Os brasileiros não ganharam apenas mais renda na última década. Ganharam também consciência ambiental. Afinaram a bússola que capta boas ações para a vida do planeta. As atitudes das empresas em relação à sustentabilidade tornaram-se significativas no momento de escolher o que vai ser levado para casa.
Ações para o consumo consciente estão nas redes sociais, onde o palco é aberto para informações que nos atingem na velocidade de um piscar de olhos. Os crimes ambientais, exploração humana e práticas abusivas contra o planeta viram assunto mundial em um segundo.
Do outro lado da tela, as organizações já perceberam que sua reputação está entre os seus maiores ativos. “As redes sociais têm uma grande força entre os consumidores e, por isso, cada vez mais as empresas contratam funcionários para monitorar o que está sendo dito sobre elas”, observa o indiano Nikhil Chandavarkar, chefe de comunicação para disseminação do desenvolvimento sustentável do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da Organização das Nações Unidas (ONU).
Mundo afora, as redes sociais se tornaram parceiras de ativistas em prol do consumo consciente, e no Brasil não é diferente. A internet abriu espaço para os consumidores, que podem seguir e divulgar o comportamento das empresas brasileiras – um verdadeiro palanque aberto para compartilhar denúncias e, ao mesmo tempo, aprovar boas práticas.
Segundo Chandavarkar, o principal sinal de que as empresas brasileiras estão mais preocupadas com as informações sobre suas práticas é que, em uma lista de aproximadamente 50 países, o Brasil está em 13º lugar entre aqueles que produzem relatórios seguindo padrões internacionais de sustentabilidade. “Entre 80 mil empresas multinacionais, apenas quatro mil produzem esses relatórios”, compara.
O especialista da ONU que nasceu na Índia, vive nos Estados Unidos e já morou no Brasil, se considera um cidadão do mundo. Ele, que esteve em Belo Horizonte em maio e voltou ao país na Rio+20, lembra que, na última década, quase 30 milhões de brasileiros deixaram a pobreza. “A população ganhou mais renda e consciência ambiental”, garante, destacando a importância das redes sociais na formação da reputação de empresas.
A juventude, segundo Chandavarkar, utiliza o mundo virtual para se comunicar e calcular sua “pegada ambiental”, uma matemática moderna que diz ao cidadão o impacto que ele e seus vizinhos (incluindo empresas) geram no planeta. Grandes usuários das redes sociais, os ativistas ambientais de organizações como o Greenpeace têm milhares de seguidores. Seus posts são compartilhados, marcados e replicados centenas de milhares de vezes em poucos minutos, divulgando ideias e imagens em velocidade surpreendente.
A página do grupo Greenpeace no Facebook é acompanhada de perto pela advogada Juliana Lobato, que mora em um condomínio com grande área verde, em Belo Horizonte. Ela aderiu à proposta de reunir pessoas interessadas em proteger as florestas e também divulgou nas redes uma campanha pelo veto ao Código Florestal Brasileiro como foi aprovado no Congresso Nacional. Além de encampar as ideias, a advogada repassa as mensagens para seu grupo de amigos e colabora para que o movimento ganhe força.
Mas não é só isso. Engajada nas questões ambientais, Juliana também aproveita as redes para divulgar ações públicas e protestos contra maus tratos a animais. Para ela, empresas denunciadas por práticas negativas em relação ao trabalho humano também não têm vez na sua lista de compras. “O meio ambiente abrange todo o planeta, não são apenas os animais e as florestas. O ser humano faz parte dele”, argumenta.
Ana Wilheim, diretora executiva do Instituto Akatu (instituição voltada para o consumo consciente), diz que os brasileiros estão se apoderando mais das redes sociais para movimentar ações de consciência ambiental. Ela cita uma pesquisa do Akatu, que apontou que 60% dos consumidores brasileiros estão atentos para saber se as empresas fazem mais do que diz a lei. “O consumidor tem mais informação disponível, o que o deixa mais crítico e atento.”
Por outro lado, Ana lembra que sensibilizar o jovem brasileiro ainda é um grande desafio, principalmente no momento em que a economia aquecida está gerando uma nova classe média. “É preciso pensar que o consumo consciente é tão importante quanto trabalhar e ganhar o próprio dinheiro”, alerta. Em contrapartida, as crianças estão tendo mais acesso a informações em uma idade na qual a absorção de valores é duradoura. Ana acredita que, em dez anos, o país pode experimentar uma revolução de valores.
Mãe de Vitor, nove anos, e Bruna cinco, Juliana Lobato concorda. Em plena infância, os meninos já absorveram conceitos de economia de energia e água, de reciclagem, reaproveitamento, compostagem de lixo. E, no Facebook da mãe, Vitor já compartilha ideias como a dos amigos da floresta. Já é um pequeno colaborador da natureza.
* Matéria publicada na edição especial A Sustentabilidade do Futuro, da revista Encontro ed.132.
** Publicado orignalmente no site Akatu.