ANP afirma que Chevron poderia ter evitado acidente

Se a empresa tivesse seguido a regulamentação, as boas práticas da indústria e até seu próprio manual de procedimentos, o vazamento de 3700 barris de petróleo no Rio de Janeiro não teria acontecido.

A Agência Nacional do Petróleo (ANP) concluiu nesta quinta-feira (19) as investigações sobre o acidente no Campo do Frade, no Rio de Janeiro, em outubro de 2011, e apontou que diversas falhas da Chevron causaram o vazamento. Estima-se que 3700 barris de petróleo foram liberados no oceano e afetaram 120 quilômetros de costa.

De acordo com o relatório da ANP, apresentado depois de oito meses de análises, o acidente poderia ter sido evitado caso a Chevron tivesse “conduzido suas operações em plena aderência à regulamentação, em conformidade com as boas práticas da indústria do petróleo e com seu próprio manual de procedimentos”.

“Se tudo tivesse sido feito de acordo com esse mesmo manual da empresa, o acidente não teria ocorrido”, disse a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard.

No total foram encontradas 25 irregularidades, que vão gerar uma multa que será calculada no decorrer do próximo mês.

“Cada uma das infrações tem um teto de R$ dois milhões. No entanto, a pena depende da gravidade do porte do agente e também da reincidência. Não tendo reincidência – com processo transitado e julgado – não existe como aplicar a pena máxima e chegar a R$ 50 milhões”, explicou Magda.

Em nota, a Chevron Brasil disse “estar confiante de que sempre atuou de forma diligente e apropriada, de acordo com as melhores práticas da indústria do petróleo, assim como em conformidade com o Plano de Desenvolvimento aprovado pela agência reguladora”.

Além disso, a empresa contesta diversas irregularidades apontadas pela ANP e alega que o vazamento teria sido de 2400 barris. “Não concordamos com o quadro que o relatório faz de nossa cultura de segurança”, afirma a nota.

Incompetência

A equipe de investigação se baseou em fatos constatados e registros apreendidos na sede da Chevron, a bordo do FPSO Frade e na sonda Sedco 706, que executava a perfuração do poço no momento do acidente.

Após se apropriar desses documentos durante a investigação, a ANP pôde analisar detalhadamente os fatos ocorridos e identificar as causas que deram origem ao vazamento.

Em síntese, a agência apurou que:

•    A Chevron não foi capaz de interpretar corretamente a geologia e a fluidodinâmica local, apesar de haver 62 poços perfurados no Campo de Frade, e avaliou, de maneira equivocada, o modelo de pressão de reservatório N560;

•    A sobrepressurização do trecho do reservatório atingido pelo poço em perfuração foi causada pela própria Chevron, através do poço injetor 8-FR-29D-RJS, o que gerou artificialmente as condições para que o acidente se concretizasse;

•    A empresa desconsiderou os resultados de testes de resistência de formação de três poços perfurados anteriormente na mesma região, os quais indicariam a necessidade de alteração do projeto;

•    A Chevron contrariou seu próprio manual de controle de poços, ao utilizar uma incerteza de pressão de poros inferior ao estabelecido para um poço investigativo;

•    O assentamento da última sapata com pouca profundidade (600 metros do leito marinho), na situação que se apresentava, contribuiu para que o descontrole do poço pudesse ter como consequência o vazamento através do solo marinho;

•    Apesar de haver fortes indícios de um “underground blowout”, a Chevron demorou em reconhecer a situação, o que implicou na adoção inicial de metodologia ineficaz para controle do poço. Tivesse a Chevron identificado o “underground blowout” imediatamente, o volume de óleo liberado no mar teria sido significativamente menor.

“Dessa forma, não restam dúvidas de que, caso a Chevron tivesse gerido corretamente as incertezas da geologia, executado as análises de risco em conformidade com a regulamentação e respeitado premissas básicas de segurança, o acidente poderia ter sido evitado”, afirma a ANP.

O relatório final está disponível no portal da ANP.

* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.