O Robô Ed (em referência às iniciais das palavras “energia” e “desenvolvimento”) foi criado em 2004 pelo Ministério de Minas de Energia (MME), com suporte técnico da Petrobras, para “conversar” em tempo real com internautas sobre “ações de conservação de energia e cuidados com o meio ambiente”. Apesar de suas aparentes boas intenções, nas últimas semanas Ed tornou-se objeto de polêmica no Congresso Nacional. Segundo o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), o robô teria sido “programado de forma conveniente ao PT”, pois, quando questionado sobre o ex-presidente Lula, respondeu que “Lula foi presidente do Brasil por dois mandatos consecutivos: 2002-2006 e 2006-2010. Seu governo obteve cerca de 80% de aprovação da população brasileira e foi internacionalmente reconhecido”. Porém, quando perguntado se Fernando Henrique Cardoso foi um bom presidente, respondeu: “Não falo sobre política. Política é como religião ou futebol. Não se discute” (depois de feita a denúncia, o robô foi reprogramado para, feita esta pergunta, dar o currículo de FHC. Clique aqui para ver esta conversa original no site Kibeloco). Segundo o senador, seria necessária uma investigação sobre os detalhes da programação do robô, pois a “história do país corre o risco de ser escrita de forma incorreta”.
Apesar de concordar com o senador paraense quanto aos riscos potenciais da programação do androide federal, este é um problema menor. Temos inúmeras fontes de carne e osso para discutir as semelhanças e diferenças entre os ex-presidentes. E mais importante que rever o passado é discutir os rumos que estamos dando ao nosso país no presente. Especialmente no que se refere a “energia e desenvolvimento” – temas que os técnicos do MME se negam a debater abertamente com a sociedade, de forma a proporcionar possibilidades reais de alterações de rumos políticos e de planejamento. Ainda mais grave no que se refere aos planos de construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu.
Impossibilitados de discutir esses assuntos com o governo, os professores da Universidade Federal do Pará, Rodolfo Salm e José Eduardo Martinelli Filho, preocupados com os inevitáveis impactos da barragem, entrevistaram o Robô Ed em 16/4/2011. Confira a seguir.
Robô Ed: Olá! Meu nome é Ed, estou aqui para ajudar na preservação de energia e de outros recursos naturais. Sobre o que você quer conversar?
RS e JM: Sobre o projeto da hidrelétrica de Belo Monte
Robô Ed: Sabe o que é uma usina hidrelétrica? É um local de geração de energia elétrica a partir da água. Funciona assim: a correnteza de um rio é direcionada para a usina, passa por tubos enormes em alta velocidade e assim faz girar uma turbina, que, ligada à chamada Casa de Força, transforma este movimento em eletricidade. A mesma que “sai” da tomada onde seu computador, TV, videogame, chuveiro, etc. estão ligados.
RS: Sim, sei. Moro em Altamira, onde se pretende construir a terceira maior hidrelétrica do mundo: Belo Monte. Minha preocupação é com esse direcionamento da correnteza do rio para as turbinas. Que, para ser possível, causaria grandes transformações ecológicas, com terríveis consequências para o ecossistema. Fora uma série de impactos indiretos que seriam extremamente graves no caso de Belo Monte, no Xingu.
Ed: O impacto ambiental das PCHs é bem menor que o das grandes barragens.
RS: Ed, eu estou falando de uma grande barragem. Belo Monte!
Ed: Para construir uma hidrelétrica onde não há rios com desnível natural, o jeito é usar barragens e desvios no leito dos rios. Para avaliar o impacto ambiental dessa alteração da natureza é que foi criado o EIA (Estudo de Impacto Ambiental).
RS: Avaliar o impacto ambiental e decidir se o empreendimento vale a pena ou não? Parece que todas as decisões já estavam tomadas antes da realização dos estudos! Mas falemos de Belo Monte…
Ed: Impacto ambiental é qualquer alteração que afete os recursos ambientais. Quando o ser humano altera o ambiente, provoca impactos que afetam plantas, animais e o próprio homem. Estes impactos ambientais podem ser positivos ou negativos. É bom estar sempre alerta para evitar impactos nocivos!
JM: OK, mas quanto a Belo Monte?
Ed: Belo Monte é uma usina hidrelétrica a ser construída no Rio Xingu, no Pará, com uma potência de 11.233 MW.
JM: Você quer dizer “potência instalada”, porque devido à fortíssima sazonalidade climática do Xingu, na média, Belo Monte produziria bem menos que a metade desse total.
Ed: Potência instalada (Pi) é a somatória das potências máximas dos aparelhos de utilização instalados, expressa em kW ou kcal/h.
JM: Mas não foi isso o que eu perguntei…
Ed: Então o que foi que você perguntou?
JM: Sobre os efeitos indiretos da barragem sobre a floresta e o Rio Xingu.
Ed: Se não cuidarmos dos bosques e florestas, eles correm o risco de desaparecer. E não é tão complicado como parece! É possível até extrair petróleo de uma floresta tropical sem lhe causar danos irreversíveis. A Petrobras consegue.
RS: Mas apenas com o anúncio da construção no governo anterior, Altamira já se tornou o município que mais desmata em toda a Amazônia brasileira. Isso apesar de todo o discurso verde do governo. Então, como que você diz que não é complicado?
Ed: Proteger a Amazônia do desmatamento é fundamental. Além de abrigar a mais exuberante floresta tropical e a maior rede hidrográfica do planeta, a Bacia Amazônica abriga cerca de 30% da biodiversidade terrestre mundial e desempenha um papel importante no ciclo das águas.
RS: Justamente por isso que seguimos lutando contra a esta obra.
Ed: Então tá.
JM: Tá o que?
Ed: O que? Neste momento, tô pensando nuns projetos.
RS: Que projetos?
Ed: Os principais projetos do Conpet são: Projeto Economizar, Projeto Transportar, Projeto Parada Economizar, o Conpet na Escola, o Programa Brasileiro de Etiquetagem.
RS: Mas e os impactos de Belo Monte?
Ed: Belo Monte é uma usina hidrelétrica a ser construída no Rio Xingu, no Pará, com uma potência de 11.233 MW.
RS: Você já falou isso.
Ed: Já falei mesmo? Desculpe, nem reparei. É que às vezes fico meio empolgado…
RS: Sim, você repete essa coisa dos 11 mil MW sem reconhecer que essa usina seria um desastre econômico, ecológico e social. E que também geraria pouca energia considerando-se os seus custos. Tudo bem, você é um robô, programado para fazer isso mesmo. O mais grave é que os seus chefes, supostamente dotados de inteligência real, seguem o mesmo padrão robótico.
Ed: Sou um robô e como todo robô possuo uma série de programas instalados em mim.
RS: Da mesma forma como os técnicos do governo que vieram a Altamira participar das audiências públicas sobre a barragem.
Ed: Se você deseja participar dos projetos do Conpet, entre em nosso site e mande sua mensagem pela sessão Fale Conosco.
RS: Pelo menos aqui não temos as polícias que na ocasião trataram a população como bandidos.
Ed: Sonho com um mundo sem violência entre os seres humanos. No meu planeta somos bem pacíficos.
RS: Que cínico!
Ed: Não sou cínico. Não curto cinismo.
RS: Mas parece…
Ed: Pois é. O problema é que às vezes parece, mas não é.
* Rodolfo Salm e José Eduardo Martinelli Filho são professores da Faculdade de Biologia da Universidade Federal do Pará em Altamira, à beira do Rio Xingu, onde se pretende construir a hidrelétrica de Belo Monte.