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Apoio em massa às mudanças nas forças armadas

O presidente Mohammad Morsi começou a limitar o poder dos militares no Egito. Foto: Al Jazeera

 

Doha, Catar, 14/8/2012 – Milhares de egípcios se reuniram na Praça Tahrir, centro do Cairo, para apoiar a decisão do presidente, Mohammad Morsi, de substituir o ministro da Defesa e chefe do exército, Hussein Tantawi. O mandatário determinou o afastamento do poderoso marechal de campo e de vários generais de alta patente, e cancelou emendas constitucionais que as forças armadas haviam emitido para restringir os poderes presidenciais.

No dia 12, Morsi anunciou, por meio de um porta-voz, a destituição de Tantawi e sua designação como assessor presidencial. Segundo a televisão estatal, Abdul-Fatah al-Sessi será seu substituto na pasta da Defesa e como comandante-geral do exército. Morsi também afastou de seu cargo o chefe do Estado Maior do exército, Sami Anan, e o nomeou assessor presidencial. O tenente-general Sidki Sayed Ahmed foi nomeado seu substituto. O presidente também designou o juiz Mahmoud Mekki como vice-presidente. Todas as decisões entraram em vigor imediatamente.

Milhares de egípcios comemoraram o anúncio, no dia 12 à noite na Praça Tahrir, que foi palco dos protestos que derrubaram o ex-presidente Hosni Mubarak (1981-2011). “O povo apoia a decisão do presidente”, gritava a multidão. Outros fizeram piada com o afastamento de Tantawi, oficialmente apresentado como demissão. “Marechal, diga a verdade: Morsi o afastou?”, diziam alguns.

Rawya Rageh, da rede de televisão Al Jazeera, informou, do Cairo, que “o país pode não ter uma constituição, mas há declarações constitucionais que especificam a descrição das tarefas do presidente, e nomear e destituir altos funcionários do governo está perfeitamente dentro de sua autoridade. O que chama a atenção é que foi uma medida surpreendentemente ousada”, ressaltou. “Morsi, que no começo não quis desafiar as forças armadas, aproveitou a oportunidade do ataque fronteiriço (cometido por islâmicos na península do Sinai) para colocar fim à carreira política de um dos militares de mais longa trajetória no país”, acrescentou.

“Porém, tenha sido para marcar um ponto político ou realmente um assunto de responsabilidade, independente dos motivos, isto foi um terremoto político”, ressaltou Rageh. “No final, tanto Tantawi como Anan, os dois membros mais poderosos do Conselho Supremo das Forças Armadas, durante muito tempo pareciam invencíveis, tanto no período em que o Conselho assumiu o comando do país como depois da eleição do presidente Morsi, em junho”, afirmou.

Além de Tantawi e Anan, Morsi determinou o afastamento dos comandantes da marinha, da força aérea e da defesa aérea. As últimas medidas são vistas como uma escalada da luta pelo poder entre o mandatário, que assumiu o cargo no dia 30 de junho, e as forças armadas. Em um discurso à nação, feito na noite do dia 12, Morsi declarou que essas medidas não estavam dirigidas a indivíduos. “As decisões que tomei hoje jamais objetivaram certas pessoas. Não tentei envergonhar as instituições nem foi minha meta restringir as liberdades. Não busquei enviar uma mensagem negativa sobre ninguém. Meu objetivo foi o benefício desta nação e de seu povo”, enfatizou.

Também elogiou o trabalho das forças armadas, dizendo que sua decisão as deixa livres para se centrarem em suas tarefas profissionais. Tantawi estava à frente do Conselho Supremo das Forças Armadas, que governou o país após a queda de Mubarak, em fevereiro de 2011. Além disso, por quase duas décadas foi ministro da Defesa do ex-presidente. Morsi, da Irmandade Muçulmana, e seus aliados islâmicos não esconderam seu descontentamento com as emendas feitas em meados de junho pelos militares, que restringiram o papel do presidente e deram enormes poderes ao exército, incluindo o controle legislativo.

No começo desta semana, Morsi destituiu o chefe do serviço de inteligência. O tenente-general Mohan Mameesh, comandante da marinha da reserva, foi nomeado comandante do canal de Suez, a estratégica hidrovia que liga o Mar Vermelho com o Mediterrâneo e que constitui uma importante fonte de renda para o país. Antes, Sherine Tadros, da Al Jazeera, disse, do Cairo, que “haverá muitas perguntas, especialmente se Morsi for capaz de fazer isto”. Envolverde/IPS