A responsabilidade social empresarial teve um grande impacto e tornou as empresas mais conscientes de seu papel na sociedade e do impacto de suas ações, mas esse é apenas o começo daquilo que se espera que seja a maneira de fazer negócios no futuro. Discutir essa economia mais voltada para a base da pirâmide é o objetivo do painel Modelos de Negócios para a Nova Economia, que acontece dia 16 de junho, a partir das 16h30, no Fórum de Empreendedorismo Social, no Forte de Copacabana, Rio de Janeiro.
Segundo Carmen Correa, responsável pela área de Mercados Inclusivos da Avina, “atualmente existem diferentes modelos, mas estamos nos referindo a negócios inclusivos que podem ser incluídos na cadeia de valor de grandes empresas e que possam facilitar o acesso dos pobres aos bens e serviços de necessidades básicas, assim como o acesso a produtos ou serviços que os capacitem para gerar oportunidades de negócios e melhor qualidade de vida”, disse.
Uma das palestrantes do painel, Carmen acredita ser necessário construir um ecossistema voltado ao desenvolvimento de negócios insclusivos, com um número maior de instituições e plataformas para facilitar e apoiar o desenvolvimento dessas empresas e incentivo ao investimento de impacto, pois não há regulamentações que facilitem e promovam os mercados inclusivos. “Entre os desafios, estão encontrar atores que atuem como ligação entre o negócio e a base da pirâmide. Geralmente, são os atores da sociedade civil que compreendem as necesidades e idiosincrasias de ambos os mundos e são capazes de articular e facilitar a ligação entre os dois setores”.
Determinar quem paga os custos iniciais e o apoio técnico, incluindo o monitoramento, e quais iniciativas devem ser escolhidas também são questões a serem consideradas, assim como facilitar o acesso ao financiamento e asegurar que o negócio seja lucrativo desde o início.
Entre os princípios para o desenvolvimento de modelos de negócios inclusivos, Carmen defende que as iniciativas devem ser lucrativas para o empreendedor e operar na economia de mercado, ou seja, atender às demandas existentes e em conformidade com padrões de qualidade local. “As empresas devem ser ambiental e socialmente responsáveis e gerar impacto real na melhoria da qualidade de vida das camadas mais pobres da população.”
Empreendimentos
Segundo Carmen Correa, a Avina está criando um portfólio de negócios inclusivos, com casos como o da Kiej das Florestas, empresa da Guatemala que produz bijuterias, principalmente colares, pulseiras e pingentes têxteis, para exportação. A empresa foi criada em 2004 com a visão de implementar uma estratégia inovadora, combinando ação de mercado à geração de emprego rural. A exportação dos produtos começou formalmente no final de 2008 e tem tido um aumento exponencial. Os produtos são concebidos para os mercados mais exigentes e vendidos, através de atacadistas e varejistas, para os Estados Unidos, países da América Central, Espanha, Austrália, Dinamarca Irlanda, entre outros. Em 2010, foram comercializadas cerca de 70.000 unidades.
Outro exemplo é a Floralp, uma empresa familiar dedicada à produção de leite e queijos gourmet, com operações no Equador, desde 1964, com quatro pequenas usinas localizadas no norte do Andes, e no Peru, desde 1999, na região de Oxapampa. A partir deste ano, começará a operar também na Colômbia. O princípio da empresa, que tem crescido 10% ao ano nos últimos 5 anos, é trabalhar em estreita colaboração com os fornecedores de leite, o que começou há 14 anos com um programa de desenvolvimento da pecuária responsável, que incluía questões como qualidade e produtividade, e chegou à formação de um modelo que visa agregar valor à relação de negócios. O processo levou os produtores a formar centros de coleta, com controle de qualidade e gestão comunitária de tanques de resfriamento, que significaram aumento da produção com os mesmos recursos e o uso das receitas excedentes em outras atividades.
* Maura Campanili é jornalista.