Aix-en-Provence, França, 31/10/2011 – Movimentos antiglobalização e anticapitalistas se reúnem na França à espera da cúpula do Grupo dos 20 países ricos e emergentes, que acontece esta semana em Cannes. Esta cidade francesa está sob rígida vigilância policial desde ontem e até o dia 4, por isso o Fórum dos Povos recebeu autorização das autoridades francesas para se reunir em Nice, a apenas 32 quilômetros de distância. O Fórum reunirá inúmeros grupos, incluindo a Associação para a Criação de Impostos sobre Transações Financeiras para Ajudar os Cidadãos (Attac), as filiais francesas da Oxfam e do Greenpeace e a organização Ação Contra a Fome.
Sob o lema “As pessoas primeiro, não as finanças!”, os ativistas promovem forte mobilização contra o G-20 e sua política de supremacia financeira. O G-20 reúne as principais potências industriais e economias emergentes de caráter muito distinto: Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Índia, indonésia, Itália, Japão, México, Rússia, África do Sul, Turquia e União Europeia.
“Com uma mobilização potente podemos alterar a correlação de forças”, disse à IPS Valérie Brulant, da Attac. A ativista afirmou que, à luz do movimento de “indignados” iniciado na Espanha e do Ocupe Wall Street nos Estados Unidos, os povos de todo o mundo estão percebendo que a crise econômica e financeira “foi produzida pelos bancos, mas quem paga a conta são as pessoas”.
Antoine Lupera, do comitê executivo do Partido Comunista Francês, disse à IPS, na localidade de Aix-en-Provence, que sua força política participaria do Fórum dos Povos, com o qual compartilha ideais. “Uma das principais lutas é aquela pela emancipação dos homens e das mulheres, e cremos que o sistema no qual se encontra o G-20 é totalmente inadequado para nossa ideia de emancipação”, afirmou.
Este sistema potencializa um pequeno grupo de pessoas e de países com poder econômico e financeiro para fazer basicamente o que querem, como refinanciar bancos e promover o capitalismo, em lugar de promover uma mudança, acrescentou Lupera. Sobretudo, “estão contra um de nossos mais importantes princípios. Os humanos devem estar em primeiro lugar, e isso não acontecerá em uma reunião desse tipo”, disse à IPS.
Para Brulant, o G-20 nunca adotou ações concretas. Uma de suas várias demonstrações de hipocrisia é que carece dos meios para aplicar suas decisões ou para punir os países que não as respeitam, afirmou. “O G-20 não só é ilegítimo, como também é nocivo”, destacou. É ilegítimo porque, embora a crise financeira, econômica e social afete todos os países do mundo, “apenas 20 estão reunidos para solucionar o problema, e os outros 174 não podem dizer nada, o que é inaceitável”. E é prejudicial porque “o G-20 faz tudo para perpetuar o sistema e apoiar os mercados financeiros e a ditadura das finanças. A corrida por lucro no curto prazo está em detrimento das pessoas, dos direitos sociais e ambientais”, acrescentou Brulant.
Gildas Jossec, especialista em regulação financeira e transparência dos grupos de pressão em Aitec (Associação Internacional de Técnicos, Especialistas e Pesquisadores), que participará do Fórum dos Povos, disse à IPS que o sistema bancário deveria dedicar-se a financiar a economia. Assim, “especularia menos nos mercados financeiros e adotaria menos riscos imprudentes”. Jossec também apoiou a ideia de um imposto sobre transações financeiras, que geraria consideráveis recursos para o desenvolvimento e o combate à mudança climática. Porém, o lobby financeiro é um obstáculo.
Entretanto, os ativistas ganham incentivo diante dos crescentes movimentos populares. “Definitivamente, há populações que se informam, se conscientizam, se politizam e pensam na sociedade em que vivemos”, disse à IPS a especialista em meio ambiente da Aitec, Maxime Combes. “A mobilização contra o G-20 em Nice será um momento importante para mostrar ao mundo com um protesto internacional que rechaçamos seu sistema, e que também temos propostas, recomendações, requisitos e vias alternativas que já estão sendo aplicadas, e todas elas serão apresentadas no Fórum dos Povos”, acrescentou. Envolverde/IPS