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Ásia contra as armas nucleares

Campanha contra as armas nucleares. Foto: Força Aérea dos Estados Unidos/Raymond Geoffroy

Nova York, Estados Unidos, 15/12/2011 – “As armas nucleares não podem ser “desinventadas”, mas podem ser proibidas, como as químicas e as biológicas”, diz a declaração da campanha lançada por dirigentes políticos, diplomatas e militares da Ásia Pacífico, a região onde mais países possuem este arsenal destrutivo. O organizador da iniciativa contra as armas nucleares, as mais destrutivas do mundo, o ex-chanceler australiano Gareth Evans, declarou que “a tentativa de eliminá-las não terá sucesso sem a decidida participação de dirigentes da Ásia Pacífico”. A maior quantidade de potências nucleares declaradas e não declaradas são China, Índia, Paquistão e, possivelmente, Coreia do Norte.

“Acreditamos ter a responsabilidade particular de trabalhar por uma mudança na Ásia Pacífico”, acrescenta em seu texto a Rede de Líderes da Ásia Pacífico pelo Desarmamento e pela Não Proliferação Nuclear (APLN). Entre os signatários estão os ex-primeiros-ministros James Bolger e Geofrrey Palmer, da Nova Zelândia, Malcolm Fraser, da Austrália, e Yasuo Fukuda, do Japão, além de dez ex-chanceleres e ex-ministros da Defesa.

Na medida em que os centros de gravidade econômica, política e de segurança inexoravelmente mudam, “nossa participação em uma ordem mundial segura, e a obrigação de aportar ideias, visões e propostas políticas para este fim, cresceu demasiadamente”, acrescenta o documento, referindo-se à Ásia. “Mostramos como avançar com zonas livres de armas nucleares com os tratados de Raratonga e Bangcoc, e também temos duas das áreas de maior tensão do mundo, Ásia meridional e a península da Coreia”, acrescenta a declaração.

A iniciativa de Evans em formar a APLN coincide com um momento crucial, afirmou John Burroughs, diretor-executivo do Comitê de Advogados sobre Política Nuclear, com sede em Nova York. A região apresenta vários desafios, como a corrida armamentista entre Índia e Paquistão, bem como o programa nuclear da Coreia do Norte, afirmou. “A maior dependência da região das armas nucleares é outro desafio”, ressaltou.

Coreia do Sul e Estados Unidos negociam a possibilidade de o país asiático adquirir capacidade atômica para produzir combustível para reatores nucleares, à qual Washington se opõe, acrescentou Burroughs. Porém, se chegar a se concretizar poderão agravar os problemas para “desnuclearizar” a Coreia do Norte, alertou. A proposta da APLN para que haja um controle internacional e multinacional sobre a produção de combustível nuclear pode ser uma solução parcial.

No entanto, a APLN evita a solução fundamental que é abandonar a energia nuclear, disse Burroughs. A declaração da APLN também afirma que o arsenal atômico existente inclui 23 mil armas com capacidade de destruição combinada equivalente a 150 mil bombas como a lançada sobre a cidade japonesa de Hiroshima, em 1945. “A paz que reina desde 1946 se deve mais à sorte do que à boa administração”, acrescentou.

Hirotsugu Terasaki, diretor-adjunto de Assuntos de Paz da Soka Gakkai International, com sede em Tóquio, disse à IPS que naturalmente a Ásia deve ter um papel crítico. É fundamental compartilhar esforços para reduzir a sensação de ameaça e construir confiança, afirmou. “Só os esforços pacientes e persistentes conseguirão derrubar os muros de medo e desconfiança que levam os governos a buscarem e manterem suas armas nucleares”, disse Terasaki, cuja organização realiza intensa campanha por um mundo ser armamento atômico.

Além da Ásia, o Oriente Médio está dominado por uma única potência nuclear, Israel, que se nega a reconhecer publicamente sua condição. Ao que parece, seu predomínio está ameaçado pelo Irã, que, segundo o Ocidente, está perto de possuir a arma atômica, fato negado por Teerã. Os países com armas atômicas declaradas no contexto do Tratado de Não Proliferação Nuclear são China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia, os membros permanentes e com poder de veto do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

A criação da APLN também é um impulso ao desarmamento, que cambaleia desde a concretização do novo Start, o modesto acordo de redução de armas nucleares assinado em 2010 por Estados Unidos e Rússia, explicou Burroughs à IPS. “A APLN não defende o início das negociações para proibir as armas atômicas, mas chama para que se crie elementos da Convenção de Armas Nucleares, apoiada pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon”, acrescentou. Envolverde/IPS