Bhubaneshwar, Índia, 3/2/2012 – A primitiva tribo juang, na isolada aldeia indiana de Nola, viveu há apenas um mês seus três primeiros partos institucionais, graças a Malay Ranjan Juanga, um “homem ativista pela saúde” encarregado do bem-estar materno-infantil em sua comunidade de 94 famílias.
Como fica a oito quilômetros da estrada principal, a melhor maneira de chegar a Nola é subir a pé a traiçoeira colina de Chandragiri, em cujo ponto mais alto fica a aldeia. Contudo, três mães da tribo – Rasamali Juanga, Chinu Mahakud e Kuiri Juanga – puderam dar à luz seus bebês no centro de saúde comunitário que o governo administra em Harichandanpur, a 30 quilômetros de distância, graças ao apoio de Malay.
Odisha é um dos Estados menos desenvolvidos da Índia, e quase 40% de seus moradores são indígenas, ou pertencem a castas hindus muito marginalizadas, que vivem em aldeias afastadas ou em áreas inacessíveis. Em Odisha, para cada cem mil partos, morrem por ano mais de 258 mulheres, enquanto para cada mil nascimentos morrem 65 bebês, segundo o último Sistema de Registro de Amostragem, a maior pesquisa demográfica da Índia, referente ao período 2007-2009.
“O governo indiano identificou um pacote essencial de medidas que se sabe salvam vidas de mães, bebês e crianças”, disse, da sede da Concern Worldwide, em Nova York, a diretora do projeto Inovações, Patricia Dandonoli. “Estas intervenções são simples e de bons resultados, mas os desafios em sua implantação são tremendos”, afirmou.
Inovações é uma iniciativa que busca ajudar a cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio referentes à redução da mortalidade infantil e materna. A Concern a lançou em Odisha e também em localidades de Malawi e Serra Leoa. O projeto tenta gerar ideias novas e criativas para encontrar soluções em matéria de saúde. E uma das ideias que surgiu foi o papel dos “homens ativistas pela saúde” apoiando as equipes de mulheres credenciadas como promotoras de saúde social em cuidados materno-infantis.
“Por meio do projeto único e emocionante Inovações, chegamos à população de Odisha, conseguindo compreender melhor os problemas e buscar soluções”, contou Robert Mulhall, diretor da Concern em Bhubaneshwar, capital do Estado. Em fevereiro de 2011, o projeto implantado no distrito de Keonjhar colocou 205 homens ativistas no setor da saúde em Odisha. Estes homens trabalharam junto com o grupo feminino, que constituía a pedra fundamental da estratégia da Missão Nacional de Saúde Rural do governo indiano para conseguir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio referentes a mães e bebês.
No contexto da Missão, uma ativista feminina é designada para cada mil habitantes rurais, para ajudar a comunidade criando consciência e promovendo um uso mais intenso dos serviços de saúde existentes, com ênfase no aumento dos partos institucionais. Contudo, em áreas afastadas como Nola, a segurança é uma preocupação real para as mulheres ativistas, que devem estar de guarda à noite ou ajudar em trabalhos de parto nos quais é preciso levar a grávida para centros de saúde distantes.
Na aldeia de Melani, de 298 famílias, o ativista pela saúde Singari Munda colabora nesse aspecto. Quando Rashmita Murmu entrou em trabalho de parto depois da meia noite e não havia transporte hospitalar, Munda caminhou um quilômetro até encontrar um veículo que a levasse para uma clínica situada a 15 quilômetros de distância. Quando a situação de Rashmita complicou, Munda a transferiu para um centro de saúde melhor equipado, em Keonjhar, permaneceu sete dias ao seu lado e depois voltou com mãe e filho para casa, em segurança.
Em uma sociedade patriarcal, as ativistas credenciadas enfrentam o desafio de os homens participarem de assuntos relativos a gravidez e planejamento familiar. Segundo o departamento de saúde e bem-estar familiar de Odisha, em 2011 a relação de esterilizações foi de 44 mulheres para cada homem.
“A promoção do planejamento familiar e os cuidados materno-infantis se dissipou, muito centrada nas mães e sem conseguir a desejada mudança cultural, porque as mães jovens não são as que tomam as decisões”, disse Dharitri Rout, da Organização de Mulheres para a Consciência Sociocultural, sócia do Inovações no distrito de Keonjhar.
“Embora os homens decidam a quantidade de filhos, pensam que não têm nenhum papel a desempenhar na nutrição das mulheres durante a gravidez e a amamentação”, contou Rout. “Agora que os ativistas homens acompanham suas colegas mulheres em suas idas de porta em porta, os maridos saem de dentro de casa e participam, e já não há barreiras” nesse aspecto, acrescentou. Singari Munda disse que um “comitê de homens casados agora se reúne uma vez por mês para debater sobre planejamento familiar e vacinações, embora no começo a assistência fosse escassa”.
Segundo Raj Kumar Ghosh, funcionário governamental da saúde, “a equipe de mulheres ativistas está sobrecarregada, pois a responsabilidade de muitos programas de atenção primária convergem” nestas representantes da sociedade civil. Quando a ativista Puspanjali Nayak, de 22 anos, ficou grávida e precisou deixar de fazer as visitas às famílias, seu colega Ramesh Mohanta interveio para ajudar na aldeia de Bhandaridihi. Certa vez foi preciso levar a aldeã Santi Munda a uma clínica do governo e não havia transporte disponível, então Mohanta a levou em sua moto a um hospital particular a 40 quilômetros de distância.
Ashish Kumar Sen, especialista em saúde do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em Odisha, sugeriu “capacitar os ativistas homens pela saúde para que desempenhem uma função mais ampla, pois o Estado está com falta de pessoal sanitário”. Envolverde/IPS