Nova Délhi, Índia, 27/5/2011 – Entre os programas de cooperação que o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, anunciou esta semana em Adis Abeba, o plano de criar uma Universidade Virtual Índia-África ocupa lugar de destaque. Em discurso feito no plenário do Segundo Fórum Cúpula África-Índia na capital etíope, Singh ofereceu um crédito de US$ 5 bilhões para os países africanos nos próximos três anos, a fim de ajudá-los a conseguir seus objetivos de desenvolvimento. Singh prometeu outros US$ 700 milhões para criar novas instituições e orquestrar programas de capacitação no continente, segundo um site do governo indiano.
A Universidade segue o enorme sucesso do Pan-African e-Network Project (Projeto de Rede Eletrônica Pan-Africana), e Singh disse que a iniciativa ajudará a estimular a demanda na África pelos estudos superiores nas instituições indianas. “Também propomos que após a criação desta universidade haja dez mil novas bolsas disponíveis para estudantes africanos”, acrescentou.
Esse projeto já criou uma infraestrutura com conexão via satélite que leva modernos serviços de governança eletrônica, educação a distância e telemedicina a dezenas de Estados africanos, com apoio de universidades e prestigiosos hospitais da Índia. Singh disse que, por meio da concessão de bolsas, seu governo deseja transformar a educação na Índia em “uma experiência enriquecedora” para os estudantes da África. “Estamos aumentando substancialmente a quantidade de bolsas e cotas de formação para estudantes e especialistas africanos, incluindo o Programa Indiano de Cooperação Técnica e Econômica”, afirmou.
Os principais especialistas indianos em assuntos africanos divisaram um método na escolha que Singh fez de estratégias para comprometer a África. “É muito óbvio que a Índia não pode centrar-se em áreas como a infraestrutura, onde a China leva vantagem, mas a Índia é uma reconhecida potência em tecnologias da informação, o que pode alavancar com segurança sua estratégia para a África”, disse H. H. S. Viswanathan, ex-diplomata de carreira e agora membro da independente Organiser Research Foundation, de Nova Délhi.
Viswanathan, que atuou como enviado indiano a vários países africanos, disse à IPS que nas décadas de 1970 e 1980 uma grande quantidade de professores e médicos indianos foi para países africanos dentro de programas governamentais, fato não muito conhecido atualmente. “Isto é gratamente lembrado pela atual geração de líderes africanos”, afirmou. A partir da primeira cúpula Índia-África, em 2008, na capital indiana, foi dada maior ênfase ao setor do desenvolvimento dos recursos humanos, disse Vishwanathan. “É lógico agora consolidar este enfoque”, disse.
Singh anunciou planos de criar uma Universidade Índia-África para as Ciências da Vida e da Terra e um Instituto Índia-África de Agricultura e Desenvolvimento Rural. Um Centro Índia-África para Previsão Meteorológica de Médio Porte aproveitará a tecnologia via satélite para os setores agrícola e pesqueiro, além de contribuir com a preparação para desastres e com o manejo dos recursos naturais. Logo haverá um Grupo Índia-África de Processamento de Alimentos e também uma indústria têxtil integrada pelos dois países. Os dois empreendimentos ajudarão a criar mercados regionais e de exportação, disse Singh.
O fato de a Índia estar centrando na capacitação já ficara evidente em uma reunião de ministros de Comércio no dia 21, em Adis Abeba, projetada como instância de preparação para a cúpula a ser realizada três dias depois. Antes, Sanjay Kirloskar, presidente do africano Comitê da Confederação da Indústria Indiana, que liderou o fórum desta semana, disse que as empresas indianas estão se dedicando a desenvolver recursos humanos “prontos para o emprego” na África, mediante iniciativas de desenvolvimento de habilidades e de criação de instituições.
Kirloskar disse à IPS que os programas de formação das empresas indianas estão “alinhados com as operações de negócios locais” a fim de que “os africanos possam aprender sobre o trabalho e depois administrar os projetos por si mesmos”. Também afirmou que as companhias indianas iniciaram programas educativos e de capacitação que abordam as necessidades mais amplas da sociedade, mediante bolsas e programas de desenvolvimento empresarial. “Isto é verdadeiramente uma relação Sul-Sul”, acrescentou.
Um exemplo disto é o conglomerado indiano Tata, que instalou importantes negócios em países africanos e participam em setores tão diversos como produção de aço, automóveis ou tecnologias da informação e da comunicação, e que tem diversos prestigiosos programas de criação de capacidade. O vice-presidente da Tata para Novas Iniciativas de Negócios, Vikas Gadre, disse à IPS que a empresa considerou prático e rentável criar grandes bases de recursos humanos qualificados que potencializem o pessoal técnico e gerencial africano para dirigir as equipes da Tata. “São iniciativas deste tipo que rendem aplausos, tanto para a Tata quanto para a Índia, por parte dos líderes africanos”, disse Gadre.
Viswanathan afirmou que a participação é importante, considerando que a vasta maioria dos Estados africanos agora é de democracias multipartidárias que realizam eleições livres e limpas. “Isto ajuda a Índia a se comprometer política e economicamente com a África”, afirmou. O comércio entre Índia e África subiu para US$ 46 bilhões no ano passado, e espera-se que chegue a US$ 70 bilhões até 2015. Até agora, os empresários privados indianos investiram US$ 25 bilhões em setores como tecnologia da informação, equipamentos agrícolas e automóveis em vários países africanos. Envolverde/IPS