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Ansiedade e incerteza nos mercados de Teerã

Um comércio de especiarias em Teerã. Foto: kamshots/CC BY 2.0

Teerã, Irã, 16/1/2012 – A incerteza generalizada, as sanções econômicas internacionais e a menor presença de divisas fortes levaram a moeda do Irã, o rial, a entrar em queda livre, sem perspectivas de estabilidade no curto prazo. A frase mais ouvida em Teerã é “A quanto está o dólar?”. O valor da moeda norte-americana se converteu em instrumento para medir tudo, e como um único dólar equivale a 17 mil riais, os iranianos sentem como nunca a pressão.

“Costumávamos falar que 70 riais compravam um dólar”, disse o jornalista local Mohammad. “Agora, sentimos saudades quando lembramos que um dólar valia 15 mil riais”, acrescentou. A taxa de câmbio da divisa se converteu em algo muito delicado nos últimos dias. Os sites na internet em idioma persa que publicavam as taxas de câmbio foram filtrados, sendo inacessíveis para os usuários que não contam com programas especiais. Também foram bloqueadas por vários dias as mensagens de texto com a palavra “dólar” em persa.

Muitas casas de câmbio oficiais não abriram nos últimos dias, enquanto o governo lhes ordenou divulgar a taxa de câmbio em 15 mil riais por dólar. Estas taxas podem ser vistas por toda a cidade, mas, como o empregado de uma das casas de câmbio disse à IPS, “é preciso ter muita sorte para comprar dólar por esse valor. Não se encontra um único lugar no país que o venda desta forma”. As autoridades começaram a adotar controles sobre o até agora desregulado mercado de divisas no centro de Teerã. No dia 8, o parlamento aprovou uma lei que criminaliza as operações sem licença. No entanto, as transações nas esquinas da área sul da capital continuam como sempre.

Após perder mais de 30% de seu valor frente ao dólar desde setembro, o poder de compra do rial, e, em consequência, do iraniano médio, caiu. As mudanças nas cotações costumam ser graduais, e se baseiam em indicadores mais simples e definidos, como o preço do petróleo, as altas e baixas em Wall Street e inclusive no próprio mercado de valores de Teerã. Contudo, a atual atmosfera não segue estes padrões, e parece estar mais influenciada pelos rumores, pela paranoia e pela manipulação. Especula-se constantemente quantas divisas estarão disponíveis de um dia para outro, provocando grandes mudanças nas cotações a qualquer momento.

Em Teerã, as sanções e a queda do rial afetaram uma sociedade que considera o comércio parte essencial de sua identidade. As transações nesta cidade são componente básico da vida, e não poder realizá-las gera um forte ressentimento. Entretanto, o consumo não caiu, a população continua comprando, pois há uma sensação de que o rial poderia cair ainda mais. Além disso, não se registrou ainda uma verdadeira escassez, e os barcos com artigos contrabandeados, que abastecem o mercado informal por décadas, ainda navegam as águas do Golfo e chegam ao solo iraniano.

Porém, os preços da maioria dos artigos estão em alta. Como a maioria dos produtos disponíveis nas lojas de comida é importada, os preços aumentaram de forma constante nos últimos meses. Um exemplo é a água engarrafada, que sofreu aumento de 25% em setembro. Outro exemplo são os ovos, cuja unidade está custando aproximadamente quatro mil riais em Teerã.

Os preços de importações mais caras, especialmente artigos eletrônicos, são calculados diariamente com base na taxa de câmbio do euro ou do dólar. Os produtos mais populares, particularmente os da marca Apple, que chegam ao Irã por contrabando, só são comprados em alguma dessas moedas. Um telefone inteligente Iphone 4S, que custava 11,5 milhões de riais em dezembro, agora chega a 15,5 milhões de riais.

Como sinal de que os Estados Unidos ganham cada vez mais descontentamento entre os iranianos, Hassan, agente de viagens de 35 anos, disse à IPS que “nunca houve nada de ruim a dizer de Barack Obama até que ele assinou essas novas sanções. Estou tão descontente com ele. Muitos sentem o mesmo”. Sua agência de viagens agora fixou seus preços em dólares ou euros. “Não temos outra opção”, disse Hassan. Temos de pagar à passagens e os hotéis em dólares, e com a flutuação do rial já não podemos manter o preço” em moeda local, explicou.

A indústria turística, que experimentou um rápido crescimento nos últimos anos, é uma das muitas que enfrentam tempos difíceis. Conforme se aproxima a celebração do Ano Novo iraniano, no final de março, a queda da moeda pode afetar as habituais férias neste mês. Envolverde/IPS