados pela inoculação de vírus, bactérias ou substâncias tóxicas. O caso de um casal que se negava a vacinar o filho chegou, em 2012, até o Supremo Tribunal de Justiça, que ordenou a aplicação do plano de imunização de “maneira compulsiva”, caso necessário, “pelo interesse superior do menor”.

Em diálogo com a IPS, o pediatra Eduardo Yahbes, da Associação Médica Homeopática Argentina, que essa família “esteve mal defendida”, e resgatou seu direito de se negar a cumprir a obrigação sanitária. O especialista é um dos profissionais da saúde que alimentam o site Libre Vacunación (Livre Vacinação), no qual são qualificadas de “mitos” as ideias sobre a inoculação ser segura e efetiva, ou ser a única maneira de prevenção para a doença.

“As vacinas não são efetivas, há toda uma fraude com a ideia de que graças às vacinas desapareceram as enfermidades infectocontagiosas”, afirmou o pediatra, que pratica a medicina alternativa. Yahbes citou múltiplas pesquisas que apontam os efeitos adversos das vacinas e culpou “o sistema médico hegemônico dominante” de “violar os direitos humanos” das pessoas forçando-as a receber tratamentos médicos que rejeitam.

Na Argentina, o calendário de imunização obrigatória, que incluía quatro vacinas em 1970 agora soma 16, e, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, é um dos mais completos do continente. Além das tradicionais, como a BCG (antituberculose) ou a Sabin (contra a pólio), foram acrescentadas nos últimos anos novas vacinas como a que previne o vírus do papiloma humano, causador do câncer de colo de útero.

Russ explicou que as vacinas são “fundamentais para reduzir possibilidades de enfermidade e complicações, e se são obrigatórias é porque se considera que o peso dessa doença é suficientemente importante para dela se proteger”. Em contraste, disse que, enquanto na Europa ou nos Estados Unidos voltaram a aumentar os casos de sarampo, na América Latina foram registrados alguns importados de outras áreas do mundo. “Estamos cobertos, mas não se pode baixar a guarda”, ressaltou.

A médica admitiu que “os eventuais efeitos adversos existem, como ocorre com qualquer medicamento. Mas são tão mínimos que justificam a vacina”. Russ também se referiu à relação entre autismo e vacinas, que Yahbes introduziu em um artigo de 2011 na publicação Homeopatia para Todos, da associação argentina dessa disciplina. Ela garantiu que a teoria resultou “desastrosa por causa dos danos que causou e se mostrou não ser a certa”.

Assim Russ se referiu à revista científica britânica The Lancet, que em 2010, a pedido do Conselho Médico Geral Britânico, se retratou de um artigo sobre essa suposta vinculação divulgada em 1998 nessa publicação pelo pesquisador Andrew Wakefield. Este propôs a existência de um vínculo entre a vacina tripla viral, que previne sarampo, bócio e rubéola, e o autismo e alguns problemas gastrointestinais. Após uma pesquisa, o Colégio considerou que o médico britânico “agiu desonestamente e de modo irresponsável” e o proibiu de exercer a medicina.

Entretanto, tais versões se espalharam e têm novos adeptos no campo da medicina alternativa e na filosofia à qual se liga. Como resultado, a cobertura de vacinação contra o sarampo caiu em países desenvolvidos provocando a reemergência de casos da doença.

Na Argentina a vacinação integrada ao calendário oficial é legalmente obrigatória e gratuita. Desde 2009 também é uma exigência para se receber uma ajuda monetária que consiste em uma transferência direta de dinheiro para famílias com filhos. Esta transferência é dada a famílias de pais sem emprego ou que trabalham na economia informal, com filhos menores de 18 anos ou deficientes de qualquer idade, em troca de frequentarem a escola, controles médicos ecertificado de vacinação completo. Envolverde/IPS