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Ásia meridional com esperanças em fórmula da Rio+20

Pescadores atracam seus barcos em uma estreita faixa de areia em Kollam, no Estado indiano de Kerala. Foto: Max Martin/IPS

 

Nova Délhi, Índia, 13/8/2012 – Comunidades localizadas em áreas de difícil acesso da Ásia meridional, que têm em comum um clima incerto e extremo, esperam que o interesse da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) na redução do risco de desastres tenha impacto positivo nas políticas nacionais. “Na Índia, o maior país da região, existe a esperança de que a declaração final da Rio+20, intitulada O Futuro que Queremos, se traduza em uma política nacional antes que seja tarde demais”, declarou à IPS o ex-integrante da Autoridade Nacional de Gestão de Desastres, Vinod Chandra Menon.

Agora consultor de vários órgãos internacionais, Menon disse que a seca severa que assola a Ásia meridional, devido à fraca temporada de monções deste ano, deve levar os dirigentes políticos a “tomar o rumo da Rio+20” e reconhecer que as atividades humanas contribuem para a mudança climática. O documento da Rio+20, realizada em junho no Rio de Janeiro, favorece a integração dessas medidas com o planejamento e as políticas de desenvolvimento sustentável, com o fortalecimento de instituições e com uma melhoria em matéria de preparação, alertas, respostas e recuperação.

“Há décadas há alertas sobre a extração imprudente da água subterrânea, porque não só diminui as reservas de forma drástica como prejudica o sensível ciclo de precipitação, condensação e recarga, com sérias consequências para a agricultura”, explicou Menon. “Não é um disparate afirmar que as dificuldades do setor agrícola, marcadas pelo suicídio de dezenas de milhares de agricultores, sejam consequência da incapacidade de traduzir o conhecimento relativo à mudança climática em políticas”, ressaltou o especialista.

Segundo o analista em temas de emergência G. Padmanabhan, oficial encarregado da unidade de gestão de desastres do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) em Nova Délhi, o valor da declaração da Rio+20 está no chamado por um “renovado sentido de urgência” e por “recursos adequados, oportunos e previsíveis”, para construir comunidades resistentes. “A Ásia meridional está exposta a uma variedade de riscos hidrometeorológicos e está entre as maiores prioridades da lista de medidas para reduzir riscos, especialmente no contexto da mudança climática”, acrescentou.

O chamado para a redução do risco de desastres tem especial relevância para a Ásia meridional, ressaltou Padmanabhan, destacando também a importância de se integrar a redução de riscos de desastres com a adaptação ao aquecimento global. “Em lugar de apenas se concentrar na mitigação e em seus aspectos físicos, a Rio+20 convidou os países a construírem resiliência com um enfoque mais holístico”, afirmou à IPS. Este enfoque também conta com apoio específico.

O Grupo Internacional de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC), vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU), elaborou em 2011 o informe especial Gestão de riscos de eventos climáticos e desastres para avançar para a adaptação à mudança climática” (SREX). O documento diz que eventos climáticos extremos, e inclusive uma série de episódios não extremos, ameaçam a vida e o sustento das populações deixando as comunidades em situação vulnerável, expostas a riscos maiores.

“Um clima mutável modifica a frequência, intensidade, distribuição espacial e duração de eventos climáticos, e pode derivar em episódios sem precedentes”, segundo um estudo feito este ano pela Aliança Clima e Desenvolvimento, no qual há um resumo do SREX desde um ponto de vista asiático. “Mesmo sem contar a mudança climática, o risco de desastres continuará aumentando em muitos países, pois mais recursos e pessoas vulneráveis estão expostos a extremos climáticos. Em termos absolutos, por exemplo, a Ásia tem mais de 90% da população mundial expostos a ciclones tropicais”, acrescenta o documento.

O índice de risco climático (CRI) 2012, compilado pela organização Germanwatch, considera Bangladesh e Birmânia, junto com Honduras, os países “mais afetados” por um clima extremo entre 1991 e 2010. Em Bangladesh, 251 episódios nesses 20 anos deixaram uma média de 7,8 mil pessoas mortas por ano (5,51 em cada cem mil habitantes) e prejuízo de US$ 2,091 bilhões (na paridade de poder aquisitivo, PPA) em igual período. Mais de 80% das causas de morte ocorreram em 1991, quando 140 mil pessoas morreram devido a um ciclone. Na Birmânia, 33 episódios causaram a morte de 7,13 mil pessoas (14,06/cem mil) ao ano, e perda de US$ 659 milhões anuais (em PPA). O Paquistão esteve no topo da lista em 2010 pelas graves secas desse ano.

Segundo o SREX, os desastres importantes afetam o desenvolvimento humano. Por exemplo, as áreas afetadas do Nepal registraram uma queda na matrícula no curso primário e um número maior de menores desnutridos. O Centro Internacional para o Desenvolvimento Integrado da Montanha (Icimod), com sede em Katmandu, fez uma pesquisa em 2010 em 15 distritos de Butão, Índia e Nepal, dentro de um programa do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida).

Segundo este estudo, as comunidades percebem uma redução nas precipitações anuais e no resultante aumento na intensidade de períodos de seca. As comunidades também notaram aumento na irregularidade e intensidade das precipitações, disse à IPS o coordenador do programa, Dhrupad Choudhury. Também registraram invernos mais quentes com queda de neve reduzida.

O documento final da Rio+20 “oferece uma base para a ação”, disse à IPS o diretor-geral do Icimod, David Molden. “Nas montanhas vive apenas 12% da população mundial, e 40% depende delas de forma indireta para ter água, energia elétrica, madeira, biodiversidade, produtos específicos, recursos minerais, lazer e controle de inundações”, afirmou. O professor Saleemul Huq, do Instituto Internacional para a Mudança Climática e o Desenvolvimento, com sede em Daca, Bangladesh, explicou que “o resultado da Rio+20 em matéria de economia verde é uma promessa para Bangladesh, pois permite que o país acredite em seu próprio desenvolvimento verde”.

Por sua vez, o professor J Srinivasan, presidente do Centro Divecha para a Mudança Climática, do Instituto de Ciências da Índia, afirmou que, quando as nações ricas ocidentais ficam excluídas de sua responsabilidade, todos os demais esforços enfraquecem. “O maior gargalo se verifica na postura reticente dos governantes em se conscientizarem de que o atual modelo de crescimento econômico é insustentável e se deve procurar uma forma mais sustentável”, concluiu Huq. Envolverde/IPS

* Com a colaboração de Max Martin.