Dizem que avós são pais com açúcar. Não por acaso, dos papéis associados a eles, o mais comum é o de “deseducadores”. Aparentemente os avós, por princípio, estão autorizados a mimar, a “estragar”, a fazer toda e qualquer vontade dos netos sem medir preço nem pesar as consequências.
Embora seja uma ideia tentadora — quem não gostaria de ter avós sem limites para os paparicos? —, desconfio que dentro dela more o embrião de muita discórdia.
Para começo de conversa, acho estranha, e um tantinho perigosa, essa mania de associar educação a desamor. Até porque, se assumirmos, como está subentendido no clichê sobre os avós, que “quem ama deseduca”, precisaremos admitir também, por coerência, o seu oposto: quem educa não ama. Isto, obviamente, não faz nenhum sentido.
Quem ama se preocupa com o objeto do seu amor. Quer que ele se desenvolva bem, com tranquilidade no presente e confiança no futuro. Nesse sentido, os avós, amorosos como costumam ser, podem exercer uma extraordinária influência no que toca à educação financeira dos netos.
Podem começar, por exemplo, compartilhando nestas férias suas histórias de vida: contar para os netos episódios que tenham envolvido definições de prioridades para a conquista de objetivos, a superação de dificuldades financeiras ou até mesmo a resolução de algum dilema ético que tenham vivido (o que foi mais difícil em cada um desses processos? Como essas dificuldades foram superadas?). Partilhar experiências aproxima as gerações e fornece repertório às crianças para lidar com as situações que envolvam a lida com o dinheiro.
Por fim, quando os avós são bem intencionados e não exageram nos mimos apenas para provocar os pais e deflagrar uma disputa insana pelo afeto das crianças, podem ser levados a conter o ímpeto de presentear os netos a todo instante. Para isto, basta que os pais sejam suficientemente persuasivos no esforço de convencê-los a não exagerarem nos agrados que concedem. Assim, de maneira diplomática, os pais transformarão os avós em aliados insuperáveis em doçura e experiência para a plena educação financeira das crianças.
* Cássia D´Aquino é educadora com especialização em Educação Infantil, autora de artigos e livros sobre Educação Financeira. Criadora e coordenadora do Programa de Educação Financeira em inúmeras escolas do país, Cássia é o único membro sul-americano da International Association for Citizenship, Social and Economics Education (IACSEE), organização com sede na Inglaterra.
** Publicado originalmente no blog da autora, Educação Financeira.