Aquicultura tem potencial para combater a insegurança alimentar, defende especialista

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Aquicultura aumenta a cada ano
Diante do problema da insegurança alimentar mundial, a aquicultura possui um importante papel a cumprir. Esta é a opinião de Daniel Eduardo Lavanholi de Lemos, professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP). “O pescado já é segunda maior fonte de proteína animal atrás apenas dos suínos”, assinalou o professor da USP.

Segundo Lemos, a produção pesqueira não cresce desde o ano 2000, porém a aquicultura aumenta a cada ano e ainda tem muito potencial para se expandir. “Assim como ocorreu com a caça, que não responde mais pelo suprimento de alimentos para o homem, era previsível que o mesmo ocorresse com a pesca”, enfatizou o professor.

Para aumentar a produtividade de maneira sustentável, a criação do pescado deve enfrentar vários desafios. Um dos maiores será encontrar fontes alternativas de nutrientes para as rações de piscicultura para deixar de utilizar recursos marinhos na aquicultura.

Boa parte da alimentação dos animais criados em tanques são rações compostas por farinha feita com peixes pescados. A redução dos estoques naturais tem tornado a matéria-prima mais rara e o produto a cada dia mais caro.

“A escassez desse insumo levará a buscas mundiais cada vez maiores por fontes de nutrientes-chave”, afirmou o professor.

Agricultura pode auxiliar o crescimento da aquicultura sustentável

Com a produção mundial crescente, muitos subprodutos agrícolas poderão entrar na composição de rações sem prejuízo para a produção de alimentos.

“A tendência é usar fontes cada vez mais grosseiras para as rações e deixar as matérias-primas mais nobres para o consumo humano”, afirmou Lemos. Segundo ele, o arroz quebrado, por exemplo, é componente de rações no Ocidente, mas a China não se dá mais ao luxo de lançá-lo aos animais, pois prefere destiná-lo à população.

Com um setor agropecuário superavitário, o Brasil desponta como um potencial fornecedor de insumos para a aquicultura, além de possuir vastas extensões de espelhos d’água a serem exploradas.

Vantagens da aquicultura

Mesmo com os desafios relacionados à nutrição sustentável, a aquicultura apresenta vantagens em relação aos outros tipos de criação animal. Mais de 50% da produção aquícola prescinde de ração como algas, ostras, vieiras e mexilhões ou de peixes que não consomem proteína animal, comentou Lemos.

Os animais aquáticos também são os que melhor convertem nutrientes em carne, pois não gastam energia para produzir calor como os animais homeotérmicos e sofrem menos a ação da força da gravidade, o que também demanda energia para a manutenção estrutural do corpo.

“Teremos que saber administrar cada vez melhor os nutrientes-chave e saber usar os recursos nutritivos para a aquicultura de modo que ela se torne solução para a falta de alimentos, e não parte desse problema”, concluiu o professor.

O mundo com mais de nove bilhões de habitantes

Segundo dados da Divisão de Estatísticas das Nações Unidas (Unstat), até o ano de 2050, o mundo passará dos atuais 6,7 bilhões para mais de 9 bilhões de habitantes agravando um problema já existente – a fome mundial.

O crescimento populacional é agravado pela desigualdade, já que o grupo de habitantes com maior poder aquisitivo tem um crescimento menor do que a classe mais necessitada, segundo Lemos. No cenário do ano de 2050 delineado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), as nações da Ásia e da África subsaariana abrigarão 60% da população do planeta.

*Com informações da Fapesp.

** Publicado originalmente no site EcoD.