As idas e vindas do imposto da saúde

A discussão sobre o futuro da saúde pública brasileira parece ser uma grande brincadeira para Dilma e seus ministros.

Dilma e seus ministros parecem ter vindo para confundir e não para explicar. Imagem: Reprodução/Jean Galvão

A discussão sobre o futuro da saúde pública brasileira parece ser uma grande brincadeira entre representantes do governo, imprensa e a pequena parcela da população que ainda tenta acompanhá-la. A presidente e seus ministros parecem ter dificuldades para discutir os seus planos abertamente e divulgam semanalmente mensagens conflitantes sobre que atitudes tomarão nos próximos meses. A exemplo da célebre frase de Chacrinha, Dilma e seus ministros parecem ter vindo para confundir e não para explicar.

Durante a campanha eleitoral, Dilma era contra um novo imposto. Depois, ficou a favor. Em seguida, criticou a CPMF, e disse que não gostava de aumentar impostos, mas que novos recursos teriam que ser encontrados em algum lugar.

Na semana passada, a ministra Ideli Salvatti afirmou que a nova fonte de financiamento para a saúde pública brasileira teria que ser um novo imposto. Na mesma semana, em entrevista à Rede Record, Dilma descartou a criação de novos impostos, pelo menos no momento, e disse que os governos precisam provar à população que conseguem solucionar os problemas de gestão dos recursos já existentes: “Tem um problema sério de gestão sim. A gente tem recursos e o uso desse recurso tem de ser melhorado”, disse a presidente, ao ser questionada pelo apresentador se dava para melhorar a saúde do Brasil e se era necessário um novo imposto para isso.

A admissão da presidente Dilma Rousseff de que a saúde brasileira têm problemas de gestão que poderiam ser melhorados já é um avanço. Inflados pela relativa boa fase da economia, alguns políticos deixaram que empolgação entrasse no caminho do bom senso. Lula falou no sistema de saúde “quase perfeito” do Brasil. Dilma disse em seu discurso na ONU que o Brasil “vive praticamente um ambiente de pleno emprego”.

Fazer mais coisas com a mesma quantidade de recursos não é tarefa simples para os integrantes do governo. Em tempos de dificuldade, é mais fácil apelar para um aumento de receitas do que tentar racionalizar os gastos. A exemplo do que disse na entrevista para a Record a presidente Dilma precisa esquecer a criação de novos impostos. Agora, ela precisa, antes de tudo, pensar nos bilhões de reais que o governo já tem em seu poder e na melhor forma de investi-los. Esse sim deve ser o primeiro passo.

* Magno Karl é cientista social pela UFRJ, é tradutor e assistente de pesquisas de OrdemLivre.org.

** Publicado originalmente pelo OrdemLivre.org e retirado do site Opinião e Notícia.