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Ban Ki-moon critica exposição exagerada de violência extremista

Rua de Carachi, no Paquistão, após os distúrbios contra o vídeo ofensivo ao profeta Maomé, no dia 21. Foto: Adil Siddiqi/IPS

 

Nova York, Estados Unidos, 26/9/2012 – Os meios de comunicação não deveriam centrar sua atenção nos atos incendiários provocados por fanáticos extremistas, advertiu o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, em referência à cobertura jornalística no Dia Internacional da Paz. A alta comissária para os Direitos Humanos das Nações Unidas, Navi Pillay, também se mostrou descontente com a cobertura da semana passada, afirmando que a melhor forma de lidar com as provocações, incluída a intolerância religiosa, é ignorá-la. É precisamente isso que os meios de comunicação não fazem, ressaltou.

“Atos deliberados e repugnantes como estes deveriam ser privados do oxigênio da publicidade”, disse Pillay, referindo-se à reação no mundo islâmico causada por um vídeo ofensivo ao profeta Maomé, à guerra civil na Síria, aos atentados suicidas no Iraque e Afeganistão e às manifestações violentas no Paquistão, que coincidiram com o Dia Internacional da Paz, comemorado no dia 21.

Em um fórum de alto nível, o diretor-geral da IPS, Mario Lubetkin, recordou que a Assembleia Geral da ONU, em sua Declaração sobre uma Cultura de Paz, fez um chamado por um melhor entendimento, à tolerância e à cooperação entre os povos, mediante, entre outras coisas, um apropriado uso da tecnologia e do fluxo de informação. A resolução, adotada por consenso em 1999, também apoia o importante papel e a contribuição da mídia na promoção de uma cultura de paz e garante a liberdade de imprensa, bem como de informação e comunicação.

Poderão ser feitas muitas análises sobre as mudanças tecnológicas que experimentaram os meios de comunicação, especialmente a internet, nos últimos anos, mas, sem dúvida, “podemos assegurar que os valores e as ideias que a Assembleia Geral promoveu em 1999 continuam sendo totalmente válidos na atualidade, em setembro de 2012”, afirmou Lubetkin.

Porém, não se trata das ferramentas mas do conteúdo que se transmite, pois os caminhos se multiplicaram de forma exponencial e isto não pode ser tarefa de uma única organização, comunidade ou país, acrescentou. “Trata-se de ter a capacidade de gerar todo tipo de associação para impulsionar ideias de comunicação participativa, de criar maior consciência sobre assuntos relacionados à cultura de paz em mais milhões de pessoas”, explicou Lubetkin.

“Quando decidimos associações, não pensamos apenas nas ações dos meios de comunicação que, sem dúvida, são o elemento fundamental. Nossa experiência nos mostra que estamos em uma etapa na qual mídia, sociedade civil, organizações nacionais e internacionais devem se associar de forma ativa, pois a comunicação é responsabilidade de todos, não apenas de especialistas”, acrescentou o diretor-geral da IPS.

Natalie J. Goldring, pesquisadora do Programa de Estudos sobre Segurança, da Faculdade Edmund A. Walsh de Serviço Exterior, da Universidade de Georgetown, disse à IPS que, no melhor dos casos, os grandes meios de comunicação funcionam como intermediários, investigam acusações de governos e cidadãos com o poder de disseminar os resultados e obrigar a assumirem suas responsabilidades.

Entretanto, “infelizmente, muitos jornais reduziram sua cobertura mundial nos últimos anos. Alguns, inclusive, fecharam seus escritórios internacionais. Os grandes veículos parecem apontar cada vez mais para realizar um acompanhamento noticioso, em lugar de prestar atenção de forma consistente nos grandes assuntos globais importantes”, pontuou Goldring, que também representa o Acronym Institute.

Para esta especialista, o conceito de uma cultura de paz integra temas de desarmamento, resolução de conflitos e segurança humana. É uma tarefa incrivelmente ambiciosa, mas também extremamente importante. Cada um dos assuntos exigirá um esforço sustentado da comunidade internacional. Os meios de comunicação também podem contribuir nos esforços para o desarmamento, cobrindo, e frequentemente amplificando, o trabalho de organizações não governamentais, acrescentou.

Infelizmente, muitos veículos dão maior atenção e maior credibilidade às declarações de governos do que às de ONGs, lamentou Goldring. Estas ações realizam um trabalho fundamental no terreno, procurando prevenir conflitos, reduzir os custos quando estes eclodem, e ajudar na resolução dos mesmos. Também são responsáveis por concentrar a atenção internacional em questões como o generalizado e ilícito comércio de armas pequenas e leves e a devastação que isto causa, ressaltou. Compartilhar histórias de sucesso em uma região pode melhorar as perspectivas de êxito em outras. Os veículos de comunicação podem proporcionar a informação necessária para colaborar com esses esforços, insistiu Goldring.

Cora Weiss, presidente do Chamado pela Paz de Haia e atual representante na ONU do Escritório Internacional pela Paz, declarou à IPS: “O espantoso apoio que a IPS deu ao Fórum de Alto Nível sobre Cultura de Paz, por certo, ajudou a mobilizar as multidões que lotaram a Assembleia Geral e, depois, as salas de conferência”. Após assinalar algumas das ameaças que pairam sobre a paz, incluindo o grande gasto militar, o aquecimento global e a violência contra as mulheres, Weiss disse aos delegados que também há boas notícias.

Índia e Paquistão assinaram um novo acordo de vistos, bem como o governo da Colômbia e as guerrilhas das Farc dão passos concretos em busca da paz, após quase 50 anos de confronto armado. Chile, Cuba, Noruega e Venezuela colaboram para que as negociações entre Bogotá e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia possam finalmente prosperar. “A ONU decretou o fim da escravidão, do colonialismo e do apartheid (na África do Sul). Chamou pela unanimidade por uma Cultura de Paz, e sua missão é salvar as futuras gerações do flagelo da guerra. É hora de abolir a guerra”, enfatizou Weis. Envolverde/IPS