Doha, Catar, 13/7/2012 – O Comitê Olímpico Internacional (COI) iniciou conversações com a Arábia Saudita depois que a organização Human Rights Watch (HRW) pediu que esse país fosse proibido de participar dos Jogos Olímpicos de Londres por considerar que discrimina suas atletas. A HRW fez o pedido no dia 10, em resposta ao anúncio da Arábia Saudita de que não enviará mulheres para competir na capital britânica. “Ainda estamos conversando com o CON (Comitê Olímpico Nacional) saudita e temos confiança em um resultado positivo”, informou o COI à agência de notícias AP no dia 11.
Entretanto, a HRW publicou em seu site que o COI “deveria proibir que a Arábia Saudita participe dos jogos de 2012 devido à sua clara violação da Carta Olímpica”. Esta estabelece que os Jogos devem “estimular e apoiar a promoção de mulheres no esporte em todos os níveis e em todas as estruturas, com vistas a implantar o princípio de igualdade de gênero”.
Faltando duas semanas para a abertura dos Jogos Olímpicos, no dia 27, o jornal saudita Al-Sharq al-Awsat informou que nenhuma mulher se classificara nos três esportes em que a Arábia Saudita participará (atletismo, hipismo e halterofilismo). Porém, a embaixada saudita em Londres havia garantido, no final de junho, que seria permitida a participação de mulheres “classificadas” e que o CON “supervisionaria a participação de mulheres atletas”.
As declarações das autoridades sauditas sobre o assunto são contraditórias. O presidente do CON, príncipe Nawaf bin Faisal, afirmou na semana passada que seria permitida a participação de mulheres nos Jogos Olímpicos. Contudo, em comentários publicados pelo jornal saudita Al-Jazirah, explicou que só poderiam participar “usando vestimenta adequada que se ajuste à shariá (lei islâmica)”, e desde que não tenham contato com homens. Um mês antes, o príncipe havia dito que “não apoiaria a participação feminina”, segundo informou o jornal The National, dos Emirados Árabes Unidos.
“Não é que os sauditas não podem encontrar mulheres atletas, mas que suas políticas discriminatórias até agora impediram que surja uma”, opinou o diretor de iniciativas globais da HRW, Minky Worden. “Mas ainda há tempo para a Arábia Saudita fazer o certo e permitir que mulheres participem dos Jogos de Londres, incluindo-as nas cotas “universalidade”, que permite sua participação mesmo sem terem alcançado as marcas mínimas para se classificar, sugeriu.
“O mais importante aqui é que a Arábia Saudita quebrou sua promessa, está descumprindo as regras, e não deve ser autorizada a participar destas Olimpíadas se excluir as mulheres de sua equipe”, afirmou Worden. A HRW exortou o COI a excluir esse país, como fez com o Afeganistão em 2000, então governado pelo movimento islâmico Talibã, por não permitir que mulheres integrassem sua delegação olímpica. E a sanção à Arábia Saudita deve ser mantida “até que ponha fim às políticas que privam milhões de mulheres e adolescentes sauditas de seus direitos básicos”, enfatizou Worden.
A Arábia Saudita se converteu no único país que não prevê enviar mulheres a Londres. Brunei e Catar, que em jogos passados participaram com delegações exclusivamente masculinas, confirmaram que desta vez levarão suas atletas. O Catar foi sede em 2011 dos Jogos Olímpicos Árabes, que incluíram participação feminina, destacou um comunicado da HRW. A ginete Dalma Malhas, uma das poucas atletas da Arábia Saudita, foi descartada da competição no mês passado devido a um ferimento.
Espera-se que cerca 10.500 esportistas participem dos Jogos Olímpicos de Londres, representando mais de 200 países. Se a Arábia Saudita reverter sua posição, será a primeira vez na história olímpica que todas as delegações contarão com mulheres atletas. Envolverde/IPS
* Publicado sob acordo com a Al Jazeera.