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Aquicultura em represa reforça economia rural

Dacar, Senegal, 26/7/2011 – Julho marca o início de três meses de intensa atividade para os moradores das sete aldeias localizadas em volta da pequena represa senegalesa de Sébi Ponty. Em 2006, ali foi introduzido o peixe tilápia, e desde então a aquicultura se tornou uma fonte vital de renda para os jovens da região. Próximo à água, se ouve o canto dos jovens trabalhadores enquanto puxam com força suas redes de pesca. Ao retirá-las, peixes brilhantes saltam tentando escapar, para alegria das crianças que observam da margem. Em outubro será proibida por dois meses a pesca na represa, para permitir a reprodução dos peixes. O período seguinte de pesca irá de dezembro a fevereiro.

A represa mede 500 metros de comprimento, 400 de largura e cerca de quatro de profundidade, e há cinco anos recebeu 17 toneladas de tilápias pequenas. Segundo a Agência Nacional de Aquicultura (ANA) do Senegal, agora rende 50 quilos de pescado por dia durante a temporada de pesca bianual. A operação é manejada por uma cooperativa da qual participam 300 jovens do local.

Um deles, Pape Ndaw, de 20 anos, diz que desde que o Departamento de Engenharia Agrícola reabilitou a represa, em 2006, muitas famílias dependem da pesca que nela é praticada. “Além da aquicultura, a represa também serve para diversas atividades agrícolas e pecuárias na área”, disse Ndaw à IPS. O rapaz ganha mais de US$ 270 mensais “quando há boas capturas”, acrescenta. “Mantenho meus pais idosos, e também minha própria família”, conta. O trabalho na represa é seu único emprego. “Durante o recesso de dois ou três meses destinado à reprodução, trabalho com as aves em casa”, afirmou.

Anita Diagne Diouf, de 30 anos, afirma que a pesca oferece alternativas reais aos jovens da região, que frequentemente respondem ao alto custo de vida emigrando para a capital do país. “São as mulheres que vendem produtos de pescado. Dividimos o dinheiro e conseguimos a mesma quantia que os homens”, disse Anita à IPS. “Fora da temporada, quando os homens trabalham com animais ou reparam as redes para a próxima temporada de pesca, nós nos dedicamos a separar os grãos e fazer a manutenção das granjas”, acrescenta.

Segundo Awa Guèye, representante oficial dos jovens empregados na represa, a aquicultura primeiro atende as necessidades alimentares das famílias e, segundo, lhes proporciona uma fonte de renda. “Antes, as mulheres eram obrigadas a ir até Rufisque, a mais de 20 quilômetros de Sébi Ponty, para conseguir pescado para cozinhar”, disse à IPS. Porém, segundo especialistas da ANA, a represa tem vários obstáculos a serem superados, incluída a capacitação dos usuários, melhor disponibilidade de equipamentos para a cooperativa e melhor acesso a créditos. Contudo, o principal desafio é a coexistência de vários usuários.

O presidente do comitê administrativo da represa, Amadou Camara, afirma que a represa também tem um papel importante na horticultura e criação de gado. “Os horticultores do mercado usam água da represa. Os criadores levam seus animais para beberem ali, especialmente na temporada seca. Isto costuma criar tensões entre nós, que administramos a represa, e os criadores ou agricultores”, disse. Um sinal preocupante da escassa coordenação entre os usuários é que a represa está enchendo de areia.

Mamadou Ngom está à frente de uma unidade da ANA que se centra em popularizar e melhorar o valor das represas como a de Sébi Ponty, e diz que o lodo pode ameaçar seu papel como pilar econômico da região. “Este problema é causado pela excessiva exploração da água. Os horticultores precisam deixar de bombear água para irrigação”, disse Ngom à IPS. “A isto se soma a falta de apetrechos de pesca, de uma adequada conservação do pescado e do acesso a finanças para os operadores. A cooperativa precisa de canoas e redes, entre outros implementos, especialmente durante o período de inundações”, acrescentou.

Segundo Babacar Ndao, ministro responsável pelas reservas hídricas de pequena escala, em breve o governo começará a dragar a areia da represa. “Estamos conscientes de que a represa tem multifunção e que é usada por agricultores, criadores de animais e aquicultores simultaneamente, daí a urgência de limpá-la para poder mantê-la”, ressaltou. Envolverde/IPS