Mbabane, Suazilândia, 5/1/2012 – A economia da Suazilândia está à beira do colapso, mas o governo aposta no futuro, oferecendo os escassos fundos públicos que tem para jovens com projetos empresariais. Após constatar que o país não atraia investimentos estrangeiros diretos adequados, o governo criou, no ano passado, o Fundo para Potencializar Jovens (YEF), que oferece capital inicial para que os desempregados possam abrir seu micronegócio.
“Os jovens são mais da metade dos desempregados, e o governo procura tirá-los da rua para que levem pão à mesa”, explicou o diretor de Assuntos de Jovens, Bheki Thwala. O governo já sofria uma grave pressão fiscal após a redução de seus cofres em 60%, quando destinou US$ 1,25 bilhão a este Fundo. A falta de recursos do país se deve ao fato de a União Aduaneira da África Austral (Sacu), que costumava cobrir mais de 60% do orçamento nacional, ter mudado a estrutura de renda do bloco.
Os empréstimos do YEF têm juros de 10%, e não é exigida garantia dos beneficiários, que têm entre 18 e 35 anos. “É um fundo de desenvolvimento para atender o desemprego juvenil”, disse Thwala. Futhi Mngomezulu, de 29 anos e especialista em tecnologias da informação, e sua irmã Gcebile, de 27 e eletricista, estão entre os 600 jovens que se beneficiaram do fundo de desenvolvimento. Nenhuma delas conseguia encontrar emprego em suas áreas e decidiram iniciar sua própria empresa de desenho e produção de emblemas para uniformes escolares.
“Contudo, o mais difícil era juntar o dinheiro para comprar a máquina de bordar, que custa 65 mil lilangeni (SZL)”, equivalente a US$ 8 mil, contou Futhi. “Só conseguimos reunir 25 mil SZL (US$ 3,1 mil) com a ajuda de nossa mãe”, contou. Felizmente, no ano seguinte o governo abriu as inscrições para o YEF. As duas irmãs percorrem as escolas da capital e dos arredores oferecendo seus serviços de desenho e bordado. Sua empresa, FGM Embroidery Services, recebeu US$ 6,2 mil do YEF, com os quais compraram a máquina na África do Sul.
“Atendemos uma grande demanda, pois vimos que só havia duas empresas que faziam esse trabalho” e já estavam acima de suas capacidades, explicou Futhi. Antes de receber a quantia da organização associada com o governo para a distribuição do dinheiro, a Imbita Women’s Finance Trust (IWFT), foram capacitadas em gestão empresarial. “Sabemos como cuidar dos livros e o básico sobre a gestão de uma empresa”, afirmou Futhi.
Há muitos pedidos, mas o fato de ser jovem obriga a trabalhar o dobro para convencer seus clientes de que podem atuar em um setor que funciona com prazos. “Se não se entrega o trabalho no prazo, da próxima vez contratarão outro. Isto quer dizer que é preciso trabalhar até tarde, especialmente durante o período de mais pedidos, em janeiro”, acrescentou Futhi.
Incorporar uma agência como a IWFT para administrar o Fundo foi um sucesso, disse Thwala. Ela se encarrega de estudar os pedidos, distribuir o dinheiro, supervisionar e avaliar o rendimento do projeto. “Para o primeiro grupo de beneficiários contamos com o equivalente a US$ 718 mil para 590 pessoas, em agosto do ano passado”, disse Thwala. “Economizamos US$ 495 mil para este ano devido à crise fiscal”, acrescentou.
Este ano, apenas 152 pessoas se beneficiaram de um pacto de US$ 250 mil porque o Ministério não teve orçamento, pois os cofres ficarem vazios e houve dificuldades para pagar salários, fornecimentos e prestações sociais ou transferência de dinheiro. Um beneficiário individual pode receber entre US$ 63 e US$ 2,475 mil, uma empresa entre US$ 630 e US$ 6,2 mil, e uma associação recebe, no máximo, US$ 12,5 mil.
A capacitação, junto com uma grande dose de entusiasmo e trabalho duro, foi fundamental para garantir uma alta taxa de devolução do empréstimo, disse a diretora da IWFT, Sibongile Shongwe, embora o desafio seja garantir o crescimento empresarial. “Os jovens têm visão empresarial, mas é preciso muito cuidado e planejamento para levar a empresa a um patamar mais alto”, acrescentou.
Porém, o maior desafio do YEF é que há beneficiários que não estão realmente interessados em ser empresários. Quando lhes bate à porta uma oportunidade de trabalho, abandonam o projeto. Outros, seguiram seus estudos no exterior graças a uma bolsa e deixaram sua empresa.
“Isto afeta a taxa de devolução, porque não pagam sua dívida”, explicou Shongwe. “Há, também, quem simplesmente não paga porque é dinheiro do Estado”, acrescentou. Segundo Shongwe, o governo desenha uma política para processar e multar os inadimplentes porque se supõe que este Fundo é rotatório para que mais gente se beneficie dele.
Nos casos em que os projetos são afetados por desastres naturais, o IWFT realiza uma avaliação e oferece um refinanciamento para recuperar a empresa. “Também recomendamos a contratação de um seguro para os projetos suscetíveis a serem afetados por desastres naturais, como hortas ou criação de frangos”, disse Shongwe. Há muitos projetos de sucesso como o de Futhi, com jovens que se esforçam para que suas empresas funcionem. Embora seja muito cedo para contar o lucro, ela e sua irmã estão no caminho certo. Envolverde/IPS