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América Central bate à porta do desenvolvimento sustentável

Com a marca Utz’Ki (bom e gostoso, em maia tz’utujil) camponeses da Guatemala vendem produtos orgânicos como mel, geleia e xampu. Foto: Danilo Valladares/IPS

Cidade da Guatemala, Guatemala, 12/3/2012 – A América Central, um istmo entre os oceanos Pacífico e Atlântico, suportou 259 eventos extremos de grande porte associados ao clima entre 1930 e 2009. Muitos outros, de menor escala, nem mesmo foram avaliados em seus efeitos cumulativos. Os desastres crescem 5% ao ano há três décadas, segundo dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).

A própria economia, baseada em monoculturas e movida a combustíveis fósseis, está concebida para exacerbar estes embates e os encaixa cada vez pior. Golpeados por secas, inundações e furacões, que a mudança climática aumenta, os sete países da América Central, com uma população de 47 milhões de pessoas, se veem obrigados a testar algo diferente e transpor o limite do desenvolvimento sustentável.

“Temos uma propriedade agroflorestal e desenvolvemos projetos produtivos como criação de peixes e galinhas poedeiras”, disse à IPS a guatemalteca Nubia Sosa, gerente da Associação Integral Florestal de San Andrés Petén, no norte do país. Desde 1999, esta entidade possui uma concessão do Conselho Nacional de Áreas Protegidas para o manejo de 51.939 hectares de floresta na Reserva da Biosfera Maia, que lhes permite um meio de subsistência sustentável.

“É muito importante ter alternativas que se associem econômica e ambientalmente”, argumentou Sosa. Sua associação ganhou o Prêmio Sasakawa 2011 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), por conservar a biodiversidade e combater a pobreza. O istmo faz parte da região do Grande Caribe – formada por Estados, territórios e ilhas banhados por este mar – e tem em comum com ela uma especial vulnerabilidade natural, agravada pelo aquecimento global.

O último desastre na região foi a depressão tropical 12E, que afetou cerca de 2,6 milhões de pessoas em El Salvador, Costa Rica, Guatemala, Honduras e Nicarágua em outubro de 2011. Os danos na infreaestrutura e nas plantações foram de US$ 1,968 bilhão, segundo a Cepal. Isto sem contar que a região ainda não se recuperou dos estragos dos ciclones Mitch (1998), Stan (2005) e Agatha (2010). Além disso, foi afetada por uma persistente seca em 2009, sobretudo em Nicarágua, Honduras, El Salvador e Guatemala.

A carestia dos grãos básicos e das hortaliças, os danos à infraestrutura produtiva e os elevados preços dos combustíveis fósseis, entre outras consequências, obrigam a uma busca por alternativas sustentáveis. “Para enfrentar esta crise global é fundamental a integração do desenvolvimento econômico responsável, a gestão ambiental dos produtores e empresários, com o uso de ferramentas de produção mais limpas, e ecoeficiência”, disse à IPS Mauricio Chacón, do Programa Desenvolvimento Econômico Sustentável na América Central.

Esta iniciativa, financiada pela Agência de Cooperação Alemã, elaborou um catálogo centro-americano de “negócios verdes” que será colocado na internet para facilmente oferecer às empresas informação sobre novos mercados, negócios, créditos e outros aspectos vinculados. Estes negócios são uma fonte “importante” para a produção relacionada com a proteção do meio ambiente em áreas como alimentos orgânicos, energias renováveis e turismo sustentável, segundo o especialista.

Uma das áreas de maior impulso é a de energia, com a abertura de diferentes projetos eólicos, solares e hidráulicos, mediante alianças de capitais públicos e privados mais a cooperação internacional. Na Guatemala, o Banco Centro-Americano de Integração Econômica assinou, em fevereiro, contrato com um banco privado para administrar uma linha de crédito de US$ 30 milhões, destinada a financiar projetos de desenvolvimento e geração de energias renováveis.

No istmo, os países também levam adiante iniciativas para proteger a produção agrícola, como o Programa Regional de Pesquisa e Inovação por Cadeias de Valor, que trabalha na produção de tomate, mandioca, batata e abacate. Seu objetivo é aumentar a disponibilidade desses alimentos, reduzida pelos eventos climáticos e porque a alimentação na zona rural, onde se concentra a pobreza, está baseada na monocultura do milho. Esta iniciativa está a cargo do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura e é financiado pela União Europeia, com US$ 7,6 milhões.

Se a região não buscar alternativas de produção, o futuro “será de crises alimentar, social e econômica”, disse Mario Ardón, da Associação de Conselheiros para uma Agricultura Sustentável, Ecológica e Humana de Honduras. Isto porque o horizonte centro-americano é tudo, menos animador. Se o mundo mantiver a tendência atual de emissões de gases-estufa crescentes, em 2100 o custo acumulado dos danos da mudança climática na região chegaria a US$ 73 bilhões, equivalentes a 54% do produto interno bruto da América Central em 2008, afirma o estudo A economia da mudança climática na América Central, publicado pela Cepal em 2011.

Nesse cenário, a temperatura subiria entre 3,6 e 4,7 graus, com variações em cada país, e as chuvas diminuiriam, em média, 28%. “Por isto, nossa estratégia se volta para a agricultura familiar camponesa, pela qual é possível gerar alimentos em diferentes momentos do ano, biomassa e conservar umidade, o que se converte na alternativa básica diante da mudança climática”, explicou Ardón.

Daniel García, da Câmara de Indústria da Guatemala, disse à IPS que se trabalha em duas etapas: o cumprimento do regime ambiental e o desenvolvimento de auditorias energéticas, eficiência energética e de uma política de produção mais limpa. Além disso, os empresários estão sondando a energia renovável. “O que se pretende é tornar as indústrias mais competitivas e menos dependentes de combustíveis fósseis”, explicou. “Somos tão dependentes de nossa matéria energética e de uma agricultura de monocultivos, que temos de combater esta mudança climática”, concluiu García. Envolverde/IPS