Ásia deve crescer 7,3% em 2011, mas 42 milhões de pessoas podem cair na pobreza

Lançado no dia 5 de maio, no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em Brasília, o relatório anual da Comissão Econômica e Social das Nações Unidas para Ásia e Pacífico (Escap, Bangcoc) prevê que os países emergentes devem continuar sendo os motores da economia mundial. A previsão de forte crescimento para a região – estimada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 7,3% para 2011 – fica abaixo da taxa de 8,8% alcançada em 2010, mas confirma o ritmo de recuperação pós-crise dos países asiáticos. No entanto, a perspectiva de crescimento regional está sujeita a riscos e incertezas – a alta de preços dos combustíveis e dos alimentos, as consequências das catástrofes naturais e a volatilidade dos fluxos de capital se colocam como principais desafios.

Além de previsões para o crescimento econômico, o relatório da ONU para a Ásia e Pacífico aborda diversos temas que dialogam com a realidade brasileira, tais como: crescentes taxas de inflação; diversificação da pauta de exportações e transformação estrutural das economias emergentes; desafios para eliminar barreiras ao desenvolvimento do comércio intrarregional; o problema do desemprego que afeta em maior grau os jovens; mecanismos que incentivam a demanda interna dos países.

Pela primeira vez desde o ano de 1957, a principal publicação da ONU para a região da Ásia e Pacífico também será lançada no Brasil, o que demonstra a crescente relevância do país como ator global e seu engajamento com os países emergentes.

Este evento inédito é resultado de uma parceria do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG) em Brasília e o Ipea, contando com apoio da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), o Escritório do Coordenador-Residente da Organização das Nações Unidas no Brasil e o Centro Brasileiro de Relações Internacionais.

Crescimento econômico forte indica recuperação da crise global

Dentre as economias que mais crescem, espera-se da China uma taxa de 9,5% em 2011. Em seguida, 8,7% para a Índia e 6,5% para a Indonésia. As economias da Índia e da Indonésia devem se beneficiar do consumo e investimento fortes, enquanto o governo chinês deve tomar medidas para reorientar mais a economia para o consumo interno.

O desastre natural do Japão em 2011 também terá grande repercussão, embora menor do que inicialmente previsto. O Relatório da Escap estima que um recuo de um ponto percentual no crescimento econômico do Japão pode resultar em uma diminuição de 0,1% no crescimento da região da Ásia e Pacífico como um todo.

“A região Ásia-Pacífico emergiu da crise financeira global como o motor do crescimento e âncora da estabilidade da economia global “, disse a sub-secretária-geral e secretária executiva da Escap, Noeleen Heyzer. “Os países têm agora a oportunidade histórica de reequilibrar a estrutura econômica para sustentar o seu dinamismo e fazer do Século 21 um verdadeiro século da Ásia e do Pacífico”, acrescentou.

Inflação pode levar milhões à pobreza

Apesar do otimismo deste ano, a maioria das economias tendem a sofrer com o aumento da inflação. De certa forma, a alta da inflação reflete a retomada do crescimento, mas é também causada pela recente alta dos preços dos alimentos e combustíveis. Este fenômeno pode provocar impacto prejudicial para as populações pobres e vulneráveis.

Estima-se que a bolha inflacionária pode levar 42 milhões de pessoas à pobreza em 2011, juntando-se aos 19 milhões já afetados em 2010. Em um pior cenário, a duplicação dos preços dos alimentos em 2011 e elevação do preços médios do petróleo para US$ 130 por barril podem forçar alguns países em desenvolvimento a retardar em até cinco anos o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).

Com mais de 950 milhões de pessoas vivendo com menos de US$ 1,25 por dia na Ásia e no Pacífico, o relatório chama atenção dos governos para a necessidade de sistemas de proteção social. No médio prazo, o relatório recomenda aos governos investirem em políticas que ampliem o consumo por meio da oferta de empregos de qualidade e a promoção da agricultura e do desenvolvimento rural.

Cooperação e diálogo político benéficos para Ásia e Brasil

A pesquisa de 2011 mostra ainda que os benefícios do comércio intrarregional ainda não foram totalmente explorados devido às barreiras ligadas a tarifas elevadas. Os países menos avançados da região (LDCs) mantiveram-se à margem da exportação de bens manufaturados nos últimos 40 anos e não se beneficiaram do dinamismo experimentado pela região, devido à falta de capacidade produtiva.

A Escap também aponta a Cooperação Sul-Sul como elemento fundamental para o desenvolvimento da região. Para o diretor do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG), Rathin Roy, “a relação entre o Brasil e os países emergentes da Ásia transcende o estereótipo do Brasil como provedor de commodities e recursos minerais para a industrialização asiática. Para asiáticos e brasileiros, o que importa é garantir melhores condições de vida e oportunidades para os cidadãos de amanhã”. Roy aponta que “este é o desafio do crescimento inclusivo: não o debate entre modelos orientados às exportações e modelos de substituição de importações, mas um caminho para o desenvolvimento a longo prazo que transforme a vida das pessoas”.

Para o diretor do IPC-IG, “a base da cooperação entre os países emergentes da América do Sul e Ásia é um entendimento compartilhado do que é preciso para se alcançar o crescimento econômico com inclusão social. A experiência brasileira é crucial para orientar a Ásia em como abordar esses urgentes desafios”, adiciona o diretor IPC-IG, instituição responsável pelo lançamento do relatório no Brasil.

O relatório da Comissão da ONU para Ásia e Pacífico, lançado pela primeira vez no Brasil desde 1957, destaca alternativas que podem ajudar formuladores de políticas públicas brasileiros. “Existe grande potencial para aprendizado mútuo por meio do diálogo de políticas públicas sobre temas da agenda atual, como o controle da inflação, a volatilidade do mercado financeiro global, a diversificação do comércio e de investimentos, e uma melhor e mais adequada infraestrutura”, conclui Roy.

Para o embaixador José Botafogo Gonçalves, presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, “os dados trazidos a nós pelo lançamento do novo Relatório da Comissão Econômica e Social para a Ásia e Pacífico (Escap) no Brasil são importantes fontes para futuras oportunidades comerciais do Brasil com a Ásia”. O presidente do Cebri no Rio de Janeiro acredita que “com o surgimento de novos players em um mundo multipolar, a Cooperação Sul-Sul torna-se ainda mais importante para a economia brasileira”.

Confira algumas projeções apresentadas pela ONU

* Publicado originalmente pela ONU Brasil e retirado do site Mercado Ético.