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As balas do Talibã se dirigem às urnas

Um policial ferido em confronto com talibãs. Foto: Ashfaq Yusufzai/IPS

 

Peshawar, Paquistão, 22/1/2013 – A nova onda de ataques terroristas do movimento islâmico Talibã, contra políticos liberais e trabalhadores da saúde no Paquistão, fez soar o alarme no governo e na sociedade civil. Muitos veem isto como uma estratégia dos fundamentalistas para adiar as eleições previstas para meados deste ano. “A maioria desses ataques ocorre em Khyber Pakhtunkhwa (KP)”, disse o ministro da Informação dessa província paquistanesa, Mian Iftikhar Hussain. KP é governada pelo Partido Nacional Awami, forte oponente do Talibã. Isto fez o movimento islâmico redobrar atividades na província, afirmou Hussain.

Depois do assassinato de nove vacinadores contra a poliomielite em Peshawar e Carachi, nos dias 17 e 18 de dezembro, outros sete trabalhadores humanitários foram assassinados no dia 3, no distrito de Charsadda. Dois dias depois, outros sete membros de uma organização não governamental, sendo seis mulheres e um médico, foram mortos no distrito de Swabi.

O que surpreendeu a muitos foi que os combatentes também atacaram um veículo da Fundação Al Khidmat, matando Zakir Hussain, chefe de seu programa de educação. A Fundação é dirigida pelo partido Jamaat Islami (JI), vinculado ao Tehreek Talibã Paquistão (TTP). Qazi Hussain Ahmed, ex-dirigente do JI, sobreviveu a um ataque suicida na Agência Mohmand, no dia 29 de novembro do ano passado. Mas o partido evitou responsabilizar o TTP.

“O Talibã emprega diferentes estratégias para sabotar as eleições gerais porque não quer que estas ocorram pacificamente”, disse à IPS o especialista em política Karmran Ali, professor na Universidade de Peshawar. O Partido Nacional Awami é o principal objetivo da campanha de atentados. O Partido perdeu 600 de seus trabalhadores e líderes em diversos ataques, contou Ali.

“O TTP se opõe a todas as forças democráticas e liberais. Teme uma estrita ação contra o movimento, se esses partidos vencerem as eleições e formarem um governo”, opinou Ali. “O TTP não quer que o Partido Nacional Awami vença novamente, porque levou adiante uma campanha contra os militantes islâmicos durante seu governo de quatro anos e meio em KP”, acrescentou. Em 2009, o governo provincial lançou uma grande operação militar que deslocou o Talibã de Swat, distrito que esteve sob seu controle desde 2007.

“O TTP gostaria de ver no poder o JI ou outros partidos religiosos menores para que implantem sua agenda”, pontuou Ali. “Uma coalizão desses partidos em KP fechou seus olhos às atividades do Talibã em Swat, e, pouco depois das eleições vencidas pelo Partido Nacional Awami, o movimento começou a matar policiais”, ressaltou. “Se o Muttahida Majlis-i-Amal (MMA, aliança de partidos islâmicos) não tivesse fechado os olhos às atividades do Talibã e adotasse ações, então Swat nunca teria caído nas mãos do TTP. É por isso que o Talibã quer manter o Partido Nacional Awami longe das eleições e apoiar os partidos religiosos”, explicou.

Um governo de democratas e liberais adotaria ações contra o Talibã”, disse à IPS o ministro de informação de KP, Mian Iftikhar Hussain. “Portanto, tentam bloquear sua chegada ao poder”. O assassinato de líderes políticos é uma tática do Talibã para tirar seus oponentes do processo eleitoral e fazer com que sejam eleitos dirigentes afins com seus interesses, acrescentou. “A única agenda do Talibã é mostrar um caos políticos às vésperas das eleições”, destacou. O assassinato de um líder do Partido Nacional Awami em um atentado suicida, em 19 de dezembro, mostrou como o TTP trata seus rivais, segundo Hussain.

“Bashir Bilour realizou uma campanha agressiva contra o Talibã. Visitou cada lugar onde houve um atentado com bomba na província e expressou seu repúdio”, disse Hussain. Seu único filho, Mian Rashid Hussain, também foi morto pelos radicais islâmicos em abril de 2010. “A última estratégia do TTP de atacar os líderes políticos e afugentar a população das reuniões públicas tem o propósito de afastar os políticos liberais das eleições”, acrescentou.

“O TTP nunca vai querer que o Partido Nacional Awami seja vencedor, pois sabe que lhe criará problemas”, afirmou Hussain. De todo modo, os líderes dessa força política liberal estão dispostos a conversar. “Sabemos que os combatentes estão por trás de todo tipo de terrorismo, mas, mesmo assim, estamos dispostos a ir à mesa de negociação para que ponham fim à violência pelo bem do país”, ressaltou. Envolverde/IPS