Nações Unidas, 13/8/2013 – A aldeia de Hampi, no Estado indiano de Karnataka, há tempos recebe turistas de todo o mundo, atraídos pelas ruínas do que foi a última capital do reino de Vijayanagar. Mas essa riqueza histórica agora corre perigo. O Grupo de Monumentos de Hampi foi declarado Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Contudo, um projeto para ampliar uma estrada, por parte do Departamento de Obras Públicas do Estado em Hambi, gera críticas dessa agência da ONU, de ativistas e especialistas de todo o mundo.
A Autoridade de Manejo da Área de Patrimônio Mundial de Hampi, encarregada de proteger o local, pediu explicações ao Departamento de Obras Públicas, segundo a imprensa. Construída por um rei local em 1860, Dadapeer Chatra, a estrutura que servia como lugar de descanso para os visitantes, foi destruída com um trator por esse departamento para ampliar uma estrada. E embora fosse Patrimônio Mundial, a Unesco não foi informada antes de começarem as obras.
Segundo as pautas operacionais para a implantação da Convenção do Patrimônio Mundial, o país tem que notificar a Unesco sobre qualquer projeto que deseja realizar e que possa ter impacto no destacado valor universal do sítio listado em questão, disse à IPS o presidente do Centro do Patrimônio Mundial nessa organização internacional, Kishore Rao. No caso de Hampi “a Unesco não concedeu nenhuma permissão”, e ficou sabendo da destruição do edifício pelos meios de comunicação, contou.
Agora, esta agência da Organização das Nações Unidas (ONU) leva o assunto às autoridades indianas, solicitando detalhes do incidente e da ação que propõem adotar a respeito, acrescentou Rao. Não há sanções previstas para quem viola os parâmetros, já que o sistema do Patrimônio Mundial é de cooperação internacional, explicou à IPS. Quando as ameaças são muito sérias, ou não são implantadas as medidas recomendadas, o Comitê do Patrimônio Mundial agrega o sítio à Lista de Patrimônio Mundial em Perigo, a fim de atrair maior atenção internacional e mobilizar mais apoio”, detalhou.
Entretanto, esse enfoque “certamente não tem efetividade”, opinou John Fritz, codiretor do Projeto de Pesquisa Vijayanagara. “É burocracia para a burocracia”, pontuou, acrescentando que a Unesco não apresentou nenhuma objeção quando, previamente, foram alteradas edificações consideradas patrimoniais em Hampi. Sobre as atuais obras de construção na área, Fritz disse à IPS que há falta de vontade e de esforço para proteger a história do lugar. “Poderiam ter ampliado a estrutura patrimonial e trabalhado de modo a evitar derrubá-la para ampliar a estrada”, acrescentou.
Abha Narain Lamba, arquiteta indiana dedicada à conservação, acredita que, em uma área como Hampi, “ampliar uma estrada é bastante desnecessário”. Um projeto deste tipo em áreas históricas da vizinha cidade de Hyderabad já causou a perda para sempre de muitas fachadas históricas, destacou. “Pergunto o que pode conseguir a ampliação de uma estrada em Hampi, já que não é uma área metropolitana propensa a engarrafamentos”, apontou à IPS.
Entretanto, Vikas Dilawari, arquiteto especialista em conservação da Índia, acredita que Hampi é apenas um exemplo. “Em nosso país não se concebe o conceito de investimento cultural, já que não se vê benefícios tangíveis imediatos”, explicou. O problema se agrava pela falta de apoio das autoridades e pelo fato de o governo central e os órgãos locais não chegarem a um consenso quanto a proteger os edifícios patrimoniais, acrescentou.
Kathleen D. Morrison, diretora do Centro para o Idioma e a Área da Ásia Meridional na Universidade de Chicago, também concorda que há uma perturbadora falta de comunicação entre os departamentos e agências do governo na hora de manejar o patrimônio cultural da Índia. “Este incidente também deixa clara a necessidade de se dar melhor educação sobre o rico patrimônio cultural da Índia, do qual se deve ter orgulho”, ressaltou.
Na Índia há alguns monumentos protegidos pelo governo central e outros pelas autoridades estaduais. No caso de Hampi, há várias partes envolvidas responsáveis pela tarefa. A Medição Arqueológica da Índia, feita pelo Ministério da Cultura, vela pelos que são protegidos pelo governo central em Hampi, enquanto o Departamento Estadual de Arqueologia se ocupa dos monumentos de sua própria lista, explicou Himanshu Prabha Ray, presidente da Autoridade Nacional de Monumentos. Em Hampi, onde os monumentos estão dispersos por uma área muito grande e pertencem a diferentes períodos históricos, também se constituiu uma autoridade local para sua proteção, e foi traçado um plano de manejo, detalhou.
Embora o desenvolvimento sustentável e a preservação histórica continuem sendo um desafio atualmente, o problema relativo à proteção de sítios patrimoniais se torna mais complexo pela difundida crença entre os líderes de opinião de que o dinheiro gasto para isso drena recursos e que seria melhor utilizado em projetos de infraestrutura, segundo especialistas.
No longo prazo, a apatia em relação a Hampi poderá dificultar as coisas para as outras 33 propriedades indianas que buscam obter o status de Patrimônio Mundial da Unesco, observou Dan Thomspon, da Global Heritage Network. Atualmente, há 44 sítios em todo o mundo que integram a Lista de Patrimônio Mundial em Perigo. Logo, Hampi deverá fazer parte dela. Envolverde/IPS