“Batendo na lata para não apanhar na vida”, um projeto cultural que transforma lixo em música

ONG utiliza ritmos da cultura brasileira e atende atualmente 350 crianças da periferia de São Paulo.

Sucatas que se transformam em lixo. Este é o trabalho que o grupo Arte na Lata desenvolve, desde 2004, nas periferias de São Paulo. Um projeto cultural que usa latas de alumínio, tampinhas de garrafa, canos de PVC e diversos outros “lixos” que viram instrumentos alternativos. O grupo, que atualmente atende 350 crianças na cidade de Osasco, ampliará, a partir de abril, seu trabalho com mais 150 crianças na região de Carapicuíba.

Os ritmos tocados são tradicionais da cultura brasileira, que vão desde o samba, rap e funk, até o baião e toques de carnaval. A experiência também é desenvolvida por meio de sons emitidos pelo corpo e conta com uma banda formada por baixo, guitarra, violão, cavaquinho e DJ. Suas apresentações são realizadas com letras próprias, que trazem uma conscientização em relação ao meio ambiente, sexo seguro e ao não uso de entorpecentes.

Jotta Ribeiro, coordenador geral do Arte na Lata, conta que a ideia de criar o movimento surgiu da preocupação de ocupar a mente dos jovens para o bem social, fomentando arte, cultura e educação que, na visão dele, os auxiliaria a encontrar, por meio da música e da socialização, aquilo que lhes falta.

“A mudança que ocorre nos jovens que passam pela entidade é a transformação de sua consciência por meio de ferramentas educacionais, as quais estão sempre personalizadas à sua linguagem, de uma maneira fácil, lúdica e repleta de descontração, para que o jovem sinta vontade de retornar à entidade e saber que, aquele dia, é dia de vir para o Arte na Lata.”

O grupo, que já foi três vezes à Europa e duas ao Uruguai, também participou do livro Dias de Paz, de Gabriela Athias, uma premiação concedida pela Unesco. Conquistou espaço na imprensa, participou de fóruns culturais e mantém um programa de web TV na TNI Brasil, canal que dá oportunidades para grupos musicais e artistas em geral demonstrarem seus trabalhos.

“Neste ano, queremos, por meio da Lei de Incentivo, gravar um DVD e um documentário contando a nossa história, pois são sete anos de alegrias e tristezas, das quais tiramos forças diariamente devido ao reconhecimento da comunidade.”

A mensagem que a ONG leva até as comunidades, segundo Jotta, é para que os jovens aproveitem a oportunidade que a organização não governamental oferece, na maioria das vezes, gratuitamente. Ele ressalta também que a perseverança, a força de vontade e o otimismo são forças que devem estar junto com as lutas diárias diante das dificuldades que a vida impõe, além da necessidade da leitura e do estudo que amadurecem e preparam os jovens para uma vida mais digna.

“A oportunidade sempre está em suas mãos, e nem sempre vem no momento que desejamos, mas quando vem, temos que estar preparados para recebê-la. A vida dá pra gente o que a gente dá pra vida.”

* Publicado originalmente no site Brasil de Fato.