Arquivo

Arábia Saudita poderia estar considerando a opção nuclear

O príncipe saudita Turki al Faisal advertiu que as ameaças atômicas de Israel e Irã poderiam forçar seu país a seguir o mesmo caminho. Foto: cc by 2.0
O príncipe saudita Turki al Faisal advertiu que as ameaças atômicas de Israel e Irã poderiam forçar seu país a seguir o mesmo caminho. Foto: cc by 2.0

Nações Unidas, 3/12/2013 – A veemente oposição da Arábia Saudita ao acordo provisório alcançado entre Irã e seis potências mundiais desatou especulações sobre seus próprios projetos atômicos. Como assinalou o norte-americano The Wall Street Journal na semana passada, os sauditas poderiam concluir que a aceitação internacional do programa nuclear do Irã os habilita a, por exemplo, “procurar sua própria capacidade atômica com uma simples compra”.

A fonte provável: Paquistão, cujo programa nuclear foi financiado em parte pelos sauditas. Mas esse seria o pior cenário, particularmente se as históricas relações políticas e militares entirre Estados Unidos e Arábia Saudita continuarem se deteriorando. Os primeiros sinais das ambições nucleares sauditas sugiram em 2011, quando o príncipe Turki al Faisal, ex-embaixador em Washington, advertiu que as ameaças atômicas de Israel e Irã poderiam obrigar seu país a seguir o mesmo caminho.

Ao falar em um fórum de segurança em Riad, afirmou: “É nosso dever com nossa nação e com nosso povo considerar todas as opções possíveis, incluindo a posse de armas atômicas”. O alcance dessa advertência dependerá em parte de como evoluírem as negociações para que o Irã ponha fim ao seu programa de desenvolvimento atômico, quando expirar o atual acordo provisório de seis meses. O acordo foi alcançado no dia 24 de novembro, em Genebra, entre delegados do Irã e do chamado P5+1 (China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Rússia mais Alemanha).

Hillel Schenker, coeditor do Palestine-Israel Journal, publicado em Jerusalém, e que seguiu de perto o desenvolvimento nuclear no Oriente Médio, disse à IPS que as críticas ao acordo de Genebra se baseiam na hipótese de que não será efetivo. Contudo, se demonstrar ser um passo útil para um acordo definitivo que impeça o Irã de adquirir armas nucleares, Riad não sentirá a necessidade de obter seu próprio arsenal, acrescentou.

Além disso, Schenker afirmou que, “assim como Israel pressionará para que o acordo final não leve em conta o apoio do Irã ao (grupo libanês) Hezbolá e à Jihad Islâmica, a Arábia Saudita e os países do Golfo (predominantemente sunitas) pressionarão por garantias norte-americanas para sua segurança diante das aspirações iranianas xiitas na região”.

Sobre o impulso que o pacto de Genebra poderia dar no sentido de outros Estados do Oriente Médio pretenderem procurar seu próprio arsenal atômico, Shannon N. Kile, pesquisador encarregado do Projeto sobre Controle de Armas Nucleares, Desarmamento e Não-Proliferação, no Instituto Internacional de Estudos para a Paz (Sipri), de Estocolmo, disse à IPS: “Creio que isso dependerá da forma como for considerado o acordo definitivo”.

As partes esperam alcançar esse acordo uma vez concluído o provisório, dentro de seis meses. No momento, apontou Kile, não está claro até que ponto o Irã está disposto a limitar ou reduzir suas atividades do ciclo de combustível nuclear em troca de um levantamento das sanções do Ocidente. Tampouco se Estados Unidos e União Europeia vão levantar as sanções caso o Irã não desmantele quase completamente sua infraestrutura atômica.

Kile considerou que os temores de Estados Unidos, Israel e países árabes somente se aplacarão se for alcançado um acordo que inclua significativas limitações técnicas ao programa nuclear, acompanhado por uma verificação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em particular a aceitação iraniana do Protocolo Adicional. Isso, por sua vez, servirá para frear a proliferação no Oriente Médio, afirmou.

Além da Arábia Saudita, também se especula sobre as ambições nucleares de outra nação do Oriente Médio: o Egito, apesar de estar em meio a um torvelinho político. Schenker disse à IPS que, embora seja possível o Cairo se preocupar com o acordo e se sentir obrigado a competir pela hegemonia iraniana na região, os egípcios estão agora imersos em seus próprios assuntos. “Se o acordo final for razoável a partir de seu ponto de vista, não há possibilidades de decidir adquirir poderio atômico”, destacou.

Entretanto, o deposto presidente Mohammad Morsi (junho 2012-julho 2013) e o atual regime militar anunciaram seu interesse em reviver um projeto para construir uma usina de energia atômica, talvez como contrapeso ao programa iraniano. Schenker argumentou que um sólido acordo final com Teerã só fortalecerá a determinação do Egito em promover uma zona livre de armas nucleares no Oriente Médio, também colocando sobre a mesa o programa atômico de Israel.

“Para mim, o pessimismo sobre o acordo entre Irã e P5+1 vem de Israel, Arábia Saudita e alguns setores do Congresso dos Estados Unidos, o que é compreensível considerando que os iranianos são pouco abertos, e em alguns casos desonestos, sobre suas atividades nucleares”, ressaltou Kile. De todo modo, o acordo é um passo importante para atender a preocupação internacional sobre o alcance do programa nuclear iraniano, e, portanto, deve ser bem recebido inclusive por aqueles que são céticos sobre as intenções nucleares de Teerã, acrescentou.

O pacto de Genebra impõe limitações técnicas e requisitos de verificação durante seis meses, que tornam quase impossível o Irã utilizar suas instalações nucleares para adquirir o nível tecnológico necessário para construir uma bomba atômica nesse período. Assim, se Teerã mais adiante decidir fabricar armas nucleares, demorará mais tempo, pontuou Kile. “Esses são êxitos importantes que não devem ser ignorados nem minimizados”, enfatizou. Envolverde/IPS