Johannesburgo, África do Sul, 16/6/2011 – Ao reduzir as exigências de trâmites burocráticos para a entrada de capitais e melhorar as condições políticas, a África subsaariana concentra cada vez mais a atenção dos investidores de fora da região, especialmente da Índia. Especialistas indianos e africanos concluíram, na semana passada, que são inúmeras as oportunidades econômicas para aprofundar os vínculos Sul-Sul. O Instituto de Assuntos Internacionais da África do Sul reuniu especialistas de todo o mundo em Johannesburgo, nos dias 9 e 10 deste mês, para discutir estes temas.

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Stephen Gelg, da Universidade de Johannesburgo.
A redução dos riscos e das possibilidades de conflitos na África subsaariana cria oportunidades de negócios, afirmou Oti Ikomi, diretor de produtos bancários corporativos do Ecobank Group, uma instituição com sucursais em vários países do continente. “Além disso, o produto interno bruto da África cresceu 70%, embora represente 1,76% do PIB mundial. É uma proporção muito pequena, mas o aumento foi substancial. A inflação média caiu de 13,6% em 2008 para 8% no ano passado”, acrescentou.

“A África é a região de maior crescimento, atrás do Oriente Médio e da Ásia. Contudo, o investimento direto estrangeiro é relativamente raso em comparação com o de 2008”, disse Ikomi. Além da situação política favorável, os trâmites burocráticos complicam menos. As condições econômicas, em geral, são mais propícias. “São necessários dois dias e três passos para abrir uma empresa em Ruanda”, ressaltou.

A dívida é baixa se comparada com a do primeiro mundo e o capital deveria ser usado para melhorar as condições africanas. A classe média cresce rapidamente. “Há mais dinheiro para gastar, o que cria maiores oportunidades para os investidores”, disse Ikomi, entusiasmado. Ainda restam alguns problemas, como falta de recursos humanos e de capacidade em matéria econômica. A cooperação entre nações africanas com a Índia e a China ajudará a “melhorar a situação”, segundo Ikomi. No entanto, o vínculo deve ser benéfico para todas as partes.

O comércio entre China, Índia e África do Sul aumenta em ritmo constante, destacou Stephen Gelb, de acordo com estatísticas da Universidade de Johannesburgo. O intercâmbio comercial entre África do Sul e Índia chegou a US$ 18 milhões em 2002, segundo o Banco Central deste país. Em 2009, foi de US$ 342 milhões. Porém, este dado pode ser uma “grave subestimativa” do comércio real entre os dois países, acrescentou Gelb.

“Só o investimento da Tata Holdings gira em torno de US$ 1,6 bilhão”, afirmou Gelb. “Uma grande proporção de investimentos indianos entram por intermédio de Maurício e não aparece no balancete. Isto se faz por razões de impostos”, explicou. “Outro fator pode ser simplesmente que os dados oficiais estejam incorretos, como se vê na discrepância das estatísticas da Índia e da África do Sul”, acrescentou. Isto torna difícil conhecer o verdadeiro valor dos intercâmbios.

Em 2010, havia 93 companhias indianas operando na África do Sul, bem mais do que as 47 da China, diz a pesquisa de Gelb. Além disso, havia 45 sul-africanas na Índia e 32 em território chinês. US$ 4 em cada US$ 10 são investidos no setor fabril sul-africano, embora os países africanos tirem seu dinheiro do setor, segundo Gelb. “Outra tendência interessante é que essas empresas buscam vender em mercados locais e regionais e não em seus próprios países”, acrescentou.

A empresa farmacêutica indiana Ranbaxy Laboratories construirá sua primeira fábrica de medicamentos na África do Sul em 20 anos. “Temia-se que os investidores indianos e chineses importassem trabalhadores”, disse Gelb. “Mas as estatísticas mostram que não é assim. Mais de 90% do pessoal é local”, acrescentou. As percepções frequentemente não condizem com a realidade, e foi o que aconteceu com os investimentos na África, afirmou, por sua vez, Anthony Rayment, diretor-geral da companhia sul-africana Coalmine Holdings.

“O que facilita o investimento de companhias indianas é que na África operam em um ambiente semelhante ao que estão acostumadas. É um mercado emergente, há muito para intercambiar entre o continente e a Índia. Os mercados estão bem regulados”, disse Rayment. A África recebe 12% do investimento estrangeiro da Índia, cerca de dez vezes mais do que a média global. Isto cria competição com investidores ocidentais, que também beneficiam muito o continente. Envolverde/IPS