Metade do ano se foi com a economia mundial ainda a emitir fracos sinais de recuperação, o que mantém um clima de “alta imprevisibilidade” quanto ao crescimento das nações líderes até o fim de 2012, segundo expressou o presidente chinês Hu Jintao em mensagem enviada aos demais integrantes do G-20 em junho último.
No que diz respeito ao Brasil, a sexta economia mundial desacelerou (como todas as outras), mas está numa situação relativamente melhor, com uma política econômica virtuosa que mantém a linha de desenvolvimento com inclusão social, um controle da inflação bem ajustado e uma política fiscal que comparada aos demais países é nitidamente superior em seus resultados.
O PIB cresceu 0,2% no primeiro trimestre e a média de crescimento em 2012 está praticamente dada, 2%, um pouco mais um pouco menos. Vai ser preciso um grande esforço no segundo semestre para voltar a crescer acima disso, respeitada a “alta imprevisibilidade” da situação mundial. É preciso esperar os efeitos das medidas que o governo brasileiro vem adotando para reanimar os investimentos e reaquecer o consumo que vão determinar o crescimento até o final do ano e o seu ritmo em 2013. Acredito que quando compararmos o quarto trimestre de 2012 com o mesmo período de 2011 já estaremos retomando a “velocidade de cruzeiro”, com o PIB crescendo entre 4% e 4,5%.
Quanto às demais economias líderes, os Estados Unidos que respondem por 20% do PIB mundial estão se recuperando mais lentamente do que se esperava, mas com uma vantagem sobre todas as demais porque estão mudando com rapidez a sua estrutura produtiva, recorrendo cada vez mais à inovação e à disponibilidade do crédito. Com os recursos que podem mobilizar, colocaram em marcha uma inteligente política industrial que leva em conta a fragmentação dos processos produtivos, estimula a produção de energia renovável e amplia os incentivos aos setores das indústrias química e eletrônica. Os resultados desses programas estão se refletindo no aumento dos investimentos para a ampliação da capacidade produtiva da indústria, com a incorporação de novas tecnologias.
A China, segunda maior economia, na crença que o crescimento dos demais países vai continuar fraco e que suas exportações vão enfrentar uma demanda global igualmente fraca, reage ao ambiente de “imprevisibilidade” anunciando “medidas para ajustar a estrutura econômica e construir mecanismos de longo prazo para aumentar a demanda interna”. Segundo a mensagem de Hu Jintao, citada pela agência Reuters, “esses esforços são feitos para assegurar que a economia da China seja comandada pelo consumo, investimento e exportações, para garantir crescimento firme e robusto e manter a harmonia e a estabilidade social”.
Claramente o esforço chinês está sendo redirecionado para a expansão do mercado interno, com os investimentos na construção civil (habitação em primeiro lugar) e nas obras de infraestrutura orientadas, prioritariamente, ao desenvolvimento do interior do país.
A economia dos países da Ásia em 2012 (31% do PIB mundial), como todas as demais, enfrenta os efeitos da crise financeira global, mas não deverá crescer menos do que 5%, com a China próxima de 7,5%, a Índia uns 6% e o Japão um pouco acima dos 2%.
Onde os problemas continuam dramáticos, com enormes riscos (sem perspectiva de melhora substancial pelos próximos dois ou três anos) é nos países da Zona do Euro. Em meio ao nevoeiro da “alta imprevisibilidade”, na situação instável em que se encontra a Eurolândia, uma crise bancária aguda imporia ao continente uma recessão equivalente àquela dos anos 30 do século passado.
Hoje parece claro a todos que a tarefa de dar tranquilidade ao mundo será criar uma verdadeira união monetária e entregar a garantia da estabilidade do sistema financeiro ao Banco Central Europeu para exercer o papel de emprestador de última instância, com capacidade de emitir títulos de responsabilidade solidária de toda a Eurolândia.
Finalmente, a América Latina. Com 6% do PIB mundial, vai ter um crescimento em torno de 3%, com destaque para o Peru e a Colômbia. Quanto ao comportamento da inflação, há problemas na Argentina e na Venezuela, às voltas com taxas de 25%, mas com todos os demais países abaixo de 6%, o Brasil chegando ao final do ano com menos de 5%, graças às políticas bem ajustadas da Fazenda e do Banco Central.
* Delfim Netto é economista, formado pela USP e professor de Economia, foi ministro de Estado e deputado federal.
** Publicado originalmente no site Carta Capital.