O atraso escolar é uma das principais restrições ao acesso de jovens brasileiros ao ensino superior, apontou a pesquisadora Cibele Yahn de Andrade, do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (Nepp) da Unicamp, durante seminário apresentado no dia 27, no auditório do Nepp. De acordo com ela, em números absolutos, são mais de 12 milhões de jovens que não ingressaram ou não concluíram sequer o ensino médio, qualificação formal mínima para acesso ao ensino superior. No seminário, que foi organizado pelo Centro de Estudos Avançados (CEAv) da Unicamp, Cibele traçou um panorama da política de acesso à educação superior no país nos últimos 15 anos.
A pesquisadora, que se baseou em seu trabalho de doutorado ainda em andamento, analisou, principalmente, o acesso à educação no Brasil no período de 1995 a 2006, por jovens com idade entre 18 e 24 anos, contingente populacional considerado como demanda adequada para o ensino superior e, por isso, indicador utilizado pelas agências internacionais.
De acordo com ela, o acesso ao ensino superior cresceu muito nos últimos anos, sobretudo no setor privado. “O número de matrículas mais que triplicou no período analisado, passando de 1,5 milhão, em 1991, para mais de cinco milhões em 2009. Apesar disso, menos de 20% da população de referência, na faixa etária de 18 a 24 anos, tem acesso ao ensino superior”, explica Cibele, que utilizou dados das Pesquisas Nacionais por Amostras de Domicílios (Pnads), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Cibele cita mais números para chamar atenção para o fato de que o atraso escolar, no ensino fundamental e no médio, é uma das restrições importantes ao acesso de jovens brasileiros ao ensino superior. “Dos jovens de 18 a 24 anos, 27% não haviam sequer completado o ensino fundamental e outros 27%, apesar de terem completado o ensino fundamental, não ingressaram no ensino médio, ou ingressaram mas não o concluíram. Estes contingentes somados representam mais da metade dos jovens (54%) sem a qualificação formal para ingressar no ensino superior. Em números absolutos são mais de 12 milhões de jovens”, cita.
Uma das conclusões apresentadas pela pesquisadora é que o objetivo de aumentar o acesso de jovens no ensino superior não se satisfaz somente com ações afirmativas e de cotas. Cibele salienta a importância destes mecanismos, mas ressalta que, tão importante como desenvolver ações afirmativas, é estabelecer políticas públicas para aqueles que não completaram sequer o ensino médio, e, por isso, têm seu acesso ao ensino superior restringido.
Outro aspecto reforçado por ela é que “a presença da parcela mais rica da população no ensino superior é muito maior do que dos outros estratos de renda e eles ocupam, proporcionalmente, mais vagas no setor privado do que no setor público”. Esta constatação, segundo Cibele, contraria o senso comum de que os ricos estudam nas universidades públicas e gratuitas, enquanto os pobres têm acesso quase que exclusivamente ao ensino superior privado.
Nesse ponto ela elogia o Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (PAAIS) da Unicamp, primeiro programa sem cotas implantado em uma universidade brasileira que visa a estimular o acesso de alunos da rede pública à universidade. “Os pobres têm tido pouco acesso ao ensino superior no Brasil, mas aqueles poucos que aí chegam ocupam proporcionalmente mais vagas no ensino superior público do que no ensino superior privado. Este fenômeno ressalta a necessidade da ampliação das vagas públicas e gratuitas e em cursos noturnos no sistema do ensino superior nacional”, reforça.
* Publicado originalmente pela Unicamp.