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Ameaça de redução na ajuda aos palestinos

Washington, Estados Unidos, 16/9/2011 – Na próxima semana será submetido a votação na Organização das Nações Unidas (ONU) um novo status para os territórios palestinos ocupados por Israel, mas Washington já deixou claro que se opõe a toda iniciativa que não seja continuar com as negociações entre as duas partes em disputa no Oriente Médio. Após meses de especulações, o governo do presidente Barack Obama confirmou que vetará toda resolução sobre a declaração do Estado palestino que surgir no Conselho de Segurança da ONU.

Washington “se opõe a toda iniciativa dos palestinos na sede da ONU em Nova York para tentar criar um Estado judeu, o que só pode ser conseguido mediante negociações”, disse no dia 7 a porta-voz da chancelaria, Victoria Nuland. “Se houver uma votação no Conselho de Segurança, o representante norte-americano a vetará”, assegurou. A Casa Branca também tentou dissuadir os palestinos de continuarem com a medida, e procurou convencer outros países, especialmente da Europa, a votarem contra a iniciativa na Assembleia Geral da ONU.

O Departamento de Estado se mostrou muito reticente em colocar em risco a ajuda financeira, que este ano chegou a US$ 550,4 milhões e há pedidos de US$ 513,4 milhões para 2012, como forma de resposta à iniciativa dos palestinos nas Nações Unidas. “Optamos por não utilizar a ajuda humanitária dessa forma. Como sabem, é para ajudar o povo palestino e cobrir suas necessidades humanitárias”, disse Nuland no dia 22 de agosto.

Contudo, alguns membros do Congresso não dizem o mesmo. E Obama recordou aos palestinos que é ele quem decide sobre a assistência estrangeira e pode tomar outra decisão. O Congresso, sob forte pressão do lobby pró-Israel, costuma ser hostil aos palestinos. A situação é ainda mais complicada depois que o governante Partido Democrata perdeu a cadeira de Nova York que manteve durante décadas, por uma disputa na qual o apoio ao Estado judeu foi central.

“Os Estados Unidos não fizeram mais do que reforçar e recompensar o mau comportamento dos palestinos com os US$ 2,5 bilhões concedidos nos últimos cinco anos”, disse a presidente do Comitê de Assuntos Externos da Câmara de Representantes, Ileana Ros-Lehtinen. “Os dirigentes palestinos não tomarão nenhuma decisão enquanto não forem obrigados”, acrescentou. “Se quer conseguir algo, o governo deve deixar de buscar a forma de evitar os requisitos que a Autoridade Nacional Palestina (ANP) deve cumprir para receber ajuda dos Estados Unidos”, insistiu.

Ileana apresentou o projeto de Reforma, Responsabilidade e Transparência da ONU, que pretende reduzir “as contribuições dos Estados Unidos a toda entidade que conceda o status de membro, ou algum outro, à missão palestina de observação”. O presidente do subcomitê para Oriente Médio e Ásia Meridional, Steve Chabot, foi ainda mais categórico. “Se os palestinos continuarem por esse caminho, a questão neste Congresso não será que porção da ajuda retiramos, mas qual desejamos”. Ileana e Chabot, ambos do opositor Partido Republicano, também criticaram Obama pela gestão do assunto. E também há democratas que defendem a redução da ajuda aos palestinos.

“O Congresso é muito generoso em sua colaboração com os valiosos esforços da ANP para construir suas instituições e a economia da Cisjordânia”, afirmou o representante Howard Berman, ex-presidente do Comitê de Assuntos Externos da Câmara de Representantes. “No entanto, considero adequado esclarecer que, se os palestinos continuarem por um caminho unilateral, as centenas de milhões de dólares anuais que receberam nos últimos anos, provavelmente, acabarão, isso pode levar ao fim da ANP”, acrescentou.

No dia 12, outros quatro democratas apresentaram um projeto de lei na Câmara de Representantes “proibindo a ajuda a programas militares estrangeiros para os países que votarem a favor do Estado palestino na Assembleia Geral da ONU, diante da falta de um acordo negociador entre o governo de Israel e a ANP. Há vários projetos de lei punindo, em parte ou totalmente, os palestinos, a ONU e os países que votarem a favor da iniciativa.

Obama pode ser reticente em reduzir a ajuda aos palestinos, mas, como pretende a reeleição em pouco mais de um ano, não está indo bem nas pesquisas e fracassou na tentativa de conseguir a paz negociada entre palestinos e israelenses, não lutará por este assunto no Congresso e optará por minimizar sua participação no processo de paz até depois das eleições.

“Creio que o que se vê na Casa Branca é cansaço”, disse Robert Malley, ex-assistente especial do presidente Bill Clinton. “Além disso, há a preocupação de não ter outra disputa com Israel e seu primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu antes das eleições”, acrescentou. “Contudo, será arrastado, como ocorreu quando foi assediada a embaixada de Israel no Cairo. Não podem permanecer distantes, mas há uma sensação de enfado e de não assumir riscos políticos”, afirmou Malley.

Por solicitação de Israel, Washington interveio e obrigou o governo egípcio a fazer todo o possível para resgatar os seis funcionários da embaixada. “Os presidentes dos Estados Unidos se envolveram diretamente no processo de paz quando houve uma crise sustentada ou uma oportunidade. De certa forma, o presidente Obama é uma exceção, mas não mantém uma estratégia coerente”, disse Aaron Miller, assessor de seis secretários de Estado em negociações no Oriente Médio.

“É um presidente muito diminuído em um momento importante do ciclo político. Não há razão nem força motora para um confronto com Israel ou para um fracasso grandioso, o que deixaria o governo mais fraco e incompetente”, disse Miller à IPS. “Dê ao governo uma razão para se ver melhor e ele se envolverá. No entanto, em qualquer outra circunstância não tem sentido” para Obama, acrescentou. Envolverde/IPS